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O trunfo de Ciro Nogueira: um homem normal chega ao Palácio do Planalto
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Em meio ao furdunço que reinava entre as alas militar e ideológica no Palácio do Planalto, chega enfim um homem normal, para coordenar e colocar ordem na Casa Civil, ultimamente ocupada por generais. É a vez da ala política reinar.
Ciro Nogueira, 52 anos, herdeiro de tradicional família política do Piauí, advogado e empresário, é o que se pode chamar de político profissional, com vários mandatos de deputado e senador.
Homem cordato e conciliador, sempre foi mais afeito aos bastidores do que aos microfones e holofotes dos plenários.
Sua principal missão, como já declarou, será cuidar das relações com parlamentares, em especial com o Senado, onde o governo enfrenta a CPI da Covid e tem dificuldades para aprovar nomeações nas sabatinas que estão programadas, como a de André Mendonça, para o Supremo Tribunal Federal.
Cabe também ao chefe da Casa Civil, no entanto, coordenar o trabalho de todos os ministérios e programas de governo, uma experiência que ele nunca teve. Resta saber quais serão os programas de governo, que ainda não foram anunciados.
O senador piauiense é conhecido como um bon vivant, que não gosta de acordar cedo, adora viagens, roupas e restaurantes finos, e dá uma boiada para fugir de conflitos.
À frente da tropa do Centrão, agora instalada no coração do governo, com bom transito também na oposição, Ciro é a esperança de que o Palácio do Planalto possa viver um tempo de calmaria.
Não será nada fácil. Ainda sem tomar posse oficial no cargo, o novo chefe da Casa Civil já terá que enfrentar a guerra aberta por Bolsonaro na defesa do "voto impresso e auditável", que o fez entrar em choque com ministros do Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal Eleitoral, contrários à mudança.
Ciro também era contra, até outro dia, com o seu PP fazendo parte do grupo de 11 partidos que querem derrubar a iniciativa na Câmara.
Isso quase aconteceu na véspera do recesso parlamentar, mas uma manobra do relator Filipe Barros (PSL-PR) adiou a decisão para agosto.
Barros festejou a chegada de Ciro Nogueira como primeiro-ministro do novo governo Bolsonaro 3.0, informa a Folha:
"Essa reforma ministerial feita pelo presidente Bolsonaro certamente vai nos auxiliar, fortalecendo a base no Congresso Nacional. Então eu tenho a convicção de que a gente vai conseguir avançar com essa pauta".
Se a proposta por acaso for aprovada, o que ainda é muito incerto, com certeza será derrubada nos tribunais superiores, como já aconteceu três anos atrás. E aí vão chamar um cabo e um soldado?
Depois da cloroquina e da imunidade de rebanho, o voto impresso tornou-se a grande bandeira de Bolsonaro, que roda nas suas redes sociais, e avisa: sem isso, as eleições serão fraudadas. E podem nem acontecer.
Ciro, que já foi lulista roxo até a eleição de 2018, sabe que o problema não é o sistema de apuração, mas a atual falta de votos do seu novo líder para enfrentar o ex-presidente nas urnas, como revelam todas as pesquisas.
Por mais jeitoso que seja, até onde Ciro estará disposto a comprar essa briga pelo chefe?
Até que ponto Bolsonaro aceitará ser contrariado depois de botar uma coisa na cabeça?
Sabemos que o Centrão sempre foi da base de todos os últimos governos, mas nunca teve o manche nas mãos. Era força auxiliar, jamais tinha ocupado a chefia da Casa Civil.
Esse homem normal levado ao Planalto também terá que saber lidar com a insatisfação dos militares desalojados de seus cargos para dar lugar ao Centrão, uma operação que ainda está só no início.
Bolsonaro e Ciro nunca foram próximos, mesmo quando estavam no mesmo partido, o PP criado por Paulo Maluf. Um era da elite do Congresso, e o outro nunca subiu do baixo clero antes de se eleger presidente.
Em 2014, quando Bolsonaro tentou se candidatar pela primeira vez a presidente, Ciro Nogueira já era cardeal do PP e cortou-lhe as asas.
Agora, com a popularidade em queda, a CPI da Covid descobrindo todo dia mal feitos do governo, a inflação e a insatisfação popular subindo, o capitão presidente não tinha outra saída. Voltou ao antigo ninho, de onde, na verdade, nunca saiu.
A campanha contra a "velha política" encarnada pelo Centrão, "não sobra um meu irmão", era só estratégia eleitoral, assim como o combate à corrupção com Sergio Moro de ministro por pouco tempo.
Vida que segue.
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