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OPINIÃO

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O ventou virou: Bolsonaro e Moro fora de combate sem saber para onde correr

Moro e Bolsonaro juntos no destile do 7 de Setembro de 2019: um gravíssimo acidente de percurso na vida brasileira - Marcos Corrêa/PR
Moro e Bolsonaro juntos no destile do 7 de Setembro de 2019: um gravíssimo acidente de percurso na vida brasileira Imagem: Marcos Corrêa/PR

Colunista do UOL

08/06/2022 14h30

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Quando o ano eleitoral começou, Jair Bolsonaro ainda era o todo-poderoso capitão, ameaçando o país com sua reeleição, montado agora no orçamento secreto do Centrão, e no tripé teocrático-militar-empresarial que o levara à vitória em 2018. Estava tudo preparado para repetir a trágica dose, antes que fosse engolido pela inflação galopante e o derretimento do governo.

Como outsider desafiador, surgia do nada no cenário o seu ex-aliado Sergio Moro, embalado pelas viúvas da Lava Jato na mídia, mas já sem a aura de "herói nacional", depois de ser desmascarado pelo STF. Entrou num pequeno partido, trocou de partido, e sumiu do mapa, junto com a chamada "terceira via"

No meio do caminho, ambos tropeçaram num inimigo comum, o ex-presidente Lula, que insistia em liderar todas as pesquisas, desde a primeira, exatamente como acontecera na campanha anterior, antes de ser preso por Moro, que deixou o caminho livre para Bolsonaro, de quem virou ministro.

Como diria Galvão Bueno, quando o Brasil levou a virada da Holanda na Copa de 2010, na África do Sul, " o momento já foi mais favorável" para a dupla associada na destruição do país, numa luta insana pelo poder a qualquer custo, que deixou os dois em campos opostos, mas muito próximos.

Com o rabo entre as pernas, depois de ser humilhado pela Justiça na terça-feira, por fraudar o domicilio eleitoral em São Paulo, onde queria ser candidato ao Senado, Moro agora volta para o Paraná sem saber o que fazer da vida, garantindo que não vai "desistir do Brasil". Na verdade, foi o Brasil que desistiu dele.

No mesmo dia, Bolsonaro enlouqueceu de vez com a nova derrota sofrida no Supremo Tribunal Federal, que manteve a cassação do seu aliado Fernando Franceschini por divulgar fake news sobre as urnas eletrônicas, o que criou jurisprudência sobre o assunto.

Para defendê-lo, num discurso sem pé nem cabeça, o presidente nem percebeu que se tornou réu confesso do mesmo crime:

"Esse deputado não espalhou fake news, porque o que ele falou na live eu também falei para todo mundo: que estava havendo fraude nas eleições de 2018."

E, para não variar, ameaçou a imprensa no Dia Nacional da Liberdade de Imprensa: "Se for para punir por fake news a derrubada de páginas, fecha a imprensa brasileira, que é uma fábrica de fake news, em especial Globo e Folha".

Prestes a explodir de raiva, ainda chamou o ministro Edson Fachin, presidente do TSE, de "marxista-leninista", provavelmente sem saber o que é isso, e disse que quem ganha eleições no Brasil é "quem é amigo dos ministros do TSE". Antes de concluir, ainda avisou que não vai mais cumprir as decisões do Supremo.

Para completar seu infortúnio, hoje foi divulgada mais uma pesquisa em que Lula pode decidir as eleições já no primeiro turno, como tinha indicado o último Datafolha, com mais intenções de votos do que todos os outros juntos.

Na nova rodada da Quaest Consultoria contratada pela Genial Investimentos, Lula tem 52,87% dos votos válidos. Vence Bolsonaro por 46% a 30%, no primeiro turno e, se houver segundo, abriria 22 pontos de vantagem sobre o capitão (54% a 32%).

Na pesquisa espontânea, Lula tem 32% contra 20% de Bolsonaro, que só vence na coluna rejeição (60% a 40%). Ciro Gomes mantém-se firme na faixa de 7% e, a seguir, aparece André Janones (2%), com o dobro de Simone Tebet (1%), a candidata que sobrou na falecida terceira via, depois das desistências de Sergio Moro e João Doria.

Se ainda quiser garantir o foro privilegiado, só resta a Moro disputar uma vaga de deputado federal pelo União Brasil, no Paraná, onde sempre morou, e de onde saiu para Brasília, sonhando com uma cadeira no Supremo Tribunal Federal. De lá para cá, só caiu do cavalo. A modéstia e o tirocínio político nunca foram o forte do ex-juiz de primeira instância.

O vento virou. Em algum momento desta campanha presidencial, não sei precisar exatamente quando, parece que a maioria do eleitorado acordou para a realidade de um país aonde 33,1 milhões de brasileiros estão passando fome, 14 milhões a mais do que no ano passado.

Bolsonaro e Moro provocaram um gravíssimo acidente de percurso na vida brasileira, mas em poucos meses poderão voltar ao anonimato das catacumbas da infâmia de onde nunca deveriam ter saído.

Vida que segue.