Bolsonaro vira cilada para Valdemar, que avalia se afastar do ex-presidente

Os atos de terrorismo em Brasília deram força ao grupo do PL que pressiona o presidente do partido, Valdemar Costa Neto, a se afastar de Jair Bolsonaro. A avaliação é de que o experiente dirigente caiu em uma "cilada" ao se vincular tão diretamente ao clã Bolsonaro.

Em sentido contrário, está mais fortalecido quem prega no PL uma aproximação com Lula e os governistas em troca de espaço nas mesas diretoras da Câmara e do Senado ou mesmo na estrutura de segundo e terceiro escalões do Executivo federal,

Um interlocutor de Valdemar disse à coluna que o dirigente está reavaliando o apoio incondicional que prometeu ao ex-presidente porque entende ser grande o risco de Bolsonaro ser preso no médio prazo e arrastar com ele outros políticos.

Esse mesmo interlocutor lembra que Valdemar sempre foi conhecido como um dirigente partidário "pragmático", pouco afeito à ideologia, e que sempre trabalhou e ganhou força na democracia e dentro das instituições, especialmente no Legislativo e no Executivo.

Uma tese que ganha força no partido é de que uma eventual prisão de Bolsonaro desobrigaria o PL de bancar os custos de Bolsonaro em Brasília, onde ele atuará na condição de líder da oposição.

Um líder de oposição não consegue confrontar o governo da cadeia, resume um parlamentar do PL que trabalha pelo afastamento do partido de Bolsonaro. Como consequência, o grupo da sigla que hoje busca uma aproximação com o governo Lula sairia fortalecido do processo.

O principal entrave para o afastamento do partido da família Bolsonaro está no grupo de parlamentares radicais eleitos com o apoio do ex-presidente, que inclui seu filho Eduardo (SP).

O PL prometeu pagar salários para Bolsonaro e sua mulher, Michelle. No total, o casal receberá cerca de R$ 70 mil mensais. A despesa é fonte de discórdia na cúpula do partido.

Após os atos terroristas do domingo (8), Valdemar disse, em vídeo, que o "movimento de Brasília é uma vergonha para todos nós e não representa o nosso partido, não representa o Bolsonaro". Quem conhece bem o experiente dirigente enxergou no pronunciamento o desejo dele de, rapidamente, deixar claro que não tem qualquer ligação com os criminosos.

Valdemar, que já esteve preso por causa do mensalão, teme virar alvo do STF (Supremo Tribunal Federal). "Todas as manifestações ordeiras são legítimas. A desordem nunca fez parte dos princípios da nossa nação. Quero dizer a vocês que condenamos veementemente este tipo de atitude. E que a lei seja cumprida, fortalecendo a nossa democracia", afirmou ele.

Na esteira da boa votação do ex-presidente, o PL elegeu 99 deputados federais, a maior bancada da futura Legislatura. Porém, não há unanimidade no partido quanto ao apoio incondicional a Bolsonaro, como prometeu Valdemar.