André Santana

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Opinião

PT sofre derrota na capital e nas maiores cidades da Bahia

Com a reeleição do prefeito Bruno Reis (União Brasil), aprovado por 78,67% dos eleitores de Salvador, e a votação histórica do PSOL com o candidato Kleber Rosa, que alcançou a segunda posição no pleito, com 10,43%, o PT (Partido dos Trabalhadores) registrou uma derrota retumbante na Bahia.

O candidato apoiado pelo partido, Geraldo Junior, do MDB, atual vice-governador da Bahia - também apoiado pelo governador Jerônimo Rodrigues, pelo senador Jaques Wagner e outras figuras do petismo baiano -, teve o pior desempenho de um candidato do grupo nas últimas décadas.

Assim como na capital, o partido que governa o estado há 18 anos, perdeu nas maiores cidades baianas, como Feira de Santana, Vitória da Conquista, Senhor do Bonfim, Ilhéus, em municípios da Região Metropolitana de Salvador, como Lauro de Freitas e Candeias (só pra citar os locais onde o partido concorreu com candidatos próprios e perdeu). Somente na cidade industrial de Camaçari, que já era tida como garantida, o partido ainda concorre em um segundo turno.

Militância petista não embarcou com candidato vinculado com a direita

Os 137.298 votos conquistados por Geraldo Junior na eleição deste domingo (6) ficaram bem abaixo do até então recorde negativo que era a votação da candidata do PCdoB, Alice Portugal, representante do grupo na eleição de 2016, que obteve 193.102 votos.

Como foi adiantado aqui pela coluna, no mês de junho, a escolha de um candidato com vínculo histórico com a direita constrangeu a militância do PT, que não embarcou na campanha do vice-governador, que até pouco tempo era aliado de ACM Neto, principal adversário do projeto petista na Bahia.

O erro da escolha de Geraldo pela cúpula do PT baiano, por indiferença com a disputa na capital do estado, ou talvez pela arrogância conquistada nos anos de poder, começou em 2022. Em vista a eleger Jerônimo Rodrigues e manter o comando do governo, o partido foi buscar o apoio de Geddel Vieira Lima que ainda comanda o MDB no estado, mesmo após condenação por lavagem de dinheiro e associação criminosa, no escândalo das malas com R$51 milhões encontrados em um apartamento em Salvador.

Os mais insatisfeitos não eram os quadros do partido, que ocupam cargos nas gestões petistas e que, no final das contas, tiveram que segurar a bandeira de Geraldinho e se apoiarem na ideia do "Lula em Salvador é 15", confiando que o poder eleitoral do presidente seja suficiente para eleger qualquer aliado.

Os que mais apontaram a incoerência na escolha do candidato à eleição deste ano foram os militantes dos movimentos sociais que formam a base orgânica do partido. São lideranças sociais, comunitárias e sindicais que historicamente se envolvem nas campanhas, de forma espontânea, por encontrar convergência nos projetos políticos da esquerda brasileira que o PT ainda representa.

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Essa turma, questionadora e atuante, encontrou na candidatura de Kleber Rosa uma resposta às críticas que têm feito à política conduzida tantos pelo grupo do atual prefeito, herdeiro do Carlismo, quanto pelo governador, no quinto mandato consecutivo do PT na Bahia.

Pautas como o desemprego, o caos do transporte público e a insegurança de Salvador, não respondidas satisfatoriamente por nenhum dos dois lados que ocupa o poder, foram debatidas pelo candidato do PSol baseado em seu histórico de militância nos movimentos sociais.

Com poucos recursos e sem o apadrinhamento de lideranças nacionais da política, Kleber Rosa fez bom uso dos debates que participou e conseguiu convencer mais de 10% dos eleitores soteropolitanos, que era o verdadeiro representante da esquerda, cujos votos na disputa municipal não chegaram a um quarto do eleitorado.

Na reta final, o candidato reforçou ser o único, por exemplo, que sempre esteve do mesmo lado do presidente Lula, de ter sido um opositor ao bolsonarismo, além de militar em pautas estratégicas para a cidade como a segurança pública e o combate ao racismo.

São questões que interessam aos moradores da cidade com maiores taxas de homicídio e de violência policial, agravadas nas gestões carlistas/petistas, que se assemelham no descaso com esses temas.

A resposta ao eleitor na urna

Enquanto o PT viu minguar sua votação na capital, inclusive diminuído a presença na Câmara dos Vereadores, o Psol celebra a eleição de Eliete Paraguassu, representante dos pescadores e marisqueiras da comunidade quilombola de Ilha de Maré, que pertence a Salvador, mas é ignorada por políticos e por muitos moradores da cidade.

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Resta saber o que o PT baiano, maior perdedor desta eleição, fará da resposta dada pelos eleitores nas urnas. Se minimizará a vitória do prefeito, que conseguiu ampliar a aprovação do seu grupo, mesmo tendo vínculos com o bolsonarismo rejeitado pela maioria dos soteropolitanos.

Se continuará focado apenas na manutenção do poder no governo do estado, desprezando as disputas municipais e a defesa de pautas sociais que fizeram parte da construção e consolidação do partido.

Ou se apresentará um projeto que expresse o real interesse em finalmente governar a cidade que representa o terceiro colégio do país e na qual tem tido derrotas constantes, nos pleitos municipais e estaduais.

Também caberá ao Psol finalmente se consolidar como uma terceira via, buscando apoios e estruturas que o habilitem para de fato disputar a cidade, a exemplo do que apresentou nas últimas eleições em São Paulo.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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