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Laboratórios são de confiança, diz Heinze sobre lobby por veterinárias

Rayanne Albuquerque, Hanrrikson de Andrade e Luciana Amaral

Do UOL, em São Paulo e em Brasília

19/08/2021 13h20Atualizada em 19/08/2021 13h38

O senador governista Luis Carlos Heinze (PP-RS) defendeu o uso de laboratórios veterinários para a produção de vacinas contra a covid-19. A intenção seria produzir o imunizante indiano Covaxin por meio de empresas que tem como foco a saúde animal. Durante a sessão de hoje da CPI da Covid, Heize, que é membro titular do colegiado, rebateu uma matéria da Folha de S. Paulo e disse estar "indignado" com a divulgação das informações.

Integrantes da Precisa afirmaram à Folha que a empresa havia assinado três acordos de confidencialidade para viabilizar a produção de vacinas plantas industriais de produtos animais. De acordo com o senador, houve um "vazamento de informações".

Heize declarou ainda que a intermediação com os laboratórios foi realizada com base em doutores do Rio Grande do Sul. O parlamentar, no entanto, não citou nomes, nem deixou claro quais seriam as especializações médicas dos profissionais citados por ele.

Consultei doutores do meu estado e me aconselharam que os laboratórios são de altíssima confiança
Luis Carlos Heinze

Para a Comissão Parlamentar de Inquérito, o senador disse que a matéria da Folha de S. Paulo traz uma leitura que ele classificou como "irresponsável" sobre o uso de veterinárias para produzir vacinas para humanos.

O governista disse ainda que tem sido alvo de perseguições desde que começou a se dedicar "incansavelmente" na busca por remédios para combater a covid-19.

Também sou alvo de tentativa de perseguição, de calúnia e difamação. Estas tentativas de me calarem não obterão êxito algum, Indicam que estou incomodando interesses alheios
Luis Carlos Heinze

Alinhado ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), Heinze é defensor do "tratamento precoce" por meio do uso de cloroquina, medicamento comprovadamente ineficaz para o combate da covid-19.

Ponte com a Precisa Medicamentos

O lobby feito por Heinze para a inclusão de empresas do setor veterinário na produção de imunizantes contra o coronavírus ocorreu durante negociações que incluíram a Precisa Medicamentos.

A empresa é investigada pela CPI da Covid no Senado Federal por conta do contrato de R$ 1,6 bilhão fechado entre o governo federal para a compra da Covaxin, como ainda por um histórico de medicamentos pagos, mas não entregues, ao Ministério da Saúde. A empresa tem como sócio-administrador Francisco Maximiano, que presta depoimentos hoje ao colegiado.

A Precisa representava no Brasil a farmacêutica indiana Bharat Biotech. A negociação foi encerrada após denúncias de irregularidades e a constatação de fraude nos documentos encaminhados pela Precisa ao Ministério da Saúde, como a emissão de documentos não autorizados pela Bharat.

Operação Falso negativo

A Precisa Medicamentos também é alvo da Operação Falso Negativo que investiga irregularidades na venda de testes rápidos para diagnósticos da covid-19. O fornecimento havia sido estabelecido com o governo do Distrito Federal.

O caso virou alvo de investigação após o MP-DFT (Ministério Público do Distrito Federal e Territórios) fazer uma denúncia contra 15 pessoas, entre as quais está o ex-secretário de Saúde do DF Francisco Araújo Filho.

Precisa Medicamentos

A Precisa Medicamentos foi fundada em 1999 como uma farmácia, a Drogaria Precisa, localizada em Santos, no litoral Paulista. Maximiano passou a integrar o negócio em 2014, quando comprou a empresa da Orizon, que integrava os negócios do grupo Bradesco.

O campo de atuação da empresa junto ao governo federal era o fornecimento de preservativos para o SUS (Sistema Único de Saúde). Em novembro de 2020, o Ministério da Saúde contratou o envio de 5 milhões de unidades de preservativos por R$ 15,75 milhões.

No caso dos preservativos, a Precisa tem como fornecedor uma outra fabricante indiana, a Cupid. Esse contrato foi assinado pelo DLOG (Departamento de Logística em Saúde).

O setor era liderado por Roberto Ferreira Dias, demitido do cargo após ser acusado por um empresário de cobrar propina para firmar a compra de 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.