Andreza Matais

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Reportagem

Clientes da Voepass registraram 4 mil queixas ignoradas por aérea e Anac

Relatos de problemas em aeronaves da Voepass Linhas Aéreas são inúmeros no Reclame Aqui, site referência em pesquisa de opinião sobre a qualidade dos serviços prestados por empresas. Somente na plataforma, são 4.151 reclamações ativas contra a empresa responsável pelo avião que caiu em São Paulo, matando 62 pessoas nesta sexta-feira (9).

A empresa não responde a maioria as criticas dos consumidores. Grande parte se queixa da conduta da aérea, como entregar bagagens quebradas, cancelar voos sem reembolso, alterar o horário sem informar com antecedência, mas também há relatos de problemas em aeronaves.

Danilo Romano, comandante da VoePass, era palmeirense fanático
Danilo Romano, comandante da VoePass, era palmeirense fanático Imagem: Reprodução/Facebook

Há nove dias, uma pessoa relatou que estava em um voo de Ribeirão Preto para Maceió com escala em São Paulo. Faltando 20 minutos para pousar em SP, o piloto retornou para Ribeirão Preto, alegando que o para-brisa estava quebrado.

Também há muitas queixas de que o ar-condicionado não funciona, submetendo os passageiros a calor extremo durante o voo. "Conversando com os moradores de Noronha, eles só sabem histórias péssimas da Voepass, não voam de jeito nenhum com essa empresa, e agora consigo entender o motivo", registrou outro cliente no Reclame Aqui.

Os mais de 4 mil relatos são acompanhados de comentários como:

"Se você tem amor à sua vida e à vida de sua família, não voe nesta companhia"

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"A situação da aeronave estava péssima. Aeronave sem espaço, passageiros não tinham onde colocar as bagagens de mão. Luzes piscando, sem funcionar"

"Avião com odor forte de querosene; assentos sujos e mal cuidados, botão para reclinar a poltrona quebrado, banheiro interditado, 50 minutos de voo e não se podia utilizar o banheiro."

E ainda: "A aeronave aparentava não ter condições de fazer aquela viagem, o ar-condicionado não estava funcionando em solo, diversas poltronas faltando mesas de apoio, travas de segurança demonstravam evidente desgaste e partes quebradas."

"Já dentro da aeronave, foi notório que se tratava de um avião velho e com aparência suja. Para dar um exemplo, fui acomodado em uma poltrona com o braço quebrado. O calor estava insuportável dentro do avião."

Um cliente da Voepass questionou como a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) permite que a empresa siga operando. A coluna procurou o órgão regulador do setor para saber quantas multas foram aplicadas à Voepass, mas a agência não informou.

Desde o acidente, a Anac se limitou a divulgar três notas: uma com três frases lamentando o acidente, assinada pela assessoria de comunicação social; outra informando que "a aeronave e os tripulantes estavam aptos a operar e com a documentação em dia"; e a terceira "alertando a imprensa sobre entrevistas com porta-vozes não oficiais da Anac".

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Nenhum diretor da agência reguladora se manifestou a respeito nos canais oficiais do órgão regulador. Nem mesmo assinam a nota que lamenta a tragédia.

O relatório mais recente de multas aplicadas pela Anac não inclui a Voepass entre as três empresas mais penalizadas entre 2017 e 2022 (Latam, Avianca e Gol). Em, junho, a companhia esteve entre as empresas que participaram de uma reunião na Anac para encontrar saídas para "redução da judicialização do setor aéreo".

A Voepass é a empresa aérea mais antiga em operação no país (atua há 29 anos) e ganhou esse nome em 2019; antes, era chamada de Passaredo, que tinha o apelido de "Passamedo" entre seus clientes.

Anac diz que "monitora" queixas

Neste domingo, a Anac encaminhou nota à coluna na qual afirma que recebeu somadas 562 queixas relacionadas à Voepass nos órgãos oficiais do governo neste ano.

A agência não informou quais os procedimentos adotados a partir das denúncias nem se houve punição à companhia aérea. Disse apenas que "monitora regularmente e faz o acompanhamento de reclamações de passageiros sobre a prestação de serviços".

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A nota não informa, mas os dados disponíveis no site da Anac mostram que as reclamações são crescentes e que entre 2022 e 2023 foram 218.944, sendo que 16.764 sobre a execução do voo.

"No primeiro trimestre de 2024, foram registradas 212 reclamações de passageiros contra a Passaredo Linhas Aéreas na plataforma Consumidor.gov.br. Dessas, 127 reclamações estão relacionadas ao tema "Execução do voo" (em especial, problemas no fornecimento de alternativas em caso de atrasos, cancelamentos, interrupção no serviço e preterição; e falhas na prestação de assistência material). O segundo tema mais reclamado é "Alterações pela empresa aérea", com 46 reclamações. Em terceiro lugar, o tema "Transporte de bagagens" teve 27 reclamações", informou.

"No Fale com a Anac, foram recebidas, no período de 01/01/2020 até 08/08/2024, 350 reclamações e solicitações de providência em relação à empresa Voepass. Os temas são variados, mas os principais motivos de reclamação são sobre alterações no contrato de prestação do serviço, check-in, embarque e transporte de bagagem", complementou.

Na nota, a Anac afirmou que "os diretores Luiz Ricardo Nascimento e Ricardo Catanant participaram de entrevista coletiva na sede do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos, em Brasília" no dia do acidente".

E que, no sábado, um dia após a tragédia, o diretor-presidente da Anac, Tiago Pereira, esteve no local do acidente e fez um pronunciamento, junto com outros órgãos envolvidos no trabalho de resgate dos corpos, assistência às famílias das vítimas e investigação, em Vinhedo (SP)". Não esclareceu, contudo, o fato de nenhum dirigente assinar a nota oficial lamentando a tragédia. O site oficial da Anac também não registra manifestações dos seus diretores sobre a tragédia.

"Trabalho árduo"

A Voepass também se manifestou neste domingo. "A empresa trabalha arduamente para atender as expectativas de seus clientes. A Voepass é solidária a eventuais queixas, que são consideradas para aprimorar a prestação de nossos serviços, e concentra o atendimento a elas nos canais oficiais" da companhia."

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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