A capoeira, patrimônio cultural brasileiro, passa fome em Salvador
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A pandemia do coronavírus que afastou os visitantes dos locais turísticos de Salvador, como o Pelourinho e o Mercado Modelo, também retirou a renda dos capoeiristas que vivem da apresentação e da venda de lembranças da cidade.
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) incluiu o ofício dos mestres da capoeira no Livro dos Saberes, e a roda de capoeira no Livro das Formas de Expressão do Brasil. Isso significa que é dever do Estado brasileiro elaborar projetos e políticas públicas de preservação e continuidade desta manifestação cultural.
As aulas de capoeira em academias, outra fonte de renda dos capoeiristas, estão suspensas desde março, quando iniciaram as medidas restritivas para conter a contaminação. Muitos mestres estão passando dificuldades e sobrevivem de doações.
"A situação de quem vive da capoeira, especialmente em apresentações nas ruas, é a pior possível", alerta o cantor, compositor e mestre de capoeira, Antônio Carlos Gomes Conceição, o Tonho Matéria.
Ele coordena a Associação Cultural de Capoeira Mangangá, que oferece aulas para cerca de 500 jovens e crianças carentes.
"Pedimos o apoio de empresas parceiras e conseguimos realizar a doação de 900 cestas básicas para amenizar a situação de capoeiristas e suas famílias".
Os valores deixados, de forma voluntária, por turistas brasileiros e do exterior, que apreciam as rodas de capoeira nos pontos turísticos de Salvador, garantem a sobrevivência desses artistas.
Muitos capoeiristas são também artesãos e comercializam, em eventos culturais e nas próprias rodas, instrumentos musicais, além de CDs e livros sobre a capoeira.
"A capoeira é a principal responsável pela divulgação da cultura brasileira pelo mundo. Os capoeiristas são divulgadores da língua portuguesa, da música brasileira e atraem visitantes estrangeiros para o país, além de salvar muitas vidas. Muitos jovens encontram na capoeira estímulo para os estudos e para sonhos mais altos", ressalta Tonho Matéria.
O Conselho da Salvaguarda da Capoeira na Bahia, vinculado ao Iphan e formado por representantes da sociedade civil para a preservação da capoeira, tem buscado garantir que os municípios reconheçam as escolas de capoeira como espaços culturais a serem contemplados pela Lei Aldir Blanc.
Recentemente aprovada no Congresso, a lei destinará recursos federais para o socorro emergencial dos artistas e fazedores da cultura em todo Brasil. A preocupação é de que o caráter muitas vezes informal do ensino da capoeira prejudique a distribuição dos benefícios, já que muitos capoeiristas atuam em espaços improvisados ou em suas próprias residências.
O auxílio financeiro da Lei Aldir Blanc é uma das esperanças de José Alves, o mestre Zé do Lenço, 71 anos de idade e 60 anos dedicados à capoeira angola, considerada a mais tradicional. Ele mantém a Associação de Capoeira Relíquias Espinho Remoso, no Mercado São Miguel, no centro de Salvador.
Há 30 anos, Zé do Lenço mantém as aulas e rodas de capoeira no mercado, resistindo ao abandono do local, que mesmo próximo ao Pelourinho não foi incluído nas reformas que promoveram a revitalização do Centro Histórico de Salvador a partir da década de 1990.
"Mantivemos a capoeira angola firme neste espaço, atraindo muitos visitantes, mesmo com todo preconceito e estigma do local. Somente agora, finalmente, aconteceu uma reforma, que não foi concluída por conta da pandemia", conta o mestre.
A expectativa é de que no dia 29 de setembro, data dedicada a São Miguel Archanjo, uma roda de capoeira marque a reinauguração do mercado. Vai depender do controle da contaminação da covid-19 em Salvador e do retorno das atividades na cidade.
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