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Mundo segue de 'olhos fechados para catástrofe climática', diz secretário-geral da ONU

Secretário-geral da ONU, António Guterres, durante entrevista coletiva em Nova York - Andrew Kelly/Reuters
Secretário-geral da ONU, António Guterres, durante entrevista coletiva em Nova York Imagem: Andrew Kelly/Reuters

Da RFI*

21/03/2022 09h30Atualizada em 21/03/2022 09h54

O mundo avança "de olhos fechados em direção à catástrofe climática", alertou segunda-feira (21) o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres. Ele lamentou que, apesar da "gravidade" da situação, as grandes economias continuem aumentando suas emissões de gases do efeito estufa.

O objetivo de limitar o aumento das temperaturas da Terra a 1,5°C em relação à era pré-industrial, o mais ambicioso do Acordo de Paris, está em "tratamento intensivo", declarou Guterres durante uma conferência sobre o desenvolvimento sustentável organizada pelo jornal The Economist, em Londres.

De acordo com a ONU, seria necessário reduzir 45% das emissões até 2030 para conter o aumento a 1,5°C. Mas as emissões continuam em alta e o planeta ganhou em média 1,1°C desde a era pré-industrial, com consequências como temperaturas extremas, secas, tempestades e inundações catastróficas.

"O problema se agrava", declarou Guterres em um mensagem de vídeo gravada. Ele lembrou que em 2020, as catástrofes climáticas "tiraram de suas casas 30 milhões de pessoas - quase três vezes mais que o número de migrantes gerados por conflitos", completou.

"Se continuarmos assim, podemos dizer adeus ao objetivo de 1,5°C. O (objetivo) de 2°C também poderia ficar fora de alcance", afirmou.

Aquecimento catastrófico

Mas ainda que as nações cumpram os compromissos feitos em Paris, as emissões podem aumentar 14% antes do fim da década, levando a um aquecimento "catastrófico" de 2,7°C, de acordo com o Grupo de especialistas sobre a evolução do clima da ONU, o IPCC.

O diretor geral da ONU criticou o "otimismo inocente" após a COP26, em Glasgow, em outubro, e chamou de "loucura" a dependência persistente dos países de energias fósseis."Esse vício dos combustíveis fósseis nos conduz em direção à destruição coletiva", afirmou.

A mensagem de Guterres foi feita horas antes de uma reunião, que deve durar duas semanas, com o objetivo de validar o relatório histórico do IPCC sobre os cenários que permitiriam limitar o aquecimento do planeta. O documento divide as possibilidades por grandes setores que poderiam aumentar a captura e a absorção do carbono.

O relatório deve concluir que, para alcançar os objetivos de temperatura fixados em Paris, as emissões de CO2 devem atingir um pico nos próximos anos.

Consequências da invasão da Ucrânia

De acordo com Guterres, a invasão da Ucrânia pela Rússia poderia atrapalhar ainda mais a ação a favor do clima, se os países decidirem correr atrás de novos fornecedores de gás e petróleo para substituir as importações russas, permanecendo assim na dependência de combustíveis fósseis.

Em 2021, um relatório da Agência Internacional de Energia (AIE) concluiu que limitar o aumento das temperaturas a 1,5°C é incompatível com novas explorações de petróleo, gás e carvão.

Guterres quebrou o protocolo habitual, que consiste em não acusar um país em particular, e reprovou a Austrália e outros "recalcitrantes" por não terem apresentado planos "significativos" a curto prazo para reduzir as emissões.

A China e a Índia, que dependem do carvão, não aderiram plenamente ao objetivo de 1,5°C e não fixaram objetivos mais ambiciosos de redução de emissões a curto prazo.

"A boa notícia é que todos os governos do G20, incluindo a China, o Japão e a Coreia, aceitaram não financiar mais o carvão estrangeiro", relativizou Guterres. "Agora eles devem fazer o mesmo no plano interno, com urgência", completou.

O secretário-geral da ONU responsabilizou os países ricos pelo financiamento, tecnologia e outros instrumentos necessários para ajudar as economias emergentes a eliminar o carvão de suas matrizes energéticas.

(*Com informações da AFP)