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OPINIÃO

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Disparada de Lula no Datafolha fará Bolsonaro radicalizar ainda mais?

Colunista do UOL

13/05/2021 12h29

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Com a CPI do genocídio nos seus calcanhares, o caos na vacinação, a economia paralisada, denúncias de grossa corrupção na compra de parlamentares e o auxílio emergencial de fome, Bolsonaro enfrenta a tempestade perfeita, e o que ele faz para reagir?

Vai a Alagoas para reinaugurar obras, sem convidar o governador Renan Filho, para afrontar a família Calheiros, e coloca o Exército nas ruas para fazer a sua segurança em lugar da Polícia Militar, como sempre acontece nas viagens presidenciais da sua campanha pela reeleição.

A disparada de Lula na primeira pesquisa Datafolha para 2022, após o ex-presidente readquirir seus direitos políticos, vencendo com folga todos os adversários no primeiro e segundo turnos, faz o Capitão Cloroquina procurar confusão para melar o jogo. A fera acuada é um perigo para as instituições.

Bolsonaro sabe que, respeitadas as atuais regras do jogo, está hoje mais perto de perder o mandato do que de ganhar a reeleição.

Um dado em particular do Datafolha deve ter assombrado o Palácio do Planalto: 54% dos entrevistados responderam que não votariam nele de jeito nenhum, enquanto 36% não votariam em Lula.

Rejeição acima de 50% inviabiliza qualquer candidatura. Da última pesquisa, em março, para agora, a aprovação do governo caiu de 30% para 24%, a mais baixa desde a posse.

Lula abriu 18 pontos de dianteira no primeiro turno (41 a 23) e 23 pontos no segundo (55 a 32), mais ou menos a mesma vantagem que o ex-presidente tinha sobre Bolsonaro em 2018, quando foi sumariamente retirado da disputa no conluio entre a farsa da Lava Jato, os tribunais superiores e o general Villas Bôas.

Não há nenhuma grande novidade aí, portanto. O cenário é o mesmo também para os candidatos nanicos da chamada "terceira via", que estão embolados com índices de um dígito, a léguas de distância dos dois que lideram a disputa de 2022.

Assim como em 2018, falta pouco para Lula levar a eleição no primeiro turno, em que ele tem 48% dos votos válidos (descontados os brancos e nulos).

Como Moro (7%) e Huck (4%) não serão candidatos, restariam apenas Ciro (6%) e Doria (3%) para disputar uma vaga num improvável segundo turno.

Se não houver nenhum fato novo e grave, a tendência para as próximas pesquisas é Bolsonaro continuar derretendo e Lula crescendo.

Em vez de comprar vacinas, que boicotou até onde pode, Bolsonaro preferiu investir na compra de parlamentares com o "tratoraço" das emendas secretas, para se proteger do impeachment, e agora está pagando o preço.

Para mostrar como o governo está perdido, só agora, 14 meses após o início da pandemia, o Ministério da Saúde está lançando uma campanha de vacinação, mesmo sabendo que ainda não há vacinas para todos.

Sem um plano econômico para o pós-pandemia, só restará a Bolsonaro xingar os adversários e fazer provocações, assim como seu filho, o senador Flávio 01, que apareceu quarta-feira na CPI para chamar o relator Renan Calheiros de "vagabundo", por querer prender o pobre ex-secretário Fábio Wajngarten, um retrato do desespero do governo.

Em que mais o capitão poderá radicalizar, além de chamar o "meu Exército", uma ameaça tão repetida que já não assusta mais ninguém?

Vai fazer como o outro filho, o deputado Eduardo 03, que ameaçou fechar o STF com um jipe, um cabo e um soldado?

Voltará a acenar com o perigo do "comunismo petista", agora que perdeu a bandeira do combate à corrupção e à "velha política", depois de cair nos braços do Centrão?

Ainda falta muito tempo para começar a campanha eleitoral. Vamos aguardar para ver o que nos espera.

Vida que segue.

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