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André Santana

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Post preconceituoso de Michelle mira evangélicas que não votam em Bolsonaro

Jair Bolsonaro com Michelle Bolsonaro em culto evangélico - Isac Nóbrega/PR
Jair Bolsonaro com Michelle Bolsonaro em culto evangélico Imagem: Isac Nóbrega/PR

Colunista do UOL

10/08/2022 18h58

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Que o governo Bolsonaro tem repulsa aos povos e comunidades tradicionais, como indígenas, quilombolas e religiosos do candomblé e da umbanda não é novidade para ninguém.

O presidente e seus apoiadores não fazem questão alguma de abrir diálogo respeitoso com quem mantém tradições culturais e religiosas diferentes daquela que dizem defender e que pretendem ser exclusiva no Brasil, mesmo sendo este um país laico.

As falas da primeira-dama Michelle Bolsonaro sobre o domínio de demônios nos governos passados e o compartilhamento de montagem de imagens que tentam ofender as religiões de matriz africana não são nenhuma novidade.

Pelo menos não surpreende o chamado "povo de santo", adeptos das religiões que são alvo de intensa intolerância por parte da sociedade brasileira e cuja violência só cresceu a partir deste governo chefiado por quem ataca a democracia e se opõe ao respeito inter-religioso.

O alvo do desespero de Michele Bolsonaro são as mulheres evangélicas que não embarcam na intolerância e no racismo religioso propagado pelo marido.

São as cristãs que, conhecendo os ensinamentos bíblicos que professam, não encontram correspondência entre os ensinamentos de amor e fraternidade pregados por Cristo e os insanos e criminosos estímulos à violência e ao ódio entre brasileiros, alimentados diariamente por Bolsonaro e seus seguidores.

Mulheres freiam intenções de voto em Bolsonaro no segmento evangélico

Essas evangélicas que se opõem ao fanatismo intolerante não são poucas e têm conseguido impedir o crescimento das intenções de voto do atual presidente no segmento evangélico.

A última pesquisa Datafolha, divulgada na segunda-feira (8), mostra que as fiéis das religiões evangélicas se posicionam bem diferente do grupo masculino de mesma fé.

Enquanto entre os homens evangélicos, Bolsonaro conta com 48% de intenções de voto contra 28% do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, entre as mulheres, a vantagem é de apenas 4 pontos percentuais (29% a 25%), colocando o atual presidente em empate técnico com o petista nesse segmento.

Além disso, 34% das evangélicas não conseguiram responder em quem votaria, quando não foram apresentadas as opções de candidatos (pesquisa espontânea).

Governo antiensinamentos cristãos

Esforços não faltaram a Bolsonaro para atrair evangélicos, como a participação em cultos neopentecostais com líderes partidários, a nomeação de pastores no governo e até a indicação de um ministro "terrivelmente evangélico" para o STF (Supremo Tribunal Federal), além da incorporação nos discursos de trechos bíblicos e frases de efeito, como a falsa acusação de que haveria uma cristofobia no Brasil.

Tudo isso não faz sentido saindo da boca de um presidente que estimula o ódio, a violência, que despreza a vida e que não se solidariza com as vítimas, seja da pandemia, seja da insegurança urbana, seja da intolerância instaurada em todo país, como no caso dos assassinatos dos ambientalistas Dom Phillips e Bruno Pereira e do guarda municipal Marcelo Arruda, morto durante o seu aniversário, vítima da fúria odiosa de um bolsonarista.

Felizmente, muitas mulheres sabem que não há nada de cristão neste governo, marcado também por incompetência administrativa e denúncias de corrupção envolvendo, inclusive, sujeitos que ocuparam espaço nesta gestão em nome da fé.

É para essas evangélicas —que se negam a dar o voto para manutenção desse governo— que se direciona a pergunta de Michelle Bolsonaro: "Isso pode?"

Nas imagens da montagem, a expressão da fé e da cultura de um povo, que não precisa — e não faz questão— de converter ninguém nem mesmo o ex-presidente que participava do ato.

Vítimas do racismo religioso, adeptos do candomblé e da umbanda mantêm tradições herdadas dos antepassados e/ou adaptadas pela rica expressão da fé brasileira, sem precisar ocupar espaços nos meios de comunicação ou nas tribunas do poder.

Não há, para essa comunidade, nenhuma tentativa de impor sua crença e suas práticas para os demais, o que não impede que haja diálogos e acolhimentos entre religiosos de diferentes segmentos.

Já na legenda que se seguiu às imagens e nos comentários, a demonstração do desrespeito e da intolerância que marcam este governo e que têm sido motivação para a imensa rejeição, que dificulta e poderá impedir a reeleição do presidente.

Que mais cristãos, homens e mulheres, se convençam da ameaça que o fanatismo bolsonarista representa à democracia brasileira e à livre expressão da religiosidade do povo brasileiro.