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OPINIÃO

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Roubo de salários, mais rejeição: foi outro dia de cão para Bolsonaro

Canal UOL: Josias e Maierovitch comentam áudios que indicam envolvimento de Bolsonaro em rachadinha - Reprodução/UOL
Canal UOL: Josias e Maierovitch comentam áudios que indicam envolvimento de Bolsonaro em rachadinha Imagem: Reprodução/UOL

Colunista do UOL

05/07/2021 19h18

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Não bastassem as grandes manifestações de protesto contra seu governo no fim de semana em todo o país, a segunda-feira trouxe mais um lote de más notícias para o presidente Bolsonaro.

Logo cedo, ele ficou sabendo que reportagem de Juliana Dal Piva, no UOL, com gravações inéditas, implicava diretamente o presidente no esquema de "rachadinhas" nos gabinetes da família em seus tempos de deputado federal.

Há tempos já se suspeitava disso, mas agora surgiu o áudio em que Andrea Siqueira Valle, ex-cunhada do presidente, conta como funcionava o esquema, dando nomes aos bois.

"Rachadinha" é o simpático nome de fantasia do que no Código Penal é tratado como peculato, um crime contra a administração pública, que se caracteriza pela subtração ou apropriação indevida de valores ou bens cometida por servidor público.

"É um crime extremamente grave. Quando um deputado se apodera de recursos dos salários do funcionário de seu gabinete, ele está furtando ou se apropriando indevidamente de dinheiro público. Pois quem paga este salário é o orçamento público, a sociedade", afirma Roberto Livianu, procurador de Justiça de São Paulo e presidente do Instituto Não Aceito Corrupção. "É um dinheiro que está sendo gasto com a contratação desnecessária de assessores que terão parte dos salários embolsados por um político".

Em outras palavras, o então deputado e seus filhos políticos roubavam a maior parte dos salários de funcionários fantasmas, que eram demitidos quando não entregavam o combinado, como aconteceu com um irmão de Andrea.

Bolsonaro já é investigado pelo Supremo Tribunal Federal por outro crime de peculato, o enrolado caso da compra da vacina indiana Covaxin, por não ter comunicado à Polícia Federal a denúncia que lhe foi feita pelos irmãos Miranda em março.

Este caso e outros que ainda estão sendo apurados pela CPI da Covid podem explicar o aumento de 12,7 pontos percentuais na rejeição do governo Bolsonaro, passando de 35,5% de ruim e péssimo, em fevereiro, para 48,2%, agora em julho, segundo pesquisa CNT/MDA divulgada hoje.

Na mesma pesquisa, outra má notícia: o ex-presidente Lula disparou na liderança da corrida presidencial, com 49% dos votos válidos, contra 32% de Bolsonaro. Se a eleição fosse hoje, faltaria apenas um ponto para Lula vencer no primeiro turno.

Foram feitas 2.002 entrevistas presenciais, em 137 cidades de 25 estados. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais, com 95% de nível de confiança.

Um dia de cão após outro, só más notícias rondam o Palácio do Planalto, que tenta reagir, programando uma nova moticiata para o próximo sábado em Porto Alegre.

A nova estratégia eleitoreira acelerando sobre duas rodas à frente de uma comitiva de seguidores até aqui não vem dando muito certo, como mostram os números de todas as pesquisas.

Quanto mais viaja pelo país na campanha da reeleição, sem resolver os problemas que afligem a população, como a pandemia, a inflação e o desemprego, e sem responder às denúncias de corrupção no governo, mais caem os índices de popularidade do presidente.

A um ano e meio do final do mandato, não é a ameaça de impeachment o que mais assusta o presidente, mas o que pode acontecer com ele depois de descer a rampa do Palácio do Planalto, acusado de crimes em série, contra a saúde pública, o meio ambiente, as populações indígenas e o erário. É disso que o valente tem medo.

Nesta hora, nem seus comparsas Arthur Lira e Augusto Aras poderão fazer nada por Bolsonaro.

Vida que segue.