Sob benção de Lula, PT na Bahia perdoa MDB por impeachment e firma aliança

O ex-presidente Lula participou nesta quinta-feira, 31, em Salvador, do lançamento da chapa encabeçada pelo PT (Partido dos Trabalhadores) ao governo da Bahia, que terá como vice o MDB (Movimento Democrático Brasileiro).

Além de Jerônimo Rodrigues (PT), ex-secretário estadual de Educação e pré-candidato a governador, foi apresentado Geraldo Júnior, vereador e atual presidente da Câmara Municipal de Salvador, do MDB, agora pré-candidato a vice-governador.

Nacionalmente, PT e MDB estavam afastados desde o processo de impeachment de Dilma Rousseff, que levou o emedebista Michel Temer a ocupar a presidência da República, em 2016.

Na Bahia, o rompimento entre os dois partidos ocorreu nas eleições 2010, quando o MDB lançou Geddel Vieira Lima como adversário do então governador Jaques Wagner, que buscava a reeleição.

Liderança estadual do partido, Geddel está em liberdade condicional após cumprir 4 dos 14 anos de condenação por lavagem de dinheiro no caso do bunker de R$ 51 milhões, descoberto em 2017. O ex-deputado Lúcio Vieira Lima, irmão de Geddel, foi um dos parlamentares da legenda que votaram a favor do afastamento da presidente.

Nesta quinta-feira, porém, os petistas acolheram os novos companheiros em busca de fortalecer a chapa que tenta impedir a vitória do ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil), líder nas pesquisas, e manter o comando do estado que há 16 anos está sob governo do PT.

Perdão pela Lava Jato

No evento, Lula até falou em perdão, mas se referindo à Operação Lava Jato, que resultou em sua prisão. O ex-presidente respondeu a uma pessoa da plateia que segurava um cartaz com a mensagem: 'Lula, me perdoe porque eu acreditei na Lava Jato'.

"Você não precisa ser perdoado, porque você não cometeu nenhum crime. Quem cometeu crime é quem mentiu pra você. (...) Eu não preciso te perdoar porque você foi enganado e eu já perdoei até quem te enganou", afirmou Lula.

O pré-candidato do PT à presidência da República disse ainda que não pode governar o Brasil com ódio, nem vingança e fez duras críticas ao governo Bolsonaro.

O impeachment de Dilma foi lembrado por Lula quando o político demonstrou preocupação com as eleições dos próximos deputados e senadores.

"Não podemos votar em senador que fez o impeachment da Dilma", alertou.

Também integra a chapa, o atual senador Otto Alencar (PSD), que tentará a reeleição.

Lula demonstrou desconhecer candidato petista

O objetivo do evento era apresentar aos baianos o pré-candidato do PT ao governo da Bahia e reforçar que Jerônimo Rodrigues, ainda pouco conhecido pelo eleitorado, possui o apoio de Lula, do atual governador Rui Costa e dos senadores Jaques Wagner e Otto Alencar.

Porém, em seu discurso, Lula não escondeu que também conhece pouco o político escolhido pelo partido e se disse surpreso com a quantidade de pessoas no encontro. "O ato de hoje me surpreende e eu começo a acreditar".

Jerônimo foi o coordenador do programa de governo de Rui Costa, em 2014, e coordenou a campanha petista de reeleição em 2018. Antes de assumir a pasta da Educação, foi secretário de Desenvolvimento Rural.

"Quando eu fui avisado pelo companheiro Rui e pelo companheiro Wagner que eu deveria vir à Bahia para fazer uma apresentação do companheiro Jerônimo, eu pensei que o Jerônimo era aquele herói da televisão, de uma novela, 'Jerônimo, o herói do sertão'. Quando eu cheguei aqui eu descobri que era o secretário de Educação", brincou Lula.

O PT da Bahia terá como tarefa estreitar essa relação entre Lula e Jerônimo já que as pesquisas de intenção de voto demonstram a força do apoio do ex-presidente para alavancar a candidatura petista no estado.

Além de responder às críticas à atual gestão, especialmente em áreas que apresentam péssimos resultados como Segurança Pública e Educação, a campanha petista terá que equilibrar no palanque políticos até pouco tempo adversários. É o caso dos quadros do MDB que caminhavam junto ao ex-prefeito de Salvador.

Tudo isso em sintonia com as alianças nacionais em prol da campanha à presidência da República, prioridade do partido em 2022.

No evento, Rui Costa prometeu a Lula mais de 70% dos votos dos baianos nas próximas eleições presidenciais. "A maior vitória do Brasil será na Bahia", garantiu.

Em 2018, o candidato à presidência Fernando Haddad (PT) obteve 72,69% dos votos dos baianos.

A Bahia é o quarto colégio eleitoral. Principal adversário de Lula, o atual presidente Bolsonaro encontra dificuldade para firmar seu palanque no estado, com a ainda incipiente pré-candidatura ao governo do ex-ministro João Roma (PL).

Empolgado com a recepção do público que lotou um clube em Salvador para prestigiar a apresentação da chapa petista, Lula finalizou o discurso com o grito "Bahia, minha porra", expressão de vibração popularizada pela torcida do Esporte Clube Bahia.