Papa pede que Igreja não caia 'em Alzheimer espiritual'
O papa pediu que sacerdotes e bispos atuem a serviço dos fiéis e cuidem do "Alzheimer espiritual" que os faz esquecer as origens humildes, em um evento em El Quinche com o qual encerrou no Equador a primeira escala de seu giro pela América do Sul.
Diante de milhares de fiéis e religiosos reunidos no santuário indígena da Virgem de El Quinche, 30 km a leste de Quito, Francisco deixou de lado um discurso que estava preparado e dedicou uma mensagem à Igreja para que saia da comodidade e "se atreva" a chegar até as periferias.
Durante meia hora, o papa falou de improviso sobre a "gratuidade", o princípio franciscano que norteia as atividades da Ordem, com a qual a Igreja deve servir em sua missão evangelizadora e do risco que ela corre ao esquecer suas raízes.
"Tomem cuidado para não cair em uma doença, em uma doença que é bastante perigosa para quem o Senhor amou gratuitamente ao segui-lo ou ao servi-lo: não caiam no Alzheimer espiritual, não percam a memória" de onde vieram, disse o pontífice.
Eu também --acrescentou-- "sinto muitas vezes a tentação de me esquecer da 'gratuidade' com a qual Deus me escolheu e de me esquecer de onde vim".
O pontífice de 78 anos lamentou quando um sacerdote, ao iniciar sua ascensão, "começa a perder a memória" de sua origem e "começa a se sentir importante", esquecendo que deve estar a serviço dos pobres.
Também "é muito triste quando a pessoa vê um sacerdote (...) que em sua casa falava o dialeto ou falava outra língua --uma destas nobres línguas antigas que os povos têm-- e se esquecem da língua. É muito triste quando não querem falar esta língua, isso significa que se esqueceram de onde vieram", acrescentou Francisco.
O papa argentino, que antes de ir a El Quinche visitou um asilo de idosos, deixou este último pedido à Igreja do Equador antes de viajar à Bolívia, segunda escala de seu giro que o trouxe de volta à América do Sul após dois anos e que será concluído no Paraguai.
Na Bolívia, que aguarda a chegada do pontífice, o Congresso bicameral aprovou nesta quarta-feira a ampliação de um plano de indulto por razões humanitárias que pode alcançar dois mil réus.
"Esta aprovação amplia sua aplicabilidade com o objetivo de que as pessoas privadas de liberdade possam enfrentar os problemas de lentidão da justiça e superlotação nos centros penitenciários", disse um comunicado da Assembleia Legislativa, de maioria governista, coincidindo com a chegada do pontífice ao país.
A ampliação da medida, que é aplicada há um ano e que foi solicitada pelo presidente Evo Morales, alcança "mulheres grávidas de 24 semanas ou mais (...), pessoas com grau de deficiência grave ou muito grave, e pessoas que sofrem de alguma doença terminal".
Este benefício também engloba alguns casos ligados a assuntos menores de narcotráfico, salvo em caso de reincidência.