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OPINIÃO

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"Vocês sabem o que devemos fazer": bolsonarismo passa das ameaças aos tiros

Bolsonaro fala sobre morte de líder petista Marcelo Arruda: "O que eu tenho a ver com isso?"                              - REPRODUÇÃO
Bolsonaro fala sobre morte de líder petista Marcelo Arruda: "O que eu tenho a ver com isso?" Imagem: REPRODUÇÃO

Colunista do UOL

11/07/2022 15h44

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"Você sabe o que está em jogo, e você sabe como deve se preparar (...) nós sabemos o que devemos fazer antes das eleições", disparou o capitão presidente em mensagem cifrada na sua última live semanal, ao insuflar seus seguidores.

As reações não demoraram, como vimos neste final de semana.

O agente penal federal Jorge José da Rocha Guaranho, de Foz do Iguaçu (PR), um desses fiéis devotos do bolsonarismo raiz, atendeu à proclamação bélica do seu líder, e não pensou duas vezes: na noite de sábado, entrou atirando na festinha de aniversário de um dirigente do PT na cidade, gritando: "Aqui é Bolsonaro! Morte aos petistas!". E assassinou à queima-roupa o guarda municipal Marcelo Aloizio de Arruda, que estava comemorando 50 anos, com parentes e amigos.

Mas, na manhã desta segunda-feira, logo cedinho, Bolsonaro lavou suas mãos sujas de sangue:

"Agora, o que eu tenho a ver com esse episódio de Foz do Iguaçu? Nada!!!"

Fazendo coro ao presidente, seu vice, general Mourão, também tratou logo de minimizar o episódio no seu habitual estilo deixa que eu chuto:

"Olha, é um evento lamentável que ocorre todo fim de semana no Brasil, de gente que provavelmente bebe e aí extravasa as coisas".

Que gracinha, diria a Hebe Camargo, se ainda estivesse viva. Querem transformar um atentado político, a menos de três meses das eleições, numa briga de bar entre dois bêbados por causa de futebol ou de mulher. A culpa só pode ser da cachaça...

Bolsonaro nunca tem nada a ver com nada. Nem com os quase 700 mil mortos na pandemia, nem com os 33 milhões de brasileiros que estão passando fome, nem com a carnificina na Amazônia, nem com o leite a 10 reais o litro, mais caro que a gasolina, nem com as sopas de ossos e de pele de frango, nem com a economia em frangalhos, nem com a descarada compra de votos de parlamentares e eleitores, nem com a desmoralização das urnas eletrônicas, da Justiça Eleitoral e das Forças Armadas, nem com as ameaças diárias às instituições democráticas.

Diante da alta rejeição do seu desgoverno e da falta de votos para a reeleição, Bolsonaro agora quer ganhar na marra, no grito e na porrada, fuzilando os petistas, se for preciso, como prometeu ainda durante a campanha de 2018, num comício no Acre.

Marcelo pode ter sido apenas a primeira vítima de uma guerra que tem um lado só.

Começaram jogando bombas de cocô nos comícios da oposição, mas, se nada for feito, as próximas podem ser de verdade, a depender das pesquisas. .

Para impedir que isso aconteça, é preciso acabar com essa história de "polarização dos dois extremos", quando sabemos todos que temos apenas um lado conflagrado, o bolsonarismo ensandecido, cada vez mais radical e perigoso, que está armado até os dentes.

É preciso dar nomes aos bois e contar a história como ela aconteceu desde o começo do governo, com o liberou geral de armas e munições.

Levantamento feito pelo Instituto Sou da Paz mostra que, de 2019 até o mês passado, o número de licenças para CACs (Colecionadores, Atiradores e Caçadores) cresceu 262%, já chegando a 605 mil civis armados, quase o dobro dos 356 mil militares das Forças Armadas.

E, a cada dia, são concedidas novas 449 licenças para CACs, sem nenhum controle. Se continuar assim, em breve essas tropas civis superarão também o total dos efetivos das Forças Armadas somados aos das Polícias Militares, que contam com 417 mil homens e mulheres. Falta acrescentar ainda o número de armas nas mãos das milícias, um arsenal que não foi contabilizado, e ninguém tem ideia do tamanho.

"Somos contra qualquer ato de violência. Eu já sofri disso na pele. A gente espera que não aconteça, obviamente. Está polarizada a questão. Agora, o histórico de violência não é do meu lado. É do lado de lá", disse Bolsonaro hoje, ao lembrar da facada que levou de solitário doente mental na campanha de 2018, um episodio envolto em mistério até hoje, assim como o assassinato da vereadora Marielle Franco, no mesmo ano, em que até hoje não apareceram os mandantes.

Como assim? Quantas armas já foram encontradas "do lado de lá"? Qual foi o ato de violência praticado pela oposição na campanha até agora contra algum comício do presidente ou festinha de seus seguidores? Que polarização é essa?

O capitão Bolsonaro e seus generais um dia passarão, mas o bolsonarismo fica, entranhado em todos os setores na nossa sociedade.

Ainda hoje, foi afastada das investigações do assassinato de Marcelo Aluízio de Arruda a delegada Iane Cardoso, que já tinha feito diversas postagens anti-PT em suas redes sociais.

Numa delas, a delegada escreveu: "Alguém precisa estudar a mente dos petistas... Não é normal isso, não..."

O que será normal hoje no Brasil? O bolsonarismo que mata?

Vida que segue.