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Balaio do Kotscho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Divisão: pobre, mulher, preto e católico X evangélico, homem, branco e rico

20.ago.2022 - Vista aérea do comício de Lula no Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo: campanha chega às ruas - Reprodução
20.ago.2022 - Vista aérea do comício de Lula no Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo: campanha chega às ruas Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

20/08/2022 13h41

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Pesquisa após pesquisa, consolida-se a divisão do eleitorado entre os dois candidatos a presidente que restaram na disputa.

De um lado, com Lula, estão os pobres, pretos, mulheres, nordestinos e católicos.

De outro, com Bolsonaro, estão os evangélicos, brancos, quem ganha mais e o agronegócio do Centro-Oeste/Norte.

Como o primeiro contingente é bem maior do que o segundo, o ex-presidente leva grande vantagem sobre o atual presidente em todas as pesquisas, desde o início do ano eleitoral (no último Datafolha, 47 a 32).

Os números podem variar de uma pesquisa para outra, mas a clivagem da tendência dos eleitores por um ou outro lado se mantem praticamente inalterada.

Na edição deste sábado, a Folha publica o quadro "Lula X Bolsonaro por grupo" com as intenções de voto de cada candidato por região, nível de renda, raça e religião, que confirma esta divisão do eleitorado.

Aos números:

* Por região: Lula vence Bolsonaro no Nordeste (57% a 24%), Sudeste (44% a 32%) e Sul (43% a 39%). Bolsonaro só está na frente no Centro-Oeste/Norte (43% a 39%), onde predomina o agronegócio.

* Por nível de renda: Lula abre ampla vantagem na faixa até 2 salários mínimos (55% a 23%), justamente onde se concentram os beneficiários do Auxílio Brasil e a maior parte da população. Em todas as outras, entre quem ganha mais, Bolsonaro está na frente: de 2 a 5 salários mínimos (41% a 38%), de 5 a 10 (47% a 34%) e acima de 10 (43% a 40%).

* Por raça: entre brancos, há empate técnico, 40% para Lula e 38% para Bolsonaro; Lula dispara entre pardos 48% a 33%) e pretos (60% a 19%), que cosngtituem mais da metade da população.

Por religião: Bolsonaro ampliou sua vantagem entre evangélicos (49% a 32%) e Lula vence entre os católicos (52% e 27%).

Não há nenhuma grande novidade nestes números. Na campanha eleitoral, o presidente e o ex-presidente colhem o que plantaram em seus governos e se torna inevitável a comparação de prioridades de um e outro. .

O ponto fora da curva no último Datafolha foi o salto de Bolsonaro no eleitorado evangélico (10 pontos percentuais entre maio e agosto), que constitui um terço da população, e ao qual tem dedicado a maior parte da sua agenda nos últimos meses, além da artilharia de fake news sobre o fechamento de templos se o PT vencer, na guerra santa entre "o bem e o mal", deflagrada pela primeira-dama Michelle.

De outro lado, o "pacote de bondades" das PECs eleitorais não fez ainda o efeito esperado pelos bolsonaristas, já que Lula continua bem à frente entre os mais pobres, que recebiam o Bolsa Família, agora rebatizado de Auxílio Brasil.

Em outro levantamento da mesma pesquisa Datafolha, o jornal publica hoje um gráfico sobre qual candidato está mais preparado para combater os sete problemas capitais que mais afligem os brasileiros. Em todos os casos, Lula é visto como o mais preparado para enfrentá-los:

Para combater a pobreza (54% a 27%), a fome (54% a 27%) e o desemprego (50% a 29%); para cuidar da saúde (44% a 28%), da educação (43% a 29%) e do meio ambiente (42% a 26%); para fazer o país crescer (47% a 31%).

Também aqui a clivagem é clara: enquanto na pesquisa geral Lula é apontado como o mais qualificado para fazer o país crescer, no recorte dos evangélicos os números se invertem: (47% a 33% para Bolsonaro).

Isso revela não só a força de bispos e pastores evangélicos para conduzir suas ovelhas, mas também que o Brasil está deixando de ser um país laico, com o crescimento geométrico das denominações neopentecostais, beneficiadas por Bolsonaro com isenções fiscais e emendas do orçamento secreto distribuídas a parlamentares da "bancada da bíblia".

A tal "guerra santa", que de santa nada tem, defendida pelo casal Jair e Michelle Bolsonaro, na verdade, tem um lado só, pois não há nenhuma reação de outras religiões a esse avanço que se acentuou no atual governo.

A 43 dias da eleição, as campanhas agora ganham as ruas e, a partir do dia 26, entram no ar os programas eleitorais no rádio e na TV, onde a disputa vai se acirrar ainda mais.

Ameaças golpistas à parte, que já estão refluindo, as três grandes pesquisas divulgadas na última semana deixaram em aberto apenas se a decisão se dará no primeiro ou no segundo turno; em ambos os casos, com ampla vantagem do petista, que faz hoje seu primeiro grande comício em São Paulo, no Vale do Anhangabaú. Ainda não há comícios confirmados pela campanha bolsonarista.

Vida que segue.

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