Governo turco tenta, sem sucesso, aplacar ira popular com desculpas

Luis Lidón

Em Istambul

O governo turco tentou acalmar a ira popular dos últimos dias ao oferecer uma desculpa pelos excessos policiais cometidos no início dos protestos antigovernamentais, que já duram cinco dias e deixaram dois mortos e mais de 2.000 feridos.

"Peço desculpas àqueles (manifestantes) com sensibilidade ambiental pela violência policial usada no começo. Mas não temos desculpas para os violentos das ruas", declarou o vice-primeiro-ministro, Bülent Arinç, em entrevista coletiva em Ancara.

Mapa da região

Arinç se referiu à remoção violenta, na madrugada da última sexta-feira, das pessoas que protestavam contra uma remodelação urbanística que prevê a construção de um shopping center em um dos poucos parques de Istambul. A ação da polícia desencadeou os maiores protestos na Turquia em uma década.

"A exagerada violência da polícia no começo dos incidentes no parque provocou uma reação", declarou Arinç, mas acrescentou que nada justifica a agressão às forças de segurança.

Suas palavras contrastam com as do primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan, que classificou os manifestantes de "extremistas" e inclusive insinuou que serviços secretos estrangeiros podiam estar por trás dos protestos.

Mesmo assim, Arinç coincidiu com o chefe de governo nas críticas à imprensa estrangeira, por mostrarem uma imagem distorcida dos acontecimentos no país, e às redes sociais por sua ajuda na organização dos protestos.

"Os países estrangeiros fazem isso para debilitar o poder da Turquia e seu sucesso econômico", disse o vice-primeiro-ministro.

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As desculpas do governo não parecem apaziguar a ira dos milhares de manifestantes que continuam no parque Gezi e pedem a renúncia de Erdogan.

"Demissão do governo" e "Cotovelo com cotovelo contra o fascismo", são dois dos lemas mais se repetidos ali, onde os jovens levantaram, inclusive, um ambulatório atendido por estudantes de medicina.

"Na maioria das cidades, ali onde a polícia não interveio, as manifestações foram pacíficas. Isto demonstra que os protestos serão pacíficos se a polícia se mantiver afastada", declarou à Agência Efe Özlem Dalkiran, uma ativista que seguiu os protestos do parque Gezi desde o princípio.

Nas ruas próximas da Praça de Taksim e no bairro de Besiktas, continuam de pé dezenas de barricadas levantadas para impedir a chegada de veículos antidistúrbios com canhões de água.

Os protestos deixaram até agora dois mortos, o último faleceu perto da meia-noite da segunda-feira na província de Hatay, provavelmente devido ao impacto de uma bomba de fumaça na cabeça.

Além disso, há 2.700 feridos, cinco deles em estado crítico, segundo informações dos hospitais.

A maior parte dos feridos, cerca de 1.480, são de Istambul, enquanto em Ancara foram 787 e em Esmirna outros 420.

Todos estes números vêm de fontes sanitárias, já que, até agora, nem o Ministério do Interior nem o da Saúde forneceram dados sobre o balanço dos protestos.

O responsável da pasta do Interior, Muammer Güler, divulgou uma estimativa dos danos materiais, que chegam a mais de 30 milhões de euros, e detalhou que os protestos ocorreram em 77 das 81 províncias turcas.

A Confederação de Sindicatos de Trabalhadores Públicos (KESK) --uma das maiores organizações operárias da Turquia-- se juntou às manifestações com uma greve de 36 horas que começou ao meio-dia de hoje.

Um comunicado conjunto emitido hoje afirmou que as associações de médicos, engenheiros e arquitetos se unirão à greve de amanhã.

O KESK, que conta com 250 mil filiados, anunciou também que organizará amanhã protestos contra o governo nas principais cidades do país.

Todas estas associações trabalhistas pediram ao governo que liberte, sem acusações, os "milhares de detidos" nos protestos.

A "greve de advertência" iniciada pelo sindicato hoje ao meio-dia, e que continuará na quarta-feira, foi justificada por seus organizadores devido "ao estado de terror aplicado contra os grandes protestos" dos últimos dias.

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