O próximo presidente e a recuperação da economia dos Estados Unidos
Às vezes os comentários posteriores a um debate político são mais perspicazes e interessantes que o debate em si. A propósito do terceiro encontro Obama versus Romney, agora sobre política externa, e além das verdades evidentes e os lugares-comuns sobre a ênfase da nova insularidade dos EUA, a análise feita por Fareed Zakaria, da "Time" e "CNN", sobre o pós-debate me pareceu especialmente interessante. Não teve a ver com política externa, com Paquistão, Síria, Irã, Líbia ou Israel, os cinco países que parecem contar hoje nos EUA (a discussão sobre a China foi mais sobre política interna ou política comercial que política externa).
Eleições 2012 nos EUA
Zakaria comentou sobre o debate com o presidente do J.P Morgan Chase, que, como todo banqueiro, toma o pulso cotidiano da economia através do crédito concedido a empresas e famílias. Segundo esse banqueiro, nos últimos meses se abriu novamente a torneira do financiamento hipotecário, não só para refinanciar com menores taxas de juros, como com novos empréstimos para novas residências.
Quando se vê que hoje um crédito hipotecário para 30 anos tem uma taxa fixa entre 2,75% e 3,25%, e com uma inflação estacionada em 2,7%, entende-se então o que implica uma taxa de juros real para hipotecas - em certas condições - quase nula. Zakaria conclui de sua conversa e análise que sim, há uma recuperação econômica inesperadamente vigorosa, sólida e duradoura nos EUA.
Isto provavelmente chegou tarde para assegurar a vitória de Obama - e eu continuo crendo e querendo que ele ganhe -, mas se ganhar se deverá mais à mediocridade de seu adversário republicano que à eventual recuperação econômica. No entanto, para o resto do mundo em geral, e para o México em particular, as dimensões e a celeridade da recuperação americana podem ser mais interessantes que os fatores explicativos da vitória ou derrota de Obama.
Para Zakaria, a recuperação poderá ser de Obama ou de Romney, mas será recuperação, e muito provavelmente de grande voo (os déficits fiscais dos próximos anos acabarão sendo absorvidos, apesar das preocupações de muita gente conhecedora e sensata).
Vejo duas implicações pertinentes. A primeira tem a ver com a crise europeia, que se vincula mais diretamente ao possível triunfo de Obama. Se ele ganhar, não tenho a menor dúvida de que encabeçará um esforço, agora sim com recursos americanos, para contribuir para o resgate do euro e dos países em situação precária. Entende-se que não tenha podido fazê-lo até agora e que nem sequer o tenha sussurrado para sua esposa, mas me parece inconcebível que em uma situação pós-eleitoral e com a economia americana ressurgindo, os EUA não interfiram no desastre europeu.
A segunda implicação é mais imediata e interessante para nós; como já dissemos nestas páginas, junto com outros, o México sofreu durante a primeira metade do sexênio por ser uma economia estreitamente ligada à dos EUA, desprovida de facilidades para exportar para a China e a Índia, dependente do turismo, das remessas, do narcotráfico e da demanda americana por manufaturas. Mas a partir de 2011 a situação se inverteu: nossa fragilidade anterior - a integração com a América do Norte - se transformou em nossa força; enquanto a força do Brasil, Argentina, Chile ou Peru se transformou em sua fraqueza.
Se a economia dos EUA efetivamente se recuperar como preveem o presidente do J.P. Morgan Chase e Fareed Zakaria, o mais beneficiado no mundo será o México. Mais exportações de manufaturas, mais investimento, mais turismo, mais remessas, inclusive mais e melhores envios de entorpecentes para os EUA. A vida é injusta e este auge, caso aconteça, poderia ter cabido a Calderón ou à candidata do PAN se tivesse ocorrido um ano antes. Peña Nieto chegou em boa hora.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes GonçalvesJorge Castañeda
Jorge Castañeda foi chanceler do México e é autor de uma das mais extensivas biografias já publicadas sobre Che Guevara.