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PF identifica empresários que bancaram gastos do QG golpista em Brasília
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A Polícia Federal detectou a participação de empresários como possíveis financiadores da estrutura do acampamento golpista montado no quartel-general do Exército, em Brasília, que serviu como base para os atos de depredação do dia 8 de janeiro. Nos últimos meses, a PF levantou informações sobre os gastos do acampamento e obteve cópias de contratos para descobrir os responsáveis pelo pagamento.
Bolsonaristas começaram a acampar no QG do Exército logo após o segundo turno da eleição presidencial. A Procuradoria-Geral da República (PGR) aponta que esses manifestantes formaram uma "associação criminosa que insuflava as Forças Armadas à tomada do poder", o que é inconstitucional.
- Cinco empresários pagaram estruturas de alimentação, banheiros químicos e atendimento médico
- Eles são de Goiás, do Amapá, de Minas Gerais e do Distrito Federal.
- Uma empresária de Goiânia, que pagava R$ 6.600 por semana por banheiros químicos, interrompeu contatos com o grupo após primeiras prisões.
- A PF está quebrando sigilos bancários de dezenas de pessoas que apareceram como contratantes de ônibus. O objetivo é saber se há financiadores ocultos.
O contexto: De acordo com o último balanço da Procuradoria-Geral da República do último dia 1º de março, 689 participantes do acampamento foram denunciados pelo delito de incitação ao crime, com pena prevista de detenção de três a seis meses. Outras 222 pessoas estão sendo processadas por atos de destruição durante a invasão da Praça dos Três Poderes, em 8 de janeiro.
O ministro Alexandre de Moraes, relator da investigação no Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que a Polícia Federal apurasse os financiadores da estrutura do acampamento, composta por tendas, banheiros químicos, barracas de alimentação gratuita e pontos de carregamento de celular, dentre outros itens. Por isso, a PF passou a rastrear os fornecedores dos serviços.
Os contratos
Após obter a documentação sobre os contratantes de banheiros químicos, a investigação detectou que uma empresária de Goiânia foi responsável pelo pagamento de parte da estrutura. Kátia Aquino é dona de uma empresa de venda de produtos automotivos. Nas suas redes sociais, ela exibe fotos no acampamento do QG, publicações em favor do ex-presidente Jair Bolsonaro e até mesmo uma petição pelo impeachment de Moraes.
Aquino assinou contrato com uma empresa de Brasília para o fornecimento semanal de 50 banheiros químicos e uma tenda, a um custo de R$ 6.600. O documento tem a data do dia 4 de novembro e prevê a renovação contratual automática a cada semana, mas não estipula um prazo final para o fornecimento.
A coluna entrou em contato com seu telefone, mas foi informada que Aquino havia se desfeito do aparelho. Participantes do QG do Exército dizem que ela trocou de contato e se afastou dos manifestantes bolsonaristas após a prisão dos acampados. A coluna também enviou mensagens por e-mail e redes sociais, mas ainda não houve resposta.
A PF também apura se a outra empresa fornecedora dos banheiros químicos, a PipiEasy, foi uma financiadora do acampamento.
Segundo os investigadores, a empresa cedeu banheiros químicos sem previsão de pagamento pelo serviço. O negócio foi formalizado com um contrato de mútuo (modalidade comum de empréstimo de dinheiro entre particulares). Esse contrato foi firmado com um microempreendedor individual do Distrito Federal, Leandro Soares. Procurado pela coluna, Soares disse que administrou a cessão desses banheiros para o QG, mas afirma que os manifestantes arrecadavam recursos e pagavam pelo serviço. Ele não soube citar nomes dos pagadores. "Eles sempre pagavam em dinheiro", afirmou.
Em suas redes sociais, a empresa fez uma publicação anunciando ter trabalhado na posse do então presidente Jair Bolsonaro em janeiro de 2018. Questionada, a empresa disse que não iria se manifestar porque já havia fornecido as informações à PF.
Tenda de alimentação
A investigação também chegou ao nome de um dos responsáveis pelo fornecimento de alimentação gratuita ao acampamento. Rubem Abdalla Barroso Júnior é sócio de uma empresa de representação comercial em Macapá (AP), participava de grupos bolsonaristas no WhatsApp e divulgava publicações contra Lula em suas redes sociais. Para aprofundar as investigações e descobrir se havia mais gente pagando pela comida do acampamento, a PF cumpriu busca e apreensão contra Abdalla no final de janeiro, com autorização do STF. Suas redes sociais foram bloqueadas.
Em um resumo enviado ao STF sobre o alvo, a PF descreve desta forma a atuação de Abdalla: "Responsável por uma das tendas de alimentação coletiva instaladas na frente do QGEx e no SMU, ambos em Brasília. Indivíduo com inúmeros antecedentes e mandado de prisão em aberto por dirigir embriagado - Vara de Macapá/AP". A coluna telefonou para os números de Abdalla, mas não conseguiu contato.
A investigação da PF também cita um empresário de Minas Gerais como responsável pelo fornecimento de atendimento médico gratuito no acampamento, Diego Albs Passos. Ele é diretor de uma associação privada cujo objeto é "pesquisa e desenvolvimento experimental em ciências físicas e naturais" e também é sócio-administrador de um consultório odontológico.
Os investigadores fizeram uma verificação na área do acampamento e encontraram um cartaz pedindo doações para uma chave Pix pertencente a Albs. "No local foi montado, ao lado do ponto de recarga de celular, uma tenda com identificação de posto médico com atendimento voluntário, havendo um cartaz com pedido de doação", diz a PF. Albs não quis comentar.
Suspeitos de financiarem o acampamento, os empresários responsáveis por enviar caminhões a Brasília prestaram depoimentos e negaram terem enviado recursos para bancar a estrutura do local. Eles atribuíram aos empregados a decisão de levar os caminhões ao ato "por livre e espontânea vontade".
Em um dos depoimentos, Alexandro Lermen, sócio do grupo que leva seu sobrenome, admitiu que 13 caminhões de sua empresa foram levados ao ato em Brasília, mas disse que não pagou as despesas dos funcionários. "Foram os próprios funcionários que se dispuseram a participar. Que de livre e espontânea vontade levaram os caminhões para Brasília", afirmou à PF.
Quebras de sigilo
A descoberta dos primeiros nomes de possíveis financiadores é o passo inicial da investigação para desvendar toda a estrutura financeira. Após encontrar essa primeira camada, a PF também pretende detectar se esses empresários receberam pagamentos de outros financiadores, que ainda permanecem ocultos nessa estrutura.
Essa estratégia está sendo adotada em uma outra frente de investigação, que busca descobrir quem bancou os ônibus para os manifestantes se deslocarem à capital federal para o ato do dia 8 de janeiro.
Após a própria Advocacia-Geral da União (AGU) ter descoberto uma lista de 59 pessoas físicas e jurídicas que formalmente aparecem como contratantes desses veículos nos registros da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), a PF busca o caminho do dinheiro para saber se há mais financiadores no esquema.
Para isso, a PF está analisando relatórios de inteligência financeira do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e quebras de sigilo bancário dos contratantes dos ônibus, com o objetivo de destrinchar outras camadas do fluxo financeiro.
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