Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Bolsonaro e os decretos da morte: mais armas, menos vacinas
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Já começam a faltar vacinas em vários estados brasileiros, mas o presidente Bolsonaro está mais preocupado com outra coisa, bem diferente, seguindo as prioridades da sua necropolítica instalada no país.
Na sexta-feira, antes de viajar para mais uma pescaria em Santa Catarina (como gosta de pescar!), o capitão disparou pelo Twitter mais quatro decretos da morte para liberar a venda de armas e munições, e acabar com a fiscalização que era feita pelo Exército.
Antes, já havia zerado os impostos para a importação de armas.
Em dois anos de governo, Bolsonaro já publicou 30 "atos normativos", com o mesmo objetivo: facilitar a vida das polícias militares e das milícias amigas para a posse e porte de armamentos, cada vez mais pesados, como se o país estivesse numa guerra.
No necrogoverno bolsonarista, já houve um aumento de 65% na posse de armas por civis, que somam mais de 1,1 milhão de todos os tamanhos, tipos e calibres.
Agora, com os novos decretos, cada cidadão terá direito a comprar 6 armas, e eu pergunto: para quê eu vou querer tantos revólveres ou fuzis legalizados para uso próprio?
Como só tenho duas mãos, e não sei atirar com nenhuma, a única coisa que um cidadão pode fazer com tanta arma é formar uma quadrilha, ou se juntar às que já existem. Isso não está nos meus planos.
"O povo está vibrando!", comemorou o presidente com os seus devotos neste feriadão do Carnaval, que não houve, ao ser perguntado sobre os novos decretos da morte.
De que povo ele está falando?
Daquele povo de Rio das Pedras, do seu amigo Fabrício Queiroz, que levou parentes de milicianos para trabalhar no gabinete de Flávio Bolsonaro?
Dos agrotrogloditas e mineradores que ocupam áreas indígenas na Amazônia, na base da bala, bomba e porrada, derrubando a floresta para vender madeira e abrir pastos?
Dos seus devotos do cercadinho do Alvorada e das redes sociais que querem ver o circo pegar fogo?
Dos policiais militares que agora terão licença para atirar na cabecinha sem ir para a cadeia?
Dos seus parceiros de pescaria em Santa Catarina e dos donos das SUVs blindadas com tração nas quatro rodas?
Dos fiéis dos templos do dízimo que temem uma invasão de bárbaros comunistas?
Em sua coluna de hoje na Folha _ "O Golpe de 2022 será com armas" _, o brilhante advogado e professor Tiago Amparo alerta para o perigo cada vez maior de um autogolpe de Bolsonaro, caso não consiga se reeleger, nem com auxílio emergencial a perder de vista. .
Para isso, ele já estaria armando seu exército particular, com mais homens armados do que as Forças Armadas, mas o Exército de Mourão, Villas Boas e Heleninho permanece em obsequioso silêncio, diante das últimas diatribes golpistas do capitão contra a democracia e o Estado de Direito. Ainda bem, porque pelo menos não avalizaram os decretos da morte.
Quem será capaz de detê-lo, com o Congresso totalmente dominado pelo Centrão e militares de todas as patentes encrustados no governo, felizes com suas mordomias, boquinhas e aposentadoria especial?
Essa tropa de anfíbios certamente não vai querer voltar para os quarteis tão cedo, sem garantia de picanha e lombo de bacalhau.
"O presidente não pode legislar sobre armas via decreto", queixou-se o deputado Marcelo Freixo, do PSOL do Rio, que protocolou uma Ação Direta de Inconstitucionalidade no STF.
Legislar sobre armas cabe ao Congresso e não ao presidente, mas agora está valendo tudo, e a Constituição que se dane.
Ou seja, ficaremos novamente nas mãos dos 11 supremos ministros para que a Constituição seja cumprida, mas até sair uma decisão muita gente vai morrer.
Até o lavajatista ministro Edson Fachin saiu dos seus cuidados para protestar contra as confissões feitas pelo general Vilas Boas em seu livro:
"Pressionar o Judiciário é intolerável", reclamou ele, sobre o tuíte-ultimato do general, às vésperas do julgamento do STF sobre um habeas corpus para o ex-presidente Lula participar da eleição de 2018.
Como me disse o grande chefe Clóvis Rossi, no Estadão, na noite em que anunciaram o AI-5, em 1968: "Meninos, a brincadeira acabou".
Eles não estão brincando, e não têm limites. A guerra do Brasil da morte contra o Brasil da vida está apenas começando.
Você pode escolher: morrer de covid, por falta de vacinas, respiradores e oxigênio, ou morrer de bala perdida no bangue-bangue, agora oficializado por decreto.
Não sei como vai terminar este filme de faroeste caboclo, mas o final certamente não será feliz.
Vida que segue.
Balaio agora tambéem no Youtube:
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