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Como Bolsonaro armou a sórdida intriga na família do petista assassinado
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"Não podemos permitir que bandidos travestidos de políticos retornem ao poder no Brasil. A responsabilidade é de cada um de nós" .
(Sergio Camargo, ex-presidente da Fundação Palmares, retuitado pelo agente penal Jorge Guaranho, que matou o petista Marcelo Arruda).
***
Como tantas famílias brasileiras no momento, os Arruda, de Foz do Iguaçu, no Paraná, também estão divididos entre petistas e bolsonaristas.
Ao ficar sabendo disso, por meio do deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ), vice-líder do governo na Câmara, Bolsonaro mandou-o imediatamente para a cidade, com a missão de entrar em contato com a ala bolsonarista da família de Marcelo Arruda, o dirigente petista assassinado no sábado por um devoto do presidente, no meio da sua festa de aniversário de 50 anos, decorada com símbolos do partido e de Lula, a motivação do crime.
Quem deu a dica a Otoni, um pastor evangélico que faz parte da tropa de choque parlamentar do presidente, foi Oswaldo Eustáquio, um jornalista/influenciador do Paraná que já esteve preso por ordem do STF, no âmbito das investigações sobre milícias digitais e atos antidemocráticos. Com esses personagens emblemáticos, funciona o serviço secreto particular de Bolsonaro, citado por ele na célebre reunião ministerial de abril de 2020.
Começava ali a contraofensiva de Bolsonaro para fugir dos ataques que vinha sofrendo nas redes sociais, na imprensa e no Congresso, ligando seu nome ao assassinato por sua campanha de ódio, ao incitar seus seguidores a impedir a volta ao poder do ex-presidente Lula, que lidera todas as pesquisas e pode vencer no primeiro turno, o maior obstáculo à sua reeleição.
O emissário Otoni de Paula agiu rapidamente. Assim que chegou, logo fez uma chamada de vídeo para Bolsonaro e colocou na linha o presidente para falar com os irmãos bolsonaristas José e Luiz de Arruda. Travou-se a partir dali um inacreditável diálogo durante a gravação de 13 minutos, colocada à disposição da imprensa, em que Bolsonaro tentou convencer os dois a irem ao Palácio do Planalto nesta quinta-feira, para conceder uma coletiva de imprensa, quando deveriam contar a verdade sobre o que aconteceu na noite do crime.
Sem saber de nada, a viúva de Marcelo, Pâmela Suellen Silva, ao ser informada pelos jornalistas, estranhou o interesse do presidente para falar com a família, por um pequeno detalhe: José e Luiz não estavam na festa do irmão.
"O que nós não estamos admitindo, presidente, nessa parte, é a esquerda ficar utilizando meu irmão como palco de politicagem. Isso nós não aceitamos de forma alguma", disse José a Bolsonaro, que aproveitou a deixa: "Com toda certeza, a Gleisi (Hoffmann, presidente do PT) só foi aí no velório para aparecer. Não deixem que a esquerda tire proveito político do episódio".
Com a família Arruda assim dividida, sabendo que a conversa estava sendo gravada, o capitão aproveitou para mandar um recado aos seus seguidores e à imprensa:
"A esquerda diz que meu comportamento e discurso levam a atos como esse (...) Não justifica essa imputação a mim como se eu fosse o responsável pelo que aconteceu. Não justifica isso daí (...)".
Fica difícil dissociar uma coisa da outra, quando o próprio assassino entrou na festa gritando "Aqui é Bolsonaro!", "Morte aos petistas!", segundo todas as testemunhas até agora ouvidas. Luiz e José, como não estavam na festa, não podem servir como testemunhas. O que eles teriam a dizer na entrevista coletiva proposta por Bolsonaro para tentar virar esse jogo?
Depois dessa investida do presidente no caso, pode-se imaginar como estará o clima entre a família na missa de sétimo dia, um microcosmo do país conflagrado desde 2018, quando as divergências políticas começaram a ser decididas na bala.
"Se precisar, iremos à guerra", disse Bolsonaro em junho, como lembrou hoje Bruno Boghossian em sua coluna na Folha.
A guerra já começou, antes da campanha oficial, com palavras, tiros e bombas de fezes em comícios.
Entramos naquela fase do salve-se quem puder.
Vida que segue.
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