Papa faz delicada e histórica viagem à Terra Santa nesta semana
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Max Rossi/Reuters
Papa Francisco faz histórica viagem à Terra Santa
O papa Francisco inicia no próximo sábado (24) uma importante visita de três dias à Terra Santa, em uma viagem intensa que será marcada por gestos simbólicos e desafios diplomáticos.
O conflito entre Israel e os palestinos, o vandalismo anticristão em Israel, a guerra na Síria, o peso cada vez maior do Islã no Oriente Médio, as disputas pela propriedade dos lugares sagrados estão entre os problemas que o pontífice argentino enfrentará durante sua breve estadia nesta região.
Em sua primeira viagem à Terra Santa, de 24 a 26 de maio, o papa que chegou do fim do mundo --como ele mesmo se define-- visitará Amã (Jordânia), Belém (Cisjordânia) e Jerusalém (Israel).
Esta visita histórica será dedicada a renovar seu pedido de paz entre judeus e palestinos e, sobretudo, a defender o diálogo entre as três grandes religiões monoteístas: católica, judaica e muçulmana.
Embora o Vaticano classifique a viagem de simples peregrinação, cada etapa do giro terá um impacto político e envolve conflitos diferentes e sensibilidades distintas.
O papa passará o dia 24 de maio na Jordânia e visitará o local no rio Jordão onde, de acordo com a tradição, Jesus foi batizado. Depois, vai se reunir na Cisjordânia com líderes palestinos e celebrará uma missa em Belém. Em Jerusalém, ele vai rezar diante do Santo Sepulcro de Jesus e percorrer a Esplanada das Mesquitas, terceiro lugar sagrado do Islã, além do Muro das Lamentações, um dos mais sagrados do judaísmo.
Quatorze discursos em três dias
O papa latino-americano, que pronunciará 14 discursos --todos em italiano--, também visitará dois campos de refugiados sírios e palestinos na Jordânia e na Cisjordânia, almoçará com famílias pobres e irá ao Memorial Yad Vashem para prestar homenagem às vítimas do Holocausto nazista.
O novo chefe da Igreja Católica, que costuma surpreender com seus gestos e palavras inovadores, viajará acompanhado de um líder muçulmano e de um rabino, formando um grupo que representa as três grandes religiões monoteístas.
"A presença durante a viagem de integrantes das diferentes religiões é significativa", explicou o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi.
O rabino de Buenos Aires, Abraham Skorka, e o professor muçulmano Omar Abboud, presidente do Instituto do Diálogo Interreligioso da capital argentina, "dois amigos" e compatriotas, acompanharão Francisco em seu primeiro périplo pela Terra Santa para demonstrar com ações que a religião não deve ser um fator de divisão e ódio.
Com a viagem, Francisco deseja lembrar o 50º aniversário do histórico encontro entre Paulo 6º e o patriarca ortodoxo Atenágoras 1º de Constantinopla, no dia 5 de janeiro de 1964 em Jerusalém, em uma reunião que revogou a excomunhão recíproca de 1054 que havia provocado a divisão entre as igrejas do Oriente e do Ocidente.
O papa se reunirá em quatro ocasiões com o patriarca ortodoxo, com quem rezará diante do Santo Sepulcro de Jesus, em Jerusalém.
"Um fato histórico", disse Lombardi, já que, pela primeira vez, representantes das diversas confissões cristãs, entre eles greco-ortodoxos, armênios ortodoxos e franciscanos católicos rezarão todos juntos e publicamente neste local sagrado para o cristianismo.
"Lá sempre se rezou separadamente", lembrou Lombardi.
Os desafios políticos
O papa "atravessará fronteiras, visitará três realidades diferentes. Pedirá a todos que se abram uns aos outros, em uma região dominada pela rejeição ao outro", comentou à AFP o jesuíta David Neuhaus.
"Será difícil que todos o aceitem depois de dizer tantas verdades", acrescentou Neuhaus, ao mencionar os desafios da visita.
Durante sua primeira viagem como pontífice a esta delicada região, o argentino Francisco, proveniente de um país com uma grande comunidade judaica, viajará de helicóptero, em um carro comum, sem blindagem, e, em alguns casos, em um veículo utilitário sem capota.
Em Amã, primeira etapa de seu giro papal, será recebido pelo rei da Jordânia, vai celebrar uma missa em um estádio e terá um encontro com 600 deficientes físicos e refugiados, boa parte deles sírios.
No domingo, 25 de maio, em Belém, o papa vai se reunir com o presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, e saudará a multidão de palestinos católicos se deslocando de jipe da sede da presidência até a praça do Pesebre para uma missa.
O rabino Skorka e o professor muçulmano Abboud acompanharão o pontífice na maioria dos 20 eventos programados, como membros da delegação vaticana, algo inédito.
O último dia será certamente o mais delicado. Francisco visitará a Esplanada das Mesquitas, o Domo da Rocha e o Conselho Supremo Muçulmano acompanhado pelo grande mufti de Jerusalém, Mohamad Husein.
Como seus antecessores, João Paulo 2º (2000) e Bento 16 (2009), Francisco deixará uma mensagem nas pedras do Muro das Lamentações.
O programa também inclui uma visita ao cemitério nacional de Israel, onde depositará uma coroa de flores ao fundador do Sionismo, Theodor Herzl, uma homenagem que nenhum papa havia feito até agora.
A viagem terminará com uma missa no Cenáculo, onde, segundo a tradição, aconteceu a Última Ceia de Jesus, local que também abriga o túmulo do rei David, considerado sagrado pelos judeus.
A viagem de Francisco será uma pedra angular para as relações entre católicos e judeus, afirmou à imprensa o embaixador de Israel na Santa Sé, Zion Evrony, que elogiou as boas relações que Francisco manteve com os judeus antes de ser pontífice.
Francisco, de 77 anos, pediu que sua estadia esteja marcada pela sobriedade e pela simplicidade, sem cerimônias protocolares ou encontros mundanos.