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OPINIÃO

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Chance de Lula decidir eleição no 1º turno cai de 25% para 6% em dois meses

 Disputa deve ir para o segundo turno e será disputada voto a voto, com favoritismo de Lula -  O Antagonista
Disputa deve ir para o segundo turno e será disputada voto a voto, com favoritismo de Lula Imagem: O Antagonista

Colunista do UOL

14/08/2022 12h22

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A projeção que está no título desta coluna me foi feita por um dos mais respeitados pesquisadores do mercado eleitoral, em mais de duas horas de conversa em off que tivemos no sábado sobre o cenário do momento, a 50 dias da abertura das urnas.

O que mudou de junho para cá para justificar a diminuição da larga vantagem que Lula tinha sobre Bolsonaro?

Três fatores foram determinantes:

* A vigorosa ofensiva de Bolsonaro no eleitorado evangélico, especialmente as mulheres, com a entrada em cena da primeira-dama Michelle e a participação do casal em Marchas para Jesus e outras celebrações religiosas, que ocuparam boa parte da agenda presidencial neste período.

* O pacote eleitoral aprovado pelo Congresso Nacional para a compra de votos, que segundo este pesquisador já ultrapassou os R$ 400 bilhões no total, em bondades variadas, que começaram a ser distribuídas essa semana, quando foram também divulgados índices de melhora na economia.

* A recuperação dos votos de bolsonaristas arrependidos que tinham procurado a terceira via e não encontraram um candidato competitivo, engrossando a tendência de voto útil.

Até aqui, o presidente não conseguiu tirar votos do ex-presidente, mas nas próximas semanas, com a entrada no ar do horário político gratuito, o objetivo dos bolsonaristas é aumentar a rejeição de Lula, com ataques no campo moral e dos costumes (liberação do aborto, corrupção na Petrobras, controle da mídia, ligações com religiões de matriz africana e até a ameaça do fechamento de templos, que já começou a pipocar nas milícias sociais).

Enquanto Lula se dedica a fechar o maior numero possível de alianças e a concluir o programa de governo, Bolsonaro vai investir na baixaria, com um arsenal de fake news para desestabilizar o adversário na reta final da campanha, repetindo o que seu aliado Fernando Collor fez em 1989.

Ao mesmo tempo em que Lula prega a paz, o amor e a união dos democratas, Bolsonaro quer partir para a guerra religiosa aberta e radicalizar cada vez mais seus seguidores nas ruas e nas milícias digitais, criando um clima de medo, fanatismo e insegurança, em que ele nada de braçada, para buscar a reeleição a qualquer preço, no voto ou na porrada.

A "mamadeira de piroca" lançada pelos bolsonaristas contra Fernando Haddad, em 2018, será fichinha perto do que farão agora, que estão atrás nas pesquisas, e o tempo é cada vez mais curto para reverter os números.

Uma amostra disso já foi dada esta semana com as entrevistas do presidente a youtubers de grande audiência, em que ele falou durante horas as maiores barbaridades, sem ser contestado, nem punido pela Justiça Eleitoral, um dos alvos dos seus ataques.

Mesmo com essa disparidade de propostas e de métodos, e todo o arsenal de propaganda negativa preparada pelos bolsonaristas, o mesmo pesquisador aposta na vitória de Lula no segundo turno, mas por uma margem menor do que a imaginada dois meses atrás. Nos cálculos dele, será voto a voto, pau a pau.

Pesquisas qualitativas mostram que hoje o medo de que Bolsonaro continue ainda é maior do que o de Lula voltar ao governo.

À pergunta sobre qual dos dois mereceria uma segunda chance, a maioria dos entrevistados apontou o nome de Lula.

O antibolsonarismo que cresceu durante a pandemia ainda é maior do que o antipetismo gerado pela Lava Jato em 2018.

Todas essas variáveis serão testadas nas pesquisas quantitativas que serão divulgadas na próxima semana pelos três principais institutos - Datafolha, Ipec (antigo Ibope) e Quaest - que poderão clarear melhor as tendências das curvas para as seis semanas que ainda faltam até a eleição.

Com 70% dos votos já consolidados entre Lula e Bolsonaro, restam 30% de votos flutuantes, que decidirão a disputa de outubro.

Num país imprevisível como o nosso, o campo está aberto, e nada pode ser dado como definitivo. Sempre pode acontecer uma facada, ou coisa pior, no meio do caminho.

A única coisa certa é que não sofreremos de tédio até o dia 2 de outubro. Preparem-se para fortes emoções.

Bom domingo dos pais.

Vida que segue.