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Bolsonaro devia dar exemplo, mas tem pior atitute, dizem especialistas

Jurema Werneck em depoimento à CPI da Covid - Jefferson Rudy/Agência Senado
Jurema Werneck em depoimento à CPI da Covid Imagem: Jefferson Rudy/Agência Senado

Rayanne Albuquerque

Do UOL, em São Paulo

24/06/2021 12h43Atualizada em 24/06/2021 16h16

O epidemiologista Pedro Hallal disse em depoimento como convidado à CPI da Covid que a postura do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) diante das ações para evitar o avanço da pandemia é a "pior de todas" observadas do ponto de vista da ciência.

Os senadores e senadoras em muitas oportunidades conseguem defender ações do Ministério da Saúde, mas não tem como defender aglomerações sem máscaras e uma série de atitudes adotadas pelo Presidente da República. Infelizmente, a postura do presidente da República, como líder maior da nação, é a pior de todas as posturas que nós observamos enquanto cientistas durante essa pandemia
Pedro Hallal

O professor da UFPel (Universidade Federal de Pelotas) também comentou que, apesar de concordar e discordar de uma série de posturas do atual ministro da Saúde Marcelo Queiroga e dos demais ministros que geriram a pasta durante a gestão de Bolsonaro, o principal causador de infrações negacionistas é o próprio presidente.

Ministro Mandetta, Teich e Pazuello e Queiroga, por mais que eu tenha tanto críticas quanto elogios aos ministros, os principais sinais de negacionismo no Brasil não foram dados por nenhum dos quatro ministros, foi diretamente do Presidente da República
Pedro Hallal

Ao lado de Hallal, a médica e diretora da Anistia Internacional, Jurema Werneck, disse à Comissão Parlamentar de Inquérito que cientistas como ambos têm sido atacados pela gestão federal para que sejam silenciados. A médica acredita que a perseguição deve ser levada em consideração pelo colegiado da CPI para que seja "reprimido com veemência".

É preciso que mecanismos sejam criados para que cientistas respeitados, como Pedro Hallal, ou qualquer pessoa que tenha opinião divergente, não seja vítima de silenciamento. A liberdade de expressão é um direito
Jurema Werneck

A fala de Werneck foi dita após Hallal declarar em depoimento que foi censurado pelo Ministério da Saúde durante uma apresentação que apontava que povos indígenas e negros têm mais chances de se contaminar e morrer por covid-19 que pessoas brancas.

A apresentação, segundo o epidemiologista, ocorreu no Palácio do Planalto, em uma coletiva de imprensa, e que o material dele foi alterado por assessores do Ministério da Saúde, para que os dados do painel de monitoramento EPICOVID não fossem revelados.

Em resposta ao vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Hallal afirmou que o ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde, Elcio Franco, tenha pedido para que as informações do slide fossem removidas.

Então antes que tenha outra informação, foi dele a decisão de que aquele slide mostrando a desigualdade étnico-racial não poderia ser apresentado no Palácio do Planalto
Pedro Hallal

Incluímos as declarações repercutindo o vídeo de Bolsonaro no RN.

"Lideranças devem ser exemplo"

Na manhã de hoje, o presidente Bolsonaro esteve em um evento em Jucurutu, no Rio Grande do Norte, pediu para que uma menina de 10 anos tirasse a máscara de proteção individual contra a covid-19. A medida sanitária é recomendada pelas autoridades de saúde contra a pandemia.

O ato ocorreu quando a criança recitava uma poesia na abertura da cerimônia. Na mesma ocasião, Bolsonaro voltou a atacar a imprensa e negou as supostas irregularidades investigadas pela CPI da Covid sobre a aquisição da vacina indiana Covaxin.

A respeito desse evento, Jurema Werneck destacou que as lideranças políticas devem ser um "exemplo", ao invés de propagarem "curas milagrosas", principalmente durante a pandemia.

Qualquer liderança eleita ele tem conjunto de votos até o dia antes da posse. A partir da posse, ele representa o conjunto da população para que ele foi eleita. Somos no BR mais de 200 milhões de habitantes e a vida de todos merece ser salva. É um dever, é uma responsabilidade
Jurema Werneck

* Com a colaboração de Gabriel Toueg

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.