Andreza Matais

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Alexandre Silveira ignora Lira e comunica empresas de energia sobre decreto

Após fritar o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, o ministro Alexandre Silveira (Minas e Energia) parte para confrontar o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Em reunião com os CEOs de nove distribuidoras de energia, nesta quinta-feira (4), o ministro informou que irá encaminhar à Casa Civil o decreto de renovação dos contratos do setor na próxima semana.

Excluída das discussões, a Câmara ameaça aprovar um projeto que transfere do Executivo para o Legislativo a responsabilidade por negociar os contratos de energia.

O ministro Rui Costa (Casa Civil) chegou a pedir na semana passada à Câmara que adiasse a votação para viabilizar a construção de um acordo pelo qual os deputados poderiam participar da discussão do decreto. Foi ignorado pelo colega de governo. A reunião ocorreu sem a participação de nenhum parlamentar.

No encontro com os CEOs, Silveira foi incisivo, segundo apurou a coluna. Disse que as empresas lucraram e não realizaram investimentos e prometeu ser mais rígido nos novos acordos. O decreto, antecipou, irá estabelecer requisitos básicos para a renovação dos contratos, e cada empresa terá uma negociação separada.

Estavam presentes representantes da Equatorial Energia, CPFL Energia, EDP, ENEL, Grupo Energisa, Neoenergia, Light e Neoenergia. A renovação dos contratos envolve valores que chegam a R$ 180 bilhões.

Os contratos começam a vencer no próximo ano. O primeiro deles é com a EDP no Espírito Santo. A empresa tem 1,62 milhão de clientes no estado.

As tratativas ocorrem quando as empresas enfrentam críticas pelos serviços prestados. Oficialmente, o discurso em Brasília é que há preocupação com os consumidores que pagam a conta de luz e recebem um serviço insatisfatório. Grande parte das cidades está as escuras e empresários perdem negócios pela demora na entrega de energia. Mas, na prática, o que movimenta o assunto são os muitos bilhões envolvidos.

Os acordos

No ano passado, o ministro sentou sozinho com BTG, Âmbar (J&F Investimentos), KPS, Tradener, Rovema e Fênix para discutir contratos assinados ainda no governo Bolsonaro no valor de R$ 40 bilhões. O grupo de Lira não gostou de ficar de fora.

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Nesta semana, o Tribunal de Contas da União (TCU) arquivou o acordo com a Âmbar, mesmo a empresa aceitando pagar à vista uma multa de R$ 1 bilhão. O caso deve ser judicializado. A explicação extraoficial é que tudo o que envolve o grupo J&F gera receio depois dos escândalos de corrupção que envolveram o grupo.

Enquanto isso, o BTG fez um acordo vantajoso costurado pelo advogado Marcus Vinícius. O ex-presidente da OAB é amigo do ministro e doou R$ 100 mil para a campanha dele ao Senado em 2022. Os dois negam que a amizade tenha relação com o acordo.

O choque com Jean Paul

A audácia do ministro é explicada por seus interlocutores pela proximidade com o presidente Lula. Como mostrou a coluna, ele ajudou o petista na eleição em Minas Gerais, quando quase todo mundo se voltou para o governador Romeu Zema (Novo), apoiador de Jair Bolsonaro. Silveira tem ainda uma arma secreta. Sua esposa, Claudia, tornou-se próxima da primeira-dama Janja, que controla todos os acessos ao presidente.

Os padrinhos para o ministério foram o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), e o presidente do PSD, Gilberto Kassab (SP).

No ministério, Silveira entrega a Lula uma agenda positiva. Uma das medidas de maior impacto eleitoral para o governo sairá de sua pasta. Ele prepara uma Medida Provisória que irá reduzir o valor da conta de luz. Como diria Paulo Guedes, o ex-ministro da Fazenda de Bolsonaro, é o chamado "dinheiro direto na veia do povo".

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O tamanho do ministro no governo será medido nos próximos dias, caso ele consiga fazer o sucessor do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates. Mesmo após Lula pedir trégua, o ministro atacou o CEO publicamente. Em entrevista à Folha de S.Paulo, disse que um bom presidente da petroleira deveria reunir três características: humildade, discrição e competência. Perguntado se Prates tinha essas qualidades, alfinetou: "Não vou rotular ninguém".

A queda de Prates colocará Silveira de vez no grupo de ministros mais poderosos do governo, ao lado de Fernando Haddad (Fazenda) e Rui Costa (Casa Civil).

Vale Ouro

Outro tema com interferência direta de Alexandre Silveira é a presidência da Vale.

Paulo Caffarelli, ex-presidente do Banco do Brasil, é hoje o nome mais forte para o emprego, depois de Guido Mantega ter queimado a largada. É a vaga dos sonhos, com remuneração anual de R$ 59,9 milhões ou R$ 5 milhões ao mês. O salário do ministro, por exemplo, é de R$ 46,3 mil. Petistas como João Vaccari, Carlos Gabas e André Vargas, por exemplo, atuam como cabos eleitorais.

Silveira teria preferência por Luiz Henrique Guimarães, ex-CEO da Cosan.

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