Andreza Matais

Andreza Matais

Só para assinantesAssine UOL
Reportagem

Presidente da Conab tem 26 assessores pessoais, 12 a mais do que Lula

O presidente da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), Edegar Pretto, montou uma estrutura que lhe garante 26 assessores pessoais. É mais do que tem o presidente Lula (PT), que conta com 14 pessoas vinculadas diretamente ao seu gabinete pessoal, duas delas atendendo a primeira-dama Janja da Silva.

A empresa pública é um órgão de assessoramento do governo, responsável por regular os preços dos alimentos. Foi a Conab que executou, por exemplo, o leilão de arroz importado, anulado por suspeitas de "falcatrua", como definiu Lula.

Do total de auxiliares diretos do presidente da Conab, 23 foram nomeados na gestão de Pretto nos cargos comissionados com salários de R$ 16,9 mil. O outros três são funcionários concursados, que recebem até R$ 14 mil com o adicional por função. Por ano, a Conab paga só para os assessores pessoais do presidente em média R$ 5,6 milhões em salários. É tanta gente que não há espaço para acomodá-los no terceiro andar, onde fica o gabinete da presidência. Alguns estão espalhados até mesmo no subsolo, térreo e primeiro andar.

Na gestão anterior, nomeada pelo governo Bolsonaro (PL), a presidência da Conab contava com 13 assessores diretos, dez de livre nomeação e três concursados.

Entre os comissionados, estão apadrinhados dos ministros do PT Paulo Pimenta (ex-Secretário de Comunicações) e Rui Costa (Casa Civil), colegas de partido do presidente da Conab; um ex-diretor da empresa pública e a esposa de Neri Geller, o ex-secretário do Ministério da Agricultura demitido no rastro do escândalo do leilão do arroz importado. Neri admitiu à coluna que a indicação da Juliana Geller partiu dele.

Procurada, a assessoria da Conab disse que "não houve criação de vagas, e sim o cumprimento do quadro já aprovado pela Sest em 2018", em referência à Secretaria de Coordenação e Governança das Empresas Estatais, responsável por aprovar alteração no regimento das empresas.

A coluna apurou que a Conab encaminhou à Sest uma proposta de mudança no regimento interno com a abertura de novas vagas. A companhia nega. "Há um reaproveitamento de funções gratificadas de unidades extintas, que serão ocupadas exclusivamente por empregados concursados", disse.

Ouvidoria

No início do mês, o presidente da Conab trocou uma servidora concursada pelo ex-deputado Vanderlei Siraque no comando da Ouvidoria. Antes, o advogado foi vereador de Santo André (SP), deputado federal e deputado estadual em São Paulo eleito pelo PT.

Continua após a publicidade

A Conab afirma que Roberta Marchini Loureiro ocupava a vaga interinamente e que a indicação do substituto partiu do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, comandado pelo petista Paulo Teixeira.

A Conab é vinculada à pasta de Teixeira. Tradicionalmente, a empresa era subordinada ao Ministério da Agricultura, comandado por Carlos Fávaro (PSD), razão pela qual, para evitar queda de braço, os dois ministérios decidiram dividir a indicação dos cargos.

A troca na Ouvidoria —responsável por receber denúncias na empresa— ocorre após suspeitas de ilegalidades no leilão de arroz importado promovido pelo governo federal com a justificativa de conter o aumento de preços devido às enchentes no Rio Grande do Sul.

A área técnica da empresa se posicionou, contudo, contra a necessidade do certame por entender que não havia risco de desabastecimento. O governo justificava que havia um ataque especulativo para aumentar o preço do arroz e que não havia estoque para conter isso.

O presidente Lula disse que o certame foi cancelado por haver "falcatrua". A coluna revelou que o governo desistiria de uma nova tentativa, o que foi confirmado nos dias seguintes.

Leilão do arroz

Um mês depois da demissão de Thiago José dos Santos, responsável por executar o leilão, a diretoria de operações e abastecimento segue sem titular. A área é considerada o coração da Conab por ser responsável pelos leilões de compras de alimentos.

Continua após a publicidade

Na empresa, especula-se que Santos poderá voltar ao cargo, caso seu suposto envolvimento com as "falcatruas" no leilão do arroz não seja comprovado. Ele foi indicado para a vaga pelo ex-secretário da Agricultura Neri Geller, que foi demitido com a revelação de que seus ex-assessores intermediaram a participação de empresas sem relação com a importação de grãos no certame. Todas saíram vitoriosas.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Deixe seu comentário

Só para assinantes