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Acabou a mamata? Nepotismo militar e Centrão garantem Bolsonaro

O presidente Jair Bolsonaro cavalga ao lado de policiais militares em meio à manifestação pró-governo em Brasília, em 31 de maio - Dida Sampaio/ Estadão Conteúdo
O presidente Jair Bolsonaro cavalga ao lado de policiais militares em meio à manifestação pró-governo em Brasília, em 31 de maio Imagem: Dida Sampaio/ Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

21/07/2020 15h52

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Bolsonaro completa hoje duas semanas de quarentena por conta da covid-19, mas nunca andou tão sorridente nos jardins do Alvorada, apesar das bicadas das emas.

Mesmo sem ter apresentado até agora nenhum boletim médico sobre seu estado de saúde, será o tratamento à base de cloroquina o motivo da mudança de humor do presidente?

Nem faz tanto tempo, Bolsonaro estava balançando no cargo, acossado por ameaças de todo tipo, nas áreas política, jurídica e policial, tudo ao mesmo tempo.

De repente, tudo mudou. Nem se fala mais em impeachment, ameaça de golpe (de quem contra quem?), conflito entre Poderes, investigações no STF, julgamentos no TSE, caso Queiroz, insatisfações na caserna.

O que aconteceu?

A resposta talvez esteja no levantamento feito pelo Tribunal de Contas da União que revelou a presença de 6.157 militares em todos os escalões do governo, a começar pelo ministério, que já conta com dez fardados.

Desde a posse do capitão, esse número dobrou. Eles eram apenas 2.765, antes de Bolsonaro proclamar em alto e bom som:

"Acabou a mamata!".

Isso já é passado, coisa de campanha eleitoral.

Em lugar do antigo trem da alegria da "velha política", temos agora os tanques da alegria, ocupando postos-chave no governo e nomeando parentes.

A contabilidade dos parentes nomeados o TCU ainda não fez, mas esta semana a Casa Civil, chefiada pelo general Braga Netto, aprovou a nomeação da filha do próprio general para um cargo na ANS, com salário de R$ 13 mil. A filha é relações públicas, e a ANS é a Agência Nacional de Saúde, mas isso não importa.

Afinal, até a filha do general Villas-Bôas, o grande patrono do Exército, fiador da eleição de Bolsonaro, garantiu dois cargos no ministério de Damares Alves, como meu colega Bernardo Mello Franco revelou hoje em sua coluna no Globo, sob o título "A farra da farda".

Bem antes disso, o filho do vice-presidente, general Mourão, garantiu um salário de R$ 36 mil no Banco do Brasil, e por aí vai. O TCU não contou ainda os parentes e agregados.

Além do nepotismo militar, outro motivo para a tranquilidade do presidente foi a aquisição do Centrão de porteira fechada, costurada pelos generais Luís Ramos e Braga Netto, que afastou qualquer perigo de impeachment, em troca de verbas e cargos, à luz do dia.

Com a retaguarda garantida pelos militares e suas famílias, e o Centrão controlando a Câmara, Bolsonaro nem precisa ter pressa para voltar ao Palácio do Planalto.

Está tudo dominado.

Em sua ausência, foi aprovado um aumento de 303% nas gratificações exclusivas aos militares cedidos ao governo.

Na reforma da Previdência, a tropa ficou de fora do corte de gastos e teve aumentos de até 73% nos soldos, fora os penduricalhos.

Nessa ilha da fantasia do poder bolsonarista, que é o "novo normal", ninguém está preocupado com a pandemia, o desemprego e o corte de salários. O futuro deles está garantido.

Com muita cloroquina, muita fake news e muitas boquinhas no governo, civis e militares da grande aliança entre os papas do mercado, os bispos da tele-evangelização, os marombados das academias, os políticos do baixo clero, os milicianos de elite de Rio das Pedras e os togados amigos, o Brasil vai descendo a ladeira triunfante, sob os aplausos dos que acreditam que "acabou a mamata", na batida do "agora é nóis".

Aonde isso vai parar, eu não faço ideia. Coisa boa não é.

Vida que segue.