Topo

Balaio do Kotscho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Doria acaba de enterrar o PSDB junto com a farsa da terceira via sem futuro

O ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB) se emocionou após anunciar que desistiu de ser candidato à Presidência da República - Aloísio Maurício/Fotoarena/Estadão Conteúdo
O ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB) se emocionou após anunciar que desistiu de ser candidato à Presidência da República Imagem: Aloísio Maurício/Fotoarena/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

23/05/2022 13h45

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Em tempo (14h30: A novela ainda não acabou. Agora uma ala do PSDB quer lançar Eduardo Leite no lugar de João Doria para presidente. Como fica Simone Tebet, depois de tudo acertado com Bruno Araújo? Era uma vez a social-democracia brasileira. Triste fim.

***

Sai João Doria, como já se esperava, e sobrou Simone Tebet como candidata da chamada terceira via.

E o que isso vai mudar na fila do pão? Vai subir o dólar ou cair a Bolsa?

Sem apoio no próprio partido, desde que venceu as conturbadas prévias do PSDB no ano passado, e ameaçado de ficar sem fundo eleitoral para fazer sua campanha, não restava a Doria outro caminho a não ser desistir do sonho presidencial que sempre acalentou.

Nas últimas semanas, sem a companhia de nenhum líder do partido, o ex-governador de São Paulo já parecia um candidato fantasma vagando pelo país, fazendo campanha só pelo Twitter, enquanto a cúpula do PSDB o apunhalava pelas costas e se acertava com o MDB para apoiar a candidatura de Simone Tebet.

Terceira via foi uma farsa lançada em colunas de jornal, em busca de um nome para enfrentar a polarização entre Lula e Bolsonaro, mas nenhum emplacou.

O primeiro a desistir foi o apresentador Luciano Huck, que foi candidato sem nunca ter sido; depois, tentaram embalar o ex-juiz Sergio Moro, logo ejetado pela classe política que ele combateu na Lava Jato e, por exclusão, chegaram ao nome de Simone Tebet, do MDB, que nunca passou de 2% nas pesquisas, o mesmo índice de Doria.

Com seu gesto de abnegação forçada, o ex-prefeito e ex-governador de São Paulo João Doria acabou de enterrar o que restava do velho PSDB de tantas glórias e tradições dos tempos de FHC e Mario Covas.

Hoje reduzido ao papel de mero coadjuvante na campanha presidencial, o partido é comandado por Bruno Araújo, um obscuro político de Pernambuco, que só conseguiu formar uma federação com o nanico Cidadania, de Roberto Freire.

Até tentaram mudar o nome de terceira via para centro democrático, mas não adiantou nada, por absoluta falta de ideias, líderes e projetos para emplacar uma candidatura competitiva.

Amanhã, em Brasília, PSDB/Cidadania e MDB farão sua milésima reunião, agora sem o rejeitado Doria, mas nada indica que, finalmente, conseguirão formar uma chapa capaz de disputar as eleições para valer.

Nunca se gastou tanto espaço e tempo para discutir um projeto político que na verdade nunca existiu, para no fim tudo voltar a ser uma disputa entre o ex-presidente Lula e o presidente Jair Bolsonaro.

Viúvas da terceira via continuarão chorando e esperneando nas colunas da imprensa contra a falsa "simetria dos extremos", como se não estivesse em jogo o futuro da democracia do país, em meio à maior crise institucional após o fim da ditadura militar.

João Doria agora poderá voltar a cuidar só da família e das suas empresas, "com o coração ferido e a alma leve", como disse no final do seu discurso de desistência da candidatura, aos prantos, ao lado do mesmo Bruno Araújo, que lhe preparou a cova e caprichou nos aplausos de despedida.

Agora é esperar a divulgação da nova pesquisa Datafolha, prevista para esta quinta-feira, a primeira após a definição do cenário eleitoral, para acabar de vez com todas as fantasias e voltarmos à dura realidade de um país dividido ao meio, a quatro meses e pouco das eleições.

Para o bem ou para o mal, só nos restou mesmo o Fla-Flu, para decidirmos qual o país em que queremos viver.

Vida que segue.