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Balaio do Kotscho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Dar gasolina de graça? O que falta o governo fazer para mudar as pesquisas?

 Novas pesquisas frustram Bolsonaro: no debate na TV Bandeirantes, mais uma oportunidade perdida para reagir  -  O Antagonista
Novas pesquisas frustram Bolsonaro: no debate na TV Bandeirantes, mais uma oportunidade perdida para reagir Imagem: O Antagonista

Colunista do UOL

30/08/2022 11h30

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Os estrategistas e interlocutores sem nome do Palácio do Planalto devem estar quebrando a cabeça a esta hora para entender por quais motivos, que diabos!, pesquisa após pesquisa, o cenário não muda, a 33 dias da eleição, como se os números tivessem sido congelados.

Como é que depois de jogar bilhões e bilhões na praça, com as PECs eleitorais para a compra de votos, baixar os preços dos combustíveis na marra, promover motociatas por onde passa, ir a mil cultos e marchas evangélicas, liberar armas para todos, cruzar o país de norte a sul toda semana, oferecer empréstimos consignados e anistiar dívidas, participar de tantas sabatinas, entrevistas, debates e podcasts, o presidente Bolsonaro não consegue sair do segundo lugar, onde está empacado desde o início da campanha, oscilando sempre dentro das margens de erro?

A resposta pode estar na Média Estadão Dados, um agregador de todas as pesquisas dos últimos seis meses, divulgado hoje. O levantamento mostra um cenário consolidado, com 45% para Lula e 33% para Bolsonaro.

São praticamente os mesmos números e a mesma diferença da mais recente pesquisa Ipec (ex-Ibope) divulgados pela Globo na segunda-feira: 44% para Lula e 32% para Bolsonaro.

A única boa notícia para o governo é que diminuíram as chances da eleição ser decidida no primeiro turno, mas elas ainda existem. Assim como no compilado do Estadão, o Ipec também mostra Lula com mais intenções de votos totais do que os adversários somados (44% a 43%), o que resulta em 51% dos votos válidos.

Como previu Mauro Paulino, ex-diretor do Datafolha e hoje comentarista da Globo, essa pequena margem deverá se manter até a véspera da eleição, quando poderá ser decisivo o papel do "voto útil", para garantir ou evitar o segundo turno, a não ser que o "Sobrenatural de Almeida" do Nelson Rodrigues provoque algum fato novo imprevisível (em 2018, foi a facada de Juiz de Fora).

"O agregador de pesquisas eleitorais do Estadão usa dados dos levantamentos de 14 empresas, considerando suas peculiaridades metodológicas, para calcular a Média Estadão Dados - o cenário mais provável da disputa a cada dia. A média de cada candidato não é a simples soma dos resultados e divisão pelo número de pesquisas. O agregador controla diversos parâmetros e dá pesos diferentes aos levantamentos para impedir que números destoantes ou desatualizados puxem um dos concorrentes para cima ou para baixo", explica a matéria do jornal.

O levantamento leva em conta a forma como os dados são coletados que tem influência significativa nos resultados. "Na média, pesquisas telefônicas tendem a subestimar a taxa de intenção de votos do ex-presidente Lula e a superestimar a do presidente Bolsonaro. É possível que isso aconteça porque sondagens feitas por telefone tenham mais dificuldades de aferir a opinião dos mais pobres - segmento em que o petista se sai melhor".

Por isso, institutos como o Datafolha e o Ipec entram no agregador com status de "padrão ouro", por seu desempenho em eleições passadas. Empresas que tiverem os resultados ou linhas de tendência mais distantes do "padrão ouro" terão o peso reduzido no resultado final.

Nos inúmeros "recortes" apresentados pelos institutos, baseiam-se os comentaristas de pesquisas para mostrar quem subiu e quem desceu em cada um deles, mas com as oscilações dentro da margem de erro, ao final das contas, no frigir dos ovos, continua tudo do mesmo tamanho.

Diante disso, o que os estrategistas civis e militares de Bolsonaro ainda podem fazer? Oferecer gasolina e comida de graça para todos? Dar um "voucher" para comprar picanha e cerveja no fim de semana? Anistiar todas as dívidas dos 67 milhões de brasileiros inadimplentes? Transformar o capitão num estadista, que prega a paz e o amor, defende as mulheres e as minorias, preocupado com a fome e a pandemia? Mas como fazer isso, se ele mesmo diz que no Brasil ninguém passa fome e o coronavírus era só uma "gripezinha" a ser curada com cloroquina e imunidade de rebanho?

Não custa tentar, mas desconfio que agora seja tarde demais para mudar o figurino presidencial. Não adianta xingar os números, atacar os institutos de pesquisa, ameaçar os mensageiros das más notícias. Isso não vai mudar a dura realidade.

Vida que segue.