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Reality shows estrelados por animais 'revelam celebridades' como o urso Knut

Tamanduá brinca durante bastidor de reality show filmado no zoológico de Berlim - Andreas Lander/Divulgação
Tamanduá brinca durante bastidor de reality show filmado no zoológico de Berlim Imagem: Andreas Lander/Divulgação

Clarissa Neher

De Berlim para a BBC Brasil

18/10/2015 13h00

Reality shows costumam acompanhar o cotidiano de seus personagens. Na Alemanha, porém, os participantes de um reality pouco convencional são animais de zoológicos do país. Essa espécie de "Big Brother" animal faz sucesso entre os telespectadores há mais de dez anos e já revelou para o mundo estrelas como a gambá vesga Heidi ou o urso polar Knut, abandonado pela mãe.

Os realities gravados em zoológicos de diversas cidades alemães mostram a rotina desses locais. Mas o grande diferencial é a personificação das estrelas principais, ou seja, a narrativa é focada nos animais, chamados pelo nome, no relacionamentos entre si e na interação dos bichos com funcionários responsáveis pelos seus cuidados.

E cada temporada é construída como uma novela, mostrando alegrias e dramas dos personagens principais, como os primeiros meses de vida de Knut, o urso polar de Berlim abandonado pela mãe ao nascer; a quarentena da foca filhote Glorin, de Friedrichskoog, que estava muito abatida devido a uma infestação de pulgas; ou a adaptação no zoológico de Leipzig da gambá vesga Heidi, nascida nos EUA.

Quem conduz o programa através do mosaico de espécies é o narrador que tem a função de dar autenticidade e dramaticidade as cenas. Os funcionários dos zoológicos são os personagens coadjuvantes, que além de explicar as características dos animais em geral revelam detalhes sobre a personalidade e vida dos personagens principais.

"Um dos desafios do formato é sempre encontrar boas histórias. Algumas já estão prontas - como nascimentos, doenças, mudanças de zoológico ou os horários de alimentação. Mas há momentos em que não acontece muito, assim precisamos procurar e descobrir", conta Claudia Schreiner, diretora de programação de Cultura e Ciência da emissora regional MDR, responsável pelo reality "Elefante, Tigre & Co" - o primeiro desse formato.

A ideia da MDR era mostrar o cotidiano do zoológico de Leipzig de uma forma real e, ao mesmo tempo, recreativa. A primeira temporada foi ao ar em abril de 2003. O formato deu tão certo que foi transmitido em rede nacional em 2005 e copiado por vários canais de televisão.

Aprovado pelo público

Em 2005, com o sucesso de "Elefante, Tigre & Co", a emissora nacional ARD convidou as filiadas locais para produzirem realities em diversos zoológicos da Alemanha. O programa também ganhou um horário diário fixo na grade de programação do canal.

Anke Sperl e Jana von Rautenberg, respectivamente editora e diretora de "Panda, Gorila & Co", o reality dos zoológicos e aquário de Berlim, afirmam que, além de fatos autênticos e interessantes, as imagens, a atmosfera e os bastidores são fundamentais para atrair a atenção dos telespectadores. "Tudo isso é unido com histórias e músicas emotivas", contam.

Schreiner reforça ainda que não há elementos ficcionais no programa e os autores interpretam, em texto, as ações do animais, sempre com uma porção de humor. Mas o sucesso desse formato está relacionado, principalmente, à personificação dos animais, um recurso utilizado por zoológicos desde o século 19 para atrair visitantes.

"Zoológicos geralmente contam histórias e essas histórias precisam de protagonistas. No século 20, essa individualização se tornou mais importante para a comercialização de determinados animais. Além disso, a personalização não somente constrói uma relação emocional com os visitantes, mas também ajuda a transmitir mensagens políticas", afirma a historiadora da Universidade de Kassel Mieke Roscher.

Para a especialista em interação entre animais, humanos e sociedade, o melhor exemplo da personalização de espécies nos documentários-novela é Knut, que ganhou fama no programa "Panda, Gorila & Co" e se tornou um símbolo da campanha contra as mudanças climáticas.

Imagem positiva

O apoio dos zoológicos foi fundamental para o sucesso desse formato. No início, o diretor do zoo de Leipzig, Jörg Junhold, teve receio se haveria histórias suficientes para o programa e também sobre o interesse do público na atração. "Eu não acreditava que a rotina do zoológico iria atrair os telespectadores", conta.

Mesmo com o receio, a equipe de Junhold percebeu o reality como uma oportunidade de transmitir uma imagem completa do local para o público.

"Estou convencido de que os zoológicos devem aproveitar essa chance para mostrar ao público a complexidade do seu trabalho, não somente com relação à exposição, mas também na preservação de espécies e na educação. Além disso, o programa transmite conhecimento e esse é nosso objetivo", completa o diretor.

Apesar de não haver estudos se a participação televisiva contribuiu para aumentar o número de visitantes, os zoológicos avaliam positivamente os realities. "Para nós, uma vantagem clara é que pessoas de toda a Alemanha podem acompanhar o cotidiano dos zoológicos berlinenses", afirma a porta-voz das instituições, Rieke Edelhoff.

Uma pesquisa realizada pelo zoológico de Leipzig mostrou que o local tem fãs pelo país inteiro, conquistados pelo programa. Além disso, algumas histórias acabaram ganhando o mundo e atraindo visitantes internacionais.