Trégua cala armas após um mês de ataques em Gaza; danos podem chegar a US$ 6 bi

Da AFP, em Jerusalém

As armas se calaram nesta terça-feira (6) após quase um mês de guerra na Faixa de Gaza, em favor de um cessar-fogo acertado entre Israel e o Hamas e de uma retirada total das tropas terrestres israelenses.

O cessar-fogo obtido com a mediação do Egito e dos Estados Unidos entrou em vigor às 08h00 (02h00 no horário de Brasília), inicialmente por 72 horas. Discussões já estão encaminhadas para uma paz duradoura entre as partes em conflito.

Na noite desta terça-feira, a Faixa de Gaza estava em calma pela primeira vez depois de 29 dias de uma ofensiva devastadora que matou 1.875 palestinos, de acordo com o Ministério palestino da Saúde, entre eles 430 crianças e adolescentes e 243 mulheres, assim como 64 soldados israelenses e três civis em Israel.

Todas as tréguas anteriores fracassaram até o momento, mas a retirada dos soldados israelenses consolida as esperanças de que esta nova trégua seja respeitada, mesmo que o Exército tenha tomado o cuidado de garantir que responderia "a qualquer ataque".

Médicos conseguiram ter acesso a zonas anteriormente inacessíveis devido aos combates, onde foram encontrados mais corpos.

Em carro ou em carroças puxadas por burros, milhares de palestinos voltaram as suas casas, para ver se ainda estavam de pé.

No setor de Beit Hanoun (norte), Rafat al-Masri, pai de cinco filhos, só encontrou ruínas. "Trabalhei durante 40 anos para construir esta casa. Agora está completamente destruída. Não resta nada", lamentou.

Tensão entre palestinos e israelenses
Tensão entre palestinos e israelenses

US$ 4 a 6 bilhões em prejuízos

A guerra na Faixa de Gaza provocou danos calculados entre US$ 4 bilhões e US$ 6 bilhões, segundo o vice-ministro palestino da Economia, Taysir Amro, que também anunciou uma reunião de países doadores na Noruega em setembro.

Arte/UOL
Mapa mostra localização de Israel, Cisjordânia e Gaza


Amro explicou à AFP que o valor não leva em consideração os "danos diretos que afetam a economia de Gaza e pode aumentar após o cálculo dos efeitos indiretos sobre a população".

Um balanço mais preciso será elaborado quando a calma retornar ao território palestino superpovoado e submetido a um bloqueio, onde quase 500.000 pessoas foram obrigadas a abandonar suas casas.

Após os ataques aéreos iniciados em 8 de julho, as forças terrestres israelenses entraram no dia 17 no território para acabar com os disparos de foguetes do Hamas e desmantelar a rede de túneis utilizada pelos islamitas.

O Exército concluiu na segunda-feira à noite sua missão de destruição de túneis.

Trégua duradoura?

As imagens dos bombardeios israelenses colocaram o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu sob intensa pressão internacional para acabar com a operação na Faixa de Gaza, um território de 362 quilômetros quadrados, superpovoado e de extrema pobreza.

A trégua iniciada nesta terça-feira foi negociada com mediação do Egito, com a presença no Cairo de uma delegação palestina que contava com membros da Autoridade Palestina, presidida por Mahmud Abbas, e com representantes dos grupos islamitas Hamas e Jihad Islâmica. A delegação de Israel chegou nesta terça-feira ao Cairo.

"Negociações mais amplas" são necessárias, considerou uma autoridade egípcia.

Por enquanto, o acordo de cessar-fogo "prevê apenas um retorno à calma", lembrou Yigal Palmor, porta-voz do Ministério israelense das Relações Exteriores. Já o ministro da Inteligência, Yuval Steinitz, expressou ceticismo.

"O Hamas já violou seis tréguas anteriores. Espero que desta vez seja diferente", disse.

O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, celebrou a trégua e pediu as duas partes que iniciem negociações para acabar com o conflito.

O Hamas exige o fim do bloqueio israelense que sufoca a economia de Gaza. Israel, por sua vez, insiste em sua segurança. E uma exigência recente promete ser um grande obstáculo: a reconstrução da Faixa de Gaza está ligada à sua desmilitarização.

Entenda a ofensiva de Israel em Gaza
  • Como o novo conflito começou?
    A tensão aumentou drasticamente após o sequestro de 3 jovens israelenses na Cisjordânia, em junho. Israel então fez missão de busca que prendeu 420 palestinos e matou 6 inocentes. Após 18 dias, os corpos dos jovens foram achados. Vários grupos jihadistas assumiram o crime. Mas Israel culpa o Hamas, que não se posicionou. Depois, um palestinos de 16 anos foi morto em Jerusalém por judeus radicais
  • Em qual contexto político o crime aconteceu?
    As relações entre os governos israelense e palestino já estavam tensas desde que, em abril, Hamas e Fatah anunciaram governo de unidade nas regiões autônomas palestinas. O presidente palestino, Mahmoud Abbas, disse que o novo governo reconhece os acordos de paz assinados, mas Israel acha que Abbas não pode fechar acordo com Israel e, ao mesmo tempo, com o Hamas, que quer a destruição de Israel
  • Por que a área do conflito é polêmica?
    Os jovens israelenses eram de assentamentos em território palestino da Cisjordânia considerados ilegais pela ONU por violar o artigo 49 da Quarta Convenção de Genebra, de 1949, que proíbe a transferência violenta de população civil para outro Estado. Israel discorda dessa interpretação e alegando que a área nunca teria sido parte de um Estado soberano e que o acordo não se aplica ali
  • Por que a ONU fala em "emergência humanitária"?
    A ofensiva de Israel está cada vez mais sangrenta. Em poucas semanas, mais de mil palestinos foram mortos nos ataques em Gaza, inclusive dezenas de idosos e crianças. Cerca de 53 mil soldados israelenses agem em uma pequena faixa de terra de 362 km2, ondem vivem meio à extrema pobreza 1,8 milhão de palestinos. A ONU diz que mais de 3/4 das vítimas são civis e já são mais de 80 mil desabrigados

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