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OPINIÃO

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Jair Bolsonaro é o maior estorvo para o Brasil voltar a ter uma vida normal

STF exige resposta do governo sobre passaporte da vacina para turistas: o problema é como fiscalizar os documentos - Reprodução
STF exige resposta do governo sobre passaporte da vacina para turistas: o problema é como fiscalizar os documentos Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

13/12/2021 17h05

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O furdunço que Bolsonaro aprontou na questão do passaporte de vacinas é mais uma prova de que ele é o maior estorvo que temos hoje para o Brasil voltar a ter uma vida minimamente normal.

Adotado pelos principais países do mundo, o passaporte era a melhor arma para evitar que a Ômicron, a nova variante do coronavírus, se alastre pelo mundo, mas aqui o presidente resolveu adotar uma quarentena de cinco dias para os não vacinados, que era simplesmente impossível de ser fiscalizada.

Com a decisão do ministro Luís Roberto Barroso, neste final de semana, de exigir o comprovante de vacinações a quem entra no país, sem que o governo federal tenha tomado as devidas providências para o controle da entrada de estrangeiros, o que se viu hoje nos principais aeroportos do país foi o caos.

Variou entre as enormes filas que se formaram no aeroporto de Cumbica, em São Paulo, onde os agentes da Anvisa não davam conta do movimento, e o liberou geral no Galeão, no Rio, onde simplesmente não houve fiscalização nenhuma e todo mundo pode entrar assobiando.

Desde as primeiras horas da manhã, os noticiários informavam que o governo federal baixaria uma portaria nesta segunda-feira para regularizar a entrada de turistas, mas até as 16 horas a confusão continuava atormentando os agentes da Anvisa e da Polícia Federal.

Nesta terra de ninguém, impera a desinformação, tão ao gosto do governo Bolsonaro, que desde o início nega a gravidade da pandemia e a importância da vacinação.

Nesta segunda-feira, o primeiro ministro britânico, Boris Johnson, anunciou a primeira morte pela nova variante no Reino Unido; no Brasil, já há 11 casos registrados, 5 deles em São Paulo, e o Ministério da Saúde finge que não tem nada com isso.

Em entrevista à CNN, o presidente da Sociedade Brasileira de Virologia, Flávio Fonseca, afirmou que é "questão de tempo" até que a nova variante estabeleça transmissão comunitária no Brasil.

Fonseca disse que "não há nenhum segredo" para se estabelecer um combate efetivo à transmissão da Ômicron. "A gente tem que reforçar as ações eficazes já conhecidas".

Ou seja, manter distanciamento social, usar máscaras, evitar aglomerações, estimular a vacinação, tudo aquilo que o presidente desdenha desde o início da pandemia.

Sou do tempo em que as pessoas me diziam: "Se não pode ajudar, não atrapalha". Segui esse conselho até hoje, mas o nosso presidente faz questão de ser o bode na sala, aquele que impede o país de superar o trauma da pandemia e voltar a viver em paz, sem medo do amanhã.

Depois de quase três meses da trégua proposta naquela cartinha amorosa de Michel Temer, ele voltou a mirar no Supremo Tribunal Federal e nos governadores, para impor o negacionismo ululante, bem na semana em que o seu ungido André Mendonça irá tomar posse na Corte.

No fim de semana, Bolsonaro sobrevoou a tragédia dos milhares de desabrigados das enchentes na Bahia, que já deixaram 10 mortos, desfilou em carro aberto e, em vez de se mostrar solidário com as vítimas, prestando ajuda de verdade, resolveu atacar os governadores por terem adotado o distanciamento social no auge da pandemia.

Para Bolsonaro, os responsáveis pelas desgraças do país são sempre os outros, mesmo que uma coisa nada tenha a ver com outra.

Fiel discípulo de Steve Bennon, o guru de Donald Trump, o capitão pouco se preocupa com os dramas reais dos brasileiros submetidos ao desemprego e à fome, e só quer saber do que pode lhe dar votos para a reeleição.

A cada dia que passa, mais ele se torna um estorvo paquidérmico na vida nacional, um ente extraterrestre, impedindo o país de voltar à normalidade no pós-pandemia.

O mais assustador é que nenhuma instituição, nenhuma liderança da sociedade civil ou da oposição, ninguém se oponha a para conter essa insanidade que já dura três anos, e só avança na destruição do país.

O fato é que, com o desmonte progressivo das da estruturas do Estado, do Inpe ao IBGE, da Funai à Polícia Federal, o Brasil já não tem a menor condição de controlar suas fronteiras, aos cuidados do general Augusto Heleno, que já entregou 81 áreas indígenas à exploração das mineradoras multinacionais.

Vida que recomeça, se Bolsonaro deixar.