"Matinê do terror": briga, bomba e arrastão no largo da Batata em SP
"É só respirar normal que passa. Se não atirarem mais uma, duas bombas...", diz o policial militar para um bombeiro civil no largo da Batata, em São Paulo, durante o desfile de blocos no pré-Carnaval da cidade. Os dois conversam enquanto o gás das bombas lançadas pela polícia se espalha pela área delimitada pela prefeitura justamente para atender foliões em busca de cuidados médicos.
O bombeiro, provavelmente menos habituado à situação, cobre o rosto com sua camisa vermelha, incomodado. Poucos minutos antes, policiais militares decidiram dispersar a multidão que se aglomerava próximo à entrada da estação Faria Lima do metrô. Atiraram pelo menos cinco bombas de gás lacrimogêneo.
Quando a situação parecia se acalmar, ao menos quinze motos e duas viaturas surgiram em alta velocidade para atirar, desta vez ao menos duas vezes, novas bombas contra foliões concentrados próximos à Igreja da Matriz. A reportagem do UOL presenciou este episódio mais de perto e não flagrou nenhum ato de violência por parte do público que justificasse a ação.
As bombas atiradas contra pessoas que a princípio saíram de casa para curtir o Carnaval foram só o ápice --no caso, negativo-- de um pré-Carnaval problemático em Pinheiros. Tumultos, brigas, furtos, arrastões, gente desmaiando de tanto beber, temporal e até blecaute deram um ar de apocalipse carnavalesco ao bairro neste sábado (23).
Menores de idade e álcool
Na primeira vez que a reportagem do UOL visitou a tenda armada para atendimento médico montada pela prefeitura, por volta das 13 horas, tudo parecia correr bem. Só seis pessoas haviam sido atendidas até então, nenhuma com gravidade. Ao final do dia, às 22 horas, o número era de 120 atendimentos.
De acordo com uma fonte que pediu para não ser identificada, todos os casos tinham relação com o uso de álcool e drogas, e foram múltiplos registros de torções e suturas (cortes). Mesmo atendimentos a pessoas um pouco mais velhas --com mais de 20 anos-- teriam sido raríssimos.
Lembrando que o posto do Largo da Batata era apenas um dos quatro em funcionamento na região de Pinheiros: se computados também os atendimentos nos postos da Faria Lima, Berrini e Wisard, certamente o sábado foi um dia de mais trabalho ainda.
Sobre menores de idade e álcool, ficou evidente desde o início que o público presente ao pré-Carnaval em Pinheiros faria do dia sua matinê. No metrô, a fisionomia do público já denunciava que muitos ali sequer tinham chegado aos quinze anos de idade.
Em apenas meio quarteirão da Avenida Faria Lima, a reportagem flagrou seis garotas --bem jovens-- desacordadas de tanto beber. Uma delas estava atirada sobre um barranco enquanto era atendida por três bombeiros civis. Um deles conseguiu destravar o celular da garota e ligar para a mãe dela, que estava a caminho para socorrê-la.
Dia de brigas e furtos
No gradil que separava a área de atendimento da prefeitura da balbúrdia ao redor, a cena mais comum era esta: jovens chegando desesperados, carregando colegas e namoradas/namorados desmaiados, pedindo pelo amor de Deus para que os ajudassem, às vezes tratando até os enfermeiros com agressividade. Afinal, mesmo quem clamava por socorro muitas vezes também não estava exatamente sóbrio e tranquilo.
Se os bombeiros civis e enfermeiros trabalharam muito, a polícia, pelo menos naquilo que a reportagem pôde testemunhar, só chegou mesmo no final para atirar as bombas. Nas sete horas em que caminhou pela região, a reportagem não flagrou policiais, nem integrantes da GCM (Guarda Civil Metropolitana), uma única vez entre os foliões. Mas presenciou pelo menos seis brigas, sendo duas de grandes proporções e ocorridas ao lado do posto policial do largo da Batata.
Nenhum dado sobre ocorrências policiais foi repassado ao UOL. À reportagem, um integrante da GCM apenas confirmou que de fato foi "um dia com muitas brigas e furtos" e que só ali, no largo da Batata, ocorreram três arrastões. Um número alto, levando-se em conta que essa importante praça paulistana é relativamente pequena --do tamanho de um quarteirão-- e que a base da força policial estava justamente ali.
Questionada, a assessoria de imprensa da Policia Militar disse que ainda não tinha os números consolidados das ocorrências policiais em Pinheiros.
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