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Governo tira sofá da sala para livrar Bolsonaro do caso Covaxin

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, anuncia suspensão da compra de 20 milhões de doses da vacina indiana Covaxin - Divulgação/PR
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, anuncia suspensão da compra de 20 milhões de doses da vacina indiana Covaxin Imagem: Divulgação/PR

Colunista do UOL

29/06/2021 18h52

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Em clima de barata voa, o governo dá várias versões e bate cabeça para livrar Bolsonaro do escândalo da Covaxin.

Um dia após o presidente ser alvo de notícia-crime no STF por prevaricação, o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra, leu na CPI da Covid um informe sobre as providências tomadas para investigar as denúncias dos irmãos Miranda.

Na semana passada, Bezerra foi porta-voz de uma reunião no Planalto em que deu uma primeira versão: o presidente não acionou a Polícia Federal porque entregou o caso para o general Eduardo Pazuello investigar o contrato com o laboratório indiano, e que ele não encontrara nenhuma irregularidade.

Só aí se descobriu que o ministro da Saúde foi demitido no dia seguinte e não teria tido tempo de investigar nada.

Diante disso, a nova versão apresentada nesta terça-feira por Bezerra informa que Pazuello repassou a investigação para o seu número 2, coronel Elcio Franco, que também seria demitido dias depois.

Segundo o líder do governo, as denuncias foram apuradas de forma "cautelosa e criteriosa" por Franco, que concluiu não ter encontrado "irregularidades contratuais" na compra da Covaxin.

Acontece que o coronel era o responsável por todos os contratos de aquisição de imunizantes e foi sua equipe que pressionou o servidor Luís Ricardo Miranda a apressar a aprovação da compra intermediada pela Precisa Medicamentos.

Foi como pedir para a raposa investigar o galinheiro e ver se tinha alguma coisa errada por lá. Bezerra só não explicou por que o presidente não acionou a Polícia Federal, como prometeu aos irmãos Miranda.

Como a nova versão também não colou, no fim da tarde o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, anunciou no Palácio do Planalto que a compra da Covaxin fora suspensa, por recomendação da Controladoria Geral da União (CGU).

Ou seja, resolveram tirar o sofá da sala para livrar a barra de Bolsonaro da denúncia de prevaricação.

Assim que o presidente terminou de fazer um discurso sobre a produção de pesca, Queiroga apressou-se para falar com ele, disse algumas poucas palavras e, em seguida, dirigiu-se para o general Augusto Heleno, que reapareceu num evento oficial.

Ao lado de Queiroga o chefe da CGU, Vagner do Rosário, informou que fará uma auditoria nos contratos e, no máximo em dez dias, anunciará o resultado. "Por orientação da CGU, por uma questão de conveniência e oportunidade, decidimos suspender o contrato para que análises mais aprofundadas sejam feitas", explicou o ministro da Saúde.

O que seria uma questão de "conveniência e oportunidade?" Para quem? Não ficamos sabendo.

Até então, o governo vinha negando qualquer irregularidade no acordo de compra da Covaxin, no valor de R$ 1,6 bilhão, assinado no dia 25 de fevereiro, pagando US$ 15 a dose, valor bem mais alto do que o dos outros imunizantes já adquiridos pelo Ministério da Saúde.

É tudo um jogo de cena para dizer que Bolsonaro não se omitiu depois de receber as denúncias dos irmãos Miranda, no Palácio da Alvorada, no dia 20 de março, motivo da notícia-crime apresentada ao STF na segunda-feira.

Por isso mesmo, os senadores da CPI da Covid decidiram manter para quinta-feira o depoimento do empresário Francisco Emerson Maximiniano, sócio da Precisa Medicamentos, que poderá esclarecer muitas coisas.

Por exemplo, quanto sua empresa ganharia com a intermediação da compra pelo governo brasileiro e por que o fabricante indiano tentou receber um adiantamento de R$ 500 milhões a ser pago numa offshore em Cingapura, antes de entregar o primeiro lote de vacinas?

Poderá também contar qual foi a participação de Ricardo Barros, líder do governo na Câmara, citado na conversa dos Miranda com Bolsonaro, e qual a sua relação com Flávio Bolsonaro, que o levou para uma reunião no BNDES.

Ainda há muitas pontas desamarradas nesta história, a primeira e única vez até agora em que o governo brasileiro precisou de um intermediário para comprar vacinas.

Aguardem os próximos capítulos.

Vida que segue.