Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Quais assuntos o leitor prefere ver tratados no Balaio? Nem tudo é política
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Final de ano chegando, é tempo de fazer balanços e uma reflexão sobre o nosso trabalho.
Para quem escreve neste Balaio já faz 13 anos, todos os dias, nem sempre é simples escolher o assunto a ser tratado aqui _ não por falta, mas por excesso de notícias pipocando a cada momento.
No começo, e por um bom tempo, eu selecionava os temas aleatoriamente e escolhia aqueles que imaginava serem os preferidos dos internautas/leitores, sem saber quais eram os gostos ou preferências deles.
Tratava de tudo: de política a futebol, de economia a cultura, de fatos do cotidiano a conflitos internacionais, de tragédias a comemorações, de viagens e descobertas. Fazia reportagens, entrevistas, crônicas e, de vez em quando, até dava uns "furos", com matérias que iam parar nas manchetes. O Balaio do Kotscho era mesmo um balaio de gatos.
Com o tempo, as limitações físicas causadas pela saúde numa idade já provecta e, em meio às intermináveis crises que vivemos nos últimos anos, esses temas foram se afunilando, até transformar o blog praticamente numa coluna de política, como é hoje.
Tratar sempre dos mesmos assuntos numa coluna monotemática acaba cansando, tanto quem escreve como quem lê, por se tornarem muitas vezes repetitivas e enfadonhas, o que se pode notar também na área de comentários. Muitos só leem o título e o nome do autor, e já saem atirando, qualquer que seja o assunto tratado.
Ao ler outro dia a coluna do meu amigo Washington Olivetto, que agora tem uma coluna no jornal O Globo, resolvi pegar emprestada uma ideia que ele teve: pedir aos leitores que o ajudassem, sugerindo temas sobre os quais pudesse escrever.
"Não comentei que tipo de tema elegeria, apenas estava sinceramente curioso sobre a reação dos leitores. Recebi centenas de sugestões, mas recebi principalmente comentários e insinuações de gente questionando "como um paulista bem-sucedido como eu conseguia gostar tanto do Rio de Janeiro" e "que tipo de interesse existe por trás dessa minha paixão pelo Rio?".
Para muitos leitores, parece que sempre existe mesmo "um interesse por trás" daquilo que a gente escreve.
Na parte que me cabe, o único interesse que tive nestes 57 anos de estrada no jornalismo sempre foi o de ser fiel aos fatos, ser honesto com os leitores, dizer o que penso e, principalmente, ser entendido, o que não é tão simples em tempos conflagrados e polarizados.
Se quis dizer uma coisa e os leitores entenderam outra, o erro certamente foi meu. Todo texto jornalístico deve ser claro, objetivo, sem segundas intenções, a não ser a de contar o que está acontecendo e contextualizar os fatos com o antes e o possível depois.
Antes de lançar uma nova campanha, publicitários premiados como Washington Olivetto costumam fazer pesquisas qualitativas com o público-alvo para saber 1) se as pessoas entenderam a mensagem e 2) se a aprovam.
Claro que não dá para fazer isso no jornalismo, onde se corre sempre contra o tempo, porque o produto é altamente perecível, ainda mais agora com o noticiário online 24 horas, em todas as plataformas.
Mas é importante saber o que o leitorado pensa sobre o nosso trabalho, o que podemos mudar para atender melhor aos seus interesses.
A ideia da criação do Datafolha surgiu num almoço da cúpula do jornal com seu Frias (Octavio Frias de Oliveira, proprietário do jornal) e o lendário publicitário Alex Periscinoto, que a certa altura lascou a pergunta, surpreso:
"Mas vocês não têm aqui um departamento de pesquisa para conhecer o perfil do leitor do jornal? Como vocês se orientam no trabalho?"
A partir daí, a Folha nunca mais deixou não só de avaliar o seu produto com os principais interessados, mas transformou o Datafolha no mais importante e respeitado instituto de pesquisas de opinião pública do país.
Por isso, resolvi escrever esta coluna, inspirado pelo pedido do paulistano/carioca e hoje cidadão londrino Olivetto, porque não acho feio pedir ajuda aos leitores. Feio é não saber o que eles pensam e querem de nós, pois o nosso ofício de escrevinhadores deve atender aos interesses do distinto público, e a mais ninguém.
São eles, os leitores, no final da história, quem pagam nossos salários. Eu só vivo disso, não tenho outras fontes de renda, pois a aposentadoria do INSS não cobre nem o meu plano de saúde. Então, sou preocupado, sim, com a audiência. Como sabemos, sem bilheteria não tem circo.
Escrevam-me, pois, fiquem à vontade por favor, aqui na área de comentários, sugerindo assuntos de outras áreas de interesse, qualquer uma. A vida não pode ser feita só de política. Na medida do possível, vou tentar escapar dela.
Obrigado.
Vida que recomeça.
Em tempo: mando daqui um forte abraço de solidariedade ao grande jornalista Mino Carta, incansável criador e diretor de publicações, que revolucionaram e profissionalizaram o nosso ofício, cujo importante papel na imprensa e na política brasileira nos últimos 50 anos, um dia ainda será reconhecido pelos biógrafos e historiadores.
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