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Bolsonaro em campanha: no Brasil dos refugiados da miséria, a fome e o medo
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O que era meio dissimulado, agora é oficial: Bolsonaro largou o governo nas mãos do Centrão, de porteira fechada, e saiu pelo país para fazer sua campanha antecipada pela reeleição, em tempo integral. Daqui para a frente, não esperem encontrar o presidente no Palácio do Planalto.
Esta semana, o capitão reuniu sua equipe, lançou seus ministros candidatos, estabeleceu a estratégia e só faltou pedir para não ser incomodado com os problemas do país.
Não vai fazer muita diferença, é verdade, já que ele não vinha dando mais do que três horas de expediente por dia desde o começo do ano, quando saiu várias vezes de férias.
Com os outros candidatos ainda preparando suas campanhas, Bolsonaro está até agora sozinho na estrada, dando uma banana para os prazos estabelecidos pela Justiça Eleitoral, sem ser incomodado em sua campanha antecipada.
Comida não vai faltar para a caravana bolsonarista no avião presidencial, colocado à sua disposição para ir aos palanques em busca de votos.
Nada de farofa, miojo e leite condensado: para alimentar o presidente e seus convidados, o governo federal já gastou R$ 2,6 milhões desde a posse, em janeiro de 2019, segundo o portal da Transparência, como informou o deputado federal Elias Vaz (PSB-GO). É muito dinheiro. Devem estar todos com sobrepreso.
E quanto já foi gasto em combustível e diárias nestas viagens sem fim do presidente-candidato? Nunca iremos saber.
Hoje, Bolsonaro foi dar um pulo no Acre para distribuir pessoalmente títulos de terra, o que poderia ser feito por qualquer funcionário de terceiro escalão, mas campanha é campanha. Vai também aproveitar a viagem para participar de um encontro de evangélicos, o que nunca pode faltar. Outro dia, em Salvador, participou do lançamento da pedra fundamental de obra num hospital.
Amanhã, pode ser a inauguração de uma bica d´água ou a entrega de casas populares. Qualquer pretexto vale para subir nos palanques e atacar os adversários. .
Dinheiro também não vai faltar para fazer agrados aos eleitores, com as verbas do orçamento secreto distribuídas pela dupla Ciro Nogueira & Arthur Lira, dois dos chefes da campanha reeleitoral, os aliados que tomam conta do governo na sua ausência.
É tudo tão escancarado que já nem vira notícia, faz parte da paisagem, foi "normalizado".
O Brasil virou um grande campo de refugiados da fome e do medo em seu próprio país, a quem o governo distribui esmolas com o que sobra das emendas secretas dos parlamentares do Centrão, que também só estão preocupados com a própria reeleição e garantem a impunidade do presidente.
Com isso, o capitão recuperou alguns pontos na sua baixa popularidade e diminuiu a rejeição, resgatando votos perdidos para a terceira via de Moro & associados, que continuam encalhados nas pesquisas.
Mas o cenário que se vê nas portas de farmácias e supermercados, com famílias implorando por uma ajuda para comprar comida ou remédio, não combina com o otimismo do guru Paulo Guedes, para quem o pior já passou. Só se for para ele.
Quando não conseguem uma ajuda por bem, menores com facas e tesouras praticam assaltos pelas cidades, assustando a classe média, que também está empobrecendo.
O conjunto da obra é dramático, e visível a olho nu, juntando fome de uns com medo de outros. Basta ver o que acontece nos arredores do Ceasa, em São Paulo, onde centenas de famílias nas calçadas brigam por restos de comida e dormem em barracas, como os refugiados nos bunkers da Ucrânia.
A diferença é que aqui a destruição do país está sendo provocada, não por uma nação inimiga, mas pelo próprio governo, que só tem um projeto: a reeleição a qualquer preço.
Se os titulares já compunham o pior ministério da nossa história recente, pode-se imaginar o que virá agora com os "tampões" indicados pelo Centrão, enquanto Bolsonaro cruza os céus do Brasil numa campanha alucinante, com os recursos públicos de um país em frangalhos, como se não tivesse nada a ver com isso.
Como disse o próprio presidente, em discurso na quinta-feira, a disputa eleitoral não é "entre esquerda e direita, mas entre o bem e o mal".
É verdade. O problema é que ele se acha "o bem" porque só vê o Brasil lá do alto do avião, dos palácios e dos palanques amigos, sem andar pelas ruas das cidades, sempre cercado de áulicos e seguranças, acreditando que ainda é o "Mito".
Assim como foi em 2018, a disputa, mais uma vez, se dará entre a civilização e a barbárie desencadeada pela grande tragédia bolsonarista dos últimos três anos.
Eu só não me conformo como ainda tem gente que não vê isso. Ou, o que é pior: vê, mas se conforma.
Vida que segue.
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