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Professor da USP critica reabertura e prevê sobrecarga do sistema de saúde

Epidemiologista diz que Brasil deveria esperar queda nos números de caosos e mortes para permitir flexibilização - Michael Dantas/AFP
Epidemiologista diz que Brasil deveria esperar queda nos números de caosos e mortes para permitir flexibilização Imagem: Michael Dantas/AFP

Do UOL, em São Paulo

04/06/2020 08h53Atualizada em 04/06/2020 09h32

O professor e epidemiologista da Universidade de São Paulo (USP) Paulo Lotufo disse que o afrouxamento das medidas de isolamento social para reabrir a economia vai sobrecarregar o sistema de saúde e, ainda, impactar ainda mais as comunidades das periferias.

"À medida que há aumento de casos, sobrecarregam-se mais ainda os leitos de hospitais, e quem não estava sendo atendido continua sem atendimento. Vamos ter um reflexo muito duro", avaliou o professor em entrevista publicada hoje pelo jornal O Globo.

Lotufo criticou os governadores dos estados que estão fazendo um movimento de reabertura, mesmo com restrições e medidas de higiene. O professor citou que os outros países fizeram isso quando o número de casos oficiais e mortes pelo coronavírus estavam reduzindo — enquanto o Brasil vive uma aceleração nos números.

"Todos os outros lugares fora do Brasil foram reduzindo o grau de isolamento no momento em que se reduzia o número de casos. Aqui, nós não estamos nem estáveis, mas ainda vendo aumentar número de casos e mortes. Não tem lógica nenhuma o que tem sido feito pelos governadores", analisou.

Ele defende que os governadores deveriam ter feito um isolamento radical, mas curto. "Estaríamos saindo agora para uma situação muito melhor. Nosso tempo de epidemia já ultrapassa o de outros países, e com curvas ascendentes", disse.

Com a volta de alguns serviços, segundo Lotufo, o morador da periferia é quem estará mais exposto aos riscos da doença. "As pessoas que têm mais condições vão continuar fazendo isolamento, mas serão poucas. Quem vai sair é quem tem menos condição de aguentar isso aí, porque vai ter que voltar ao trabalho. Uma pessoa que trabalha em uma loja, por exemplo, vai ter que sair, pegar ônibus, metrô, andar em elevador. A chance (de contrair o vírus) vai ser maior", destacou.

Em São Paulo, o professor questionou a ocupação dos leitos de UTI. "A taxa de ocupação não está aumentando, mas eu diria que não é bem assim. Está correto, não é mentira, mas não está aumentando porque o próprio governo está aumentando a disponibilidade de médicos e leitos. Mas está aumentando, sim".