Em novo debate, Marçal busca nova cadeirada para abastecer internet
No debate realizado nesta terça (17) pelo UOL e Rede TV, mais uma vez, o ex-coach Pablo Marçal, candidato do PRTB, utilizou sua estratégia de provocações contra seus adversários, repetindo acusações que já serviram para desestabilizá-los e forçá-los a entrar na cena calculada e encenada pelo candidato, que depende dessas pirraças para gerar imagens e alimentar suas redes sociais.
A visibilidade de Marçal depende desses mecanismos de sensacionalismo e polêmicas que encontram terrenos férteis na internet para florescerem em ganhos financeiros, políticos e eleitorais. A "lacração" nas redes tão condenada pelos seguidores da direita conservadora é estratégia de marketing e sobrevivência de figuras deste campo político como Nikolas Ferreira, Jojo Todynho e o próprio Marçal.
O esquema valorizado nas redes digitais parece simples e provoca os mesmos efeitos quando repetido em um debate eleitoral: eles lançam uma ofensa ou acusação a alguém e aguardam a reação para se dizerem ameaçados ou agredidos por suas ideias.
Dessa forma, Marçal já conseguiu fazer Guilherme Boulos (PSOL) tentar arrancar a força uma carteira de trabalho da sua mão e provocou o apresentador José Luiz Datena à perda total do controle com a agressão física com uma cadeira.
Neste último debate do UOL e Rede TV, o atual prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, do MDB, foi quem mais mordeu a isca de Marçal e bateu boca com ele, necessitando da intervenção altiva da mediadora, a jornalista Amanda Klein. Mais um lamentável desrespeito aos eleitores e ao processo eleitoral.
Nunes perdeu o controle do jeito que Marçal queria e tentou a mesma estratégia com os outros candidatos, ao utilizar apelidos depreciativos, retomar acusações de assédio, violência contra mulher e uso de drogas. Uma outra cadeirada daria ao candidato os combustíveis que precisava para responder a todos que minimizaram a agressão sofrida e apontaram os exageros para uso eleitoreiro.
Pirraças de sala de aula
Ao invés do confronto civilizado de ideias, o comportamento dos candidatos a administrar a maior cidade do Brasil repete os pré-adolescentes em uma turma do 5º ano do Fundamental. Nesta terça, coube à jornalista fazer o desagradável papel exercido pelas professoras, que têm os ricos conteúdos das suas aulas desviados pelos ímpetos de valentias dos meninos recentemente saídos da infância.
Os debates eleitorais são, em teoria, uma oportunidade para os candidatos apresentarem suas ideias e confrontarem propostas, permitindo que o eleitor tome uma decisão com base em informação e na capacidade de analisar problemas apresentados e articular soluções.
No entanto, o que tem acontecido é a transformação desse espaço em um verdadeiro picadeiro de provocações e ataques pessoais, protagonizado por figuras como Pablo Marçal. Seu comportamento nos debates, marcado pela provocação constante e por estratégias que buscam criar cenas virais para as redes sociais, é um exemplo claro de como a política está sendo sequestrada pelo espetáculo midiático.
É de provocar vergonha ver o candidato repetir uma coreografia com os dedos ou colar o adesivo na própria boca ao invés de prestar atenção na fala do adversário. Quem não recorda de um colega babaca que, na ausência de argumento para um debate, partia para provocações como essa, enquanto outros tentavam organizar raciocínios?
Cadeirada é o ápice da estratégia de violência na política
A sensação é que Marçal não está ali para debater propostas ou se envolver em discussões construtivas sobre o futuro da maior economia do país. Ele quer viralizar. Tanto que convida o tempo inteiro para o engajamento, repetindo o nome do seu perfil, pois lá estão os holofotes para seu espetáculo sem filtros ou decoros. Seu objetivo é provocar reações extremas, seja de seus adversários, dos jornalistas, seja da plateia, para alimentar seu conteúdo nas redes sociais e fortalecer sua presença nesse campo. Ele sabe que o caos é um recurso para despertar atenção e gerar engajamento.
A cadeirada dada pelo candidato Datena do PSDB em Marçal simboliza bem a escalada da violência na política e atende, de forma conveniente, à estratégia de Marçal. Ao provocar seus adversários até o ponto de ruptura, ele obtém exatamente o que quer: mais imagens, mais manchetes, mais cliques e mais atenção. Quem sabe até mais votos.
Ao transformar os debates em um campo de batalha de provocações, os candidatos enfraquecem a já frágil confiança da população no sistema político, alimentam a cultura de ódio e da intolerância e desestabilizam a democracia. O espaço de diálogo, fundamental para a saúde democrática, é corroído pela polarização extrema e pela violência simbólica que eles promovem.
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Quero receberO debate público é corroído e as ideias e propostas perdem espaço para a disputa de egos e de valentias.
A indiferença é uma saída
Uma possibilidade de evitar isso é não entrar no jogo do franco atirador. Ele quer ser polêmico, quer brigar, quer viralizar. Cabe aos seus adversários, à imprensa e, principalmente, ao eleitor, não cair nessa armadilha. Quanto mais se importarem com as provocações, mais ele fará. A indiferença, nesse caso, é uma arma muito mais poderosa do que qualquer confronto.
Neste caso, um belo exemplo de segurança e frieza diante da agressividade do candidato do PRTB veio do jornalista Diego Sarza que cobria os bastidores do debate. O apresentador do UOL News entrevistou todos os demais candidatos na chegada à emissora, questionando-os sobre as expectativas diante do confronto. Apenas o ex-coach tentou desestabilizar o jornalista, falsamente acusando-o de não falar a verdade e tentando gerar mais um conflito para fortalecer sua imagem de perseguido por todos.
Diante de ridícula encenação, que em nada contribuiria ao propósito do debate organizado pelos dois veículos de imprensa, Sarza apenas encerrou o que poderia ser uma entrevista e devolveu para a colega jornalista que ancorava a transmissão pré-debate. Marçal ficou sem um palco.
Apesar do início conflituoso entre Ricardo Nunes e Marçal, na continuidade do debate ficou a impressão que os candidatos já entenderam a estratégia e tentaram conter seus instintos não se deixando inflamar. Datena inclusive afirmou que "não bateria duas vezes em uma covarde".
Ao ignorar suas provocações e insistir em discutir o que realmente importa — as políticas públicas, os desafios que a cidade de São Paulo enfrenta e as soluções propostas —, retira-se o oxigênio que alimenta as campanhas baseadas no caos. Esse modelo contrário à política não merece a atenção que tanto busca. Marçal, no fim das contas, não é o centro do debate.
O que está em jogo e merece todo empenho é combater as desinformações, as mentiras, investigar e esclarecer denúncias, evidenciar crimes do passado e do presente e expor propostas e interesses. Esse deveria ser o foco do debate e das campanhas eleitorais.
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