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'Bater no telhado': a técnica israelense para alertar civis antes de bombardear Gaza

Avião israelense perto de Sderot, no sul de Israel; em ofensiva contra túneis do Hamas - Jack Guez/AFP
Avião israelense perto de Sderot, no sul de Israel; em ofensiva contra túneis do Hamas Imagem: Jack Guez/AFP

Da AFP, em Jerusalém

20/05/2021 10h16Atualizada em 20/05/2021 10h43

Mensagem de texto, ligação ou tiro de advertência: o Exército israelense utiliza a controversa técnica "roof knocking" ("bater no telhado", em tradução livre) em alguns de seus bombardeios sobre Gaza para pedir aos civis que se retirem antes de um ataque iminente e, com isso, proteger-se de possíveis acusações.

No sábado à tarde, no enclave palestino bloqueado por Israel há quase 15 anos, Jawad Mehdi, proprietário de um prédio comercial que abriga os escritórios de veículos de imprensa internacionais, recebeu uma ligação de um oficial israelense.

Por telefone, o oficial pediu em árabe que o prédio fosse evacuado dentro de uma hora. O proprietário tentou negociar um prazo maior e a conversa se prolongou. O edifício de 13 andares, evacuado em pânico, foi pulverizado uma hora depois.

O Exército de Israel, que inventou o "roof knocking", nomeado "hakesh bagag" em hebraico desde 2009 e adotado em 2016 pelo Exército americano no Iraque, introduziu esta técnica de tiro de advertência — ampliada a ligações, mensagens ou até mesmo lançamento de panfletos — em sua comunicação de guerra.

No entanto, segundo as ONGs de defesa dos direitos humanos, a advertência não isenta as "forças atacantes" de sua responsabilidade em relação ao direito humanitário internacional.

Razões morais

"Enviamos um pequeno míssil vazio para atingir o telhado e avisar aos civis que precisam evacuar o prédio. Continuamos em observação para garantir que se retirem", explica à AFP um responsável da aviação militar israelense, que pediu anonimato. "Quando temos a maior certeza possível sobre a evacuação do prédio, disparamos", afirma.

Embora este funcionário encarregado do protocolo mencione "razões morais", que incitam o Exército a limitar os "danos colaterais sobre os civis", Israel também tem a intenção de se proteger de eventuais acusações.

A procuradora-geral do Tribunal Penal Internacional (TPI), Fatou Bensouda, abriu uma investigação por supostos crimes de guerra nos territórios palestinos, especialmente durante a guerra de Gaza de 2014.

A Promotoria militar israelense está incluída na elaboração de alguns desses protocolos de advertência.

Mohamad al-Hadidi se pergunta por que nunca recebeu essa ligação no sábado passado, quando sua esposa e quatro de seus cinco filhos morreram em um bombardeio israelense em um edifício do acampamento de Al-Shati, onde a família passava a noite.

"O que nós fizemos para merecer sermos bombardeados, sem nenhum alerta, sem que nos pedissem para nos retirarmos?", questiona.

O Exército não forneceu dados sobre o número de "roof knockings" desde 10 de maio, início da escalada militar com o Hamas, movimento no poder em Gaza.

"Promovemos mais de 1.000 ataques. Quando se trata de infraestruturas, podemos usar esta técnica, mas não quando se trata da eliminação de terroristas", afirma o responsável da aviação militar.

Para a Anistia Internacional, "emitir um alerta não absolve as forças atacantes de suas obrigações em virtude do direito internacional humanitário com os civis", destaca à AFP sua porta-voz para a região, Sara Hashash.