Futuro do Afeganistão é decidido lentamente em apurações sem fim
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Tim Shaffer/Reuters
A primeira-dama dos EUA, Michelle Obama, fala ao público durante campanha do democrata Barack Obama, candidato à reeleição, na Universidade de Ciências da Filadélfia, nos EUA
Cabul, 13 ago (EFE).- O nome do próximo presidente afegão é decidido muito lentamente em galpões de Cabul, onde são verificados os oito milhões de votos de uma eleição eterna na qual a interpretação de uma marca na cédula condiciona o futuro do país.
A validade ou não dessa marca - o típico símbolo "V" alongado de 'visto' - em cada voto paralisou a apuração em muitas ocasiões, nas quais os representantes de ambos os candidatos, Abdullah Abdullah e Ashraf Ghani, chegaram a uma queda de braço para defender sua posição.
De acordo com Zamari Qalamiar, um dos responsáveis da apuração nos galpões, a auditoria dos 8,1 milhões de votos depositados no segundo turno do pleito presidencial em 14 de junho "segue seu curso normal, embora em alguns dias pare por conta das disputas entre as equipes dos candidatos".
A decisão de revisar 100% dos votos foi tomada há um mês com a mediação do secretário de Estado americano, John Kerry, depois de Abdullah se negar a aceitar os resultados preliminares que davam a Ghani 56,44% dos votos.
Abdullah denunciou "uma fraude em escala industrial" produzida por Ghani; o presidente em fim de mandato, Hamid Karzai; e a Comissão Eleitoral. Em 17 de julho, começou a auditoria de todos os votos, após o compromisso de aceitar os novos resultados.
Os 1.278 observadores que controlam o processo, sendo 900 afegãos, não entram em acordo sobre quais votos contam ou não, especialmente os representantes dos candidatos, embora as cédulas sejam muito nítidas.
Nelas se vê claramente que é preciso assinalar com um "V" ao lado do nome de Abdullah ou de Ghani, identificados por suas respectivas fotos. O problema surge quando se abre uma urna e aparecem votos que evidenciam que a marca é de uma mesma pessoa em várias cédulas, e os defensores de cada candidatura começam a se desentender até o ponto em que é preciso parar a apuração.
Em outros casos a marca não aparece, mas sim a assinatura do eleitor, que acrescenta outro motivo à interminável disputa que prolonga o processo, apesar das tentativas por conseguir um consenso promovido pela Organização das Nações Unidas, que estabeleceu normas para a auditoria.
Regras que os observadores da ONU, a União Europeia e várias entidades afegãs tentam que os partidários de Abdullah e de Ghani respeitem, e não apenas quando convém.
Polícia afegã e empresas de segurança privada controlam o acesso de cada galpão, o que não evitou que nesta semana ocorresse uma briga dentro de um dos locais na disputa por um voto, uma briga divulgada pela televisão local.
As milhares de caixas com as cédulas depositadas no dia da votação, apesar da ameaça dos talibãs contra aqueles que participassem das eleições, balizam os galpões. Mais de 22 mil urnas, segundo Zamari Qalamiar, já estão em Cabul, vindas de 33 das 34 províncias afegãs, e 4.367 já foram auditadas.
Das oito da manhã às oito da noite, todos os dias em que não está paralisada a apuração, os observadores se reúnem ao redor de meia centena de mesas para analisar os votos. Ao todo, 200 equipes, em dois turnos, estudam cada caso, embora se espere chegar a 300 para acelerar o trabalho.
"Ainda resta muitos problemas por resolver nesta auditoria. Frequentemente, não estamos de acordo com os critérios da candidatura de Ghani. Para a gente, por exemplo, se há cinco votos com marcas similares em uma urna eles têm que ser revisados. Para a equipe de Ghani tem que ser a partir de 20", disse à Agência Efe Reza Nikzad, um dos responsáveis da equipe de Abdullah.
Já Halim Fedai, da equipe de Ghani, defende que o processo "segue seu curso normal", levando em conta que "é a primeira vez em uma democracia em que é preciso auditar 100% dos votos".