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Balaio do Kotscho

Mercado derrete após o pibinho e o show das bananas. Tirem o "cercadinho"!

Dólar - Getty Images/iStock
Dólar Imagem: Getty Images/iStock

Colunista do UOL

05/03/2020 15h39Atualizada em 05/03/2020 19h18

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Ao meio dia desta quinta-feira, o dólar já tinha chegado a R$4,64, a 12ª alta consecutiva. Nas casas de câmbio, era vendido a R$ 5,05.

A esta altura, o Banco Central já havia feito duas atuações extraordinárias no câmbio, injetando US$ 2 bilhões no mercado, mas não adiantou nada.

No mesmo horário, a Bolsa despencava mais 2,36%.

Economia não é minha praia, mas não precisa ser um especialista neste ramo para perceber que com o real e a Bolsa derretendo, dia após dia, vivemos uma profunda crise de confiança no país.

A única reação do governo ao pibinho de 1,1% anunciado na véspera foi o show bananeiro oferecido por Bolsonaro no Alvorada, acompanhado de um palhaço da TV Record, debochando da crise econômica, que agora se soma à política neste início de ano.

É este clima de barata voa que afugenta os investidores daqui e de fora e assusta até os aliados do governo.

Paulo Guedes não tem nada mais a oferecer além da cantilena das reformas, que estão empacadas nas negociações do governo com o Congresso. Segundo ele mesmo, restam apenas 15 semanas deste ano eleitoral para desatar o nó. Consta que o ministro chegou até a chorar numa reunião com movimentos que apoiam o governo.

Mesmo após o acordão desta semana, em que se decidiu dividir meio a meio o bolão de R$ 30 bilhões do Orçamento impositivo, continua a fuzilaria dos bolsonaristas nas redes sociais contra o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, principal alvo das manifestações pró-Bolsonaro marcadas para o dia 15.

Com três protestos contra o governo previstos para os dias 8, 14 e 18, levando para as ruas as insatisfações gerais até aqui contidas nos gabinetes e reuniões das entidades da sociedade civil, ficará mesmo difícil acalmar o mercado.

Governando praticamente sem oposição até aqui, Bolsonaro parece atormentado com inimigos imaginários, sempre pronto a partir para o confronto —e agora também para o deboche— quando se vê diante de jornalistas que apenas estão fazendo seu trabalho.

Se tirassem aquele "cercadinho" do Alvorada, onde Bolsonaro dá seu show diário para devotos fiéis, sempre em busca de manchetes para mudar de assunto diante de temas delicados envolvendo o clã presidencial, já seria meio caminho andado. Também bastaria os jornalistas simplesmente não aparecerem mais por lá.

Por enquanto, o BC ainda está segurando o pau da barraca da economia torrando as reservas internacionais deixadas pelos governos petistas, mas um dia elas acabam.

Não é preciso ser nenhum Delfim Neto para perceber que isso não vai acabar bem. Colocar a culpa no coronavírus, em Brumadinho, na crise argentina, no Congresso e no STF não resolve nada, só agrava ainda mais a situação.

Quantos generais ainda serão necessários para evitar que o gabinete presidencial seja o principal foco das crises que afetam o humor dos mercados, e o país recupere a confiança?

Vida que segue.