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Entenda o que é o 'mar de dendê' no samba que exaltou Exu na Grande Rio
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O clima quente dos tons de vermelho e amarelo, que predominaram no desfile da Grande Rio, formaram um grande "mar de dendê" na Marquês de Sapucaí.
O óleo de palma, valorizado na culinária afro-brasileira, é presença fundamental no culto aos orixás, em especial Exu, o homenageado pela escola de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.
A escola volta a defender hoje o enredo "Fala, Majeté! As Sete chaves de Exu!" no Desfile das Campeãs.
O espetáculo conduzido pelos carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora teve como uma das inspirações as obras do artista baiano Ayrson Heráclito, que há 30 anos pesquisa elementos da cultura e religiosidade afro-brasileira.
Uma mostra desses trabalhos pode ser conferida na exposição Yorúbàhiano, que reúne mais de 60 obras e performances do artista, em cartaz na Estação Pinacoteca, em São Paulo.
Antes, as obras de Heráclito foram expostas no MAR (Museu de Arte do Rio). "Conheci o Gabriel Haddad e o Leonardo Bora nesse processo de apresentação da exposição no MAR. As minhas pesquisas sobre dendê viraram referência de inspiração na pesquisa para o desfile", conta Heráclito para a coluna.
"Exu é o orixá do dendê. Fiquei muito feliz com a vitória da escola e ter meu trabalho como uma inspiração. Sem dúvida, a vitória é uma grande ação afirmativa contra a intolerância religiosa", comemora o artista.
Muito presente nas criações artísticas de Heráclito, o dendê deu o tom do desfile. "A própria citação no samba enredo do mar de dendê, da utilização das cores e do dendê como um fluido vital da divindade Exu, o sangue vegetal", pontua.
O artista explica esse "mar de dendê" visto na Sapucaí e cantado no samba enredo da Grande Rio.
O mar de dendê é o Atlântico Negro, como útero gestor da cultura afro-diaspórica. O mar de dendê também representa os fluidos vitais: o sangue, o sêmen e a saliva do corpo cultural afro-diaspórico, emblematizado pelo Deus Exu."
Ayrson Heráclito, artista plástico
Para além da imagem consolidada de martírio, a travessia é vista em sua ação geradora de uma cultura e de povo, que luta e cria possibilidades de existências.
O orixá mais demonizado pelo racismo religioso ao longo da história, e pelo ódio que permanece e se atualiza pela intolerância neopentecostal, foi apresentado no desfile da Grande Rio em sua potência e vitalidade.
Para as religiões de matriz africana, Exu é caminho, movimento, possibilidades e transformações. Todas essas características estiveram estampadas na passagem da escola campeã do Carnaval 2022.
Exu é o próprio espírito do Carnaval, festa da liberdade, espontaneidade e da inversão da ordem.
A escola trouxe os excluídos, valorizando as criações a partir dos lixões e da irreverência do povo das ruas, morada de Exu.
Ayrson Heráclito lamentou não poder se deslocar da cidade de Cachoeira (BA), onde é professor na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, para acompanhar de perto o desfile e as inspirações em sua arte.
A exposição Yorubano fica em cartaz, com acesso gratuito, até agosto na Pinacoteca de São Paulo, na região central da capital paulista. Ayrson Heráclito conta que está preparando os lançamentos do catálogo e de um livro sobre a obra e que, ainda neste ano, fará exposições na França, Itália e Alemanha.
Que a força potente e criativa de Exu abra muitos caminhos para essa arte repleta de referências ancestrais.
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