Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Bolsonaro joga tudo no 7 de Setembro, mas já perdeu a guerra que não houve
![Bolsonaro esperneia, ameaça melar o jogo, mas o Brasil caminha em paz para a festa democrática de 2 de outubro. Agora falta pouco - EPA/Joedson Alves](https://conteudo.imguol.com.br/c/noticias/0f/2020/06/17/bolsonaro-respondeu-ministro-fux-em-uma-nota-com-o-vice-hamilton-mourao-e-o-ministro-da-defesa-fernando-azevedo-afirmando-que-os-militares-nao-aceitam-tentativas-de-tomada-de-poder-1592391358241_v2_900x506.jpg)
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Bolsonaro fez de tudo para transformar a campanha eleitoral num campo de batalha entre o "bem" e o "mal", o céu e o inferno, Deus e o diabo.
Desafiou as urnas eletrônicas e a Justiça Eleitoral; ameaçou com a "volta do comunismo"; arrombou as contas públicas para comprar os votos que lhe faltam; insinuou que tinha o apoio das Forças Armadas para um dar um autogolpe em caso de derrota; pintou e bordou ao arrepio das leis, do bom senso e da civilidade.
Mas setembro chegou, e não houve guerra nenhuma.
Empacado nas pesquisas e com seu governo rejeitado por mais de metade da população, Bolsonaro agora joga sua última cartada no 7 de Setembro, com aviões, navios de guerra, tanques e canhões abrilhantando seu comício bélico na praia de Copacabana para demonstrar uma força que já não tem.
Mesmo que leve batalhões de fanáticos devotos às ruas, enrolados em bandeiras e gritando "Mito!", ele sabe que já perdeu as mínimas condições de continuar governando o país. Desmoralizou-se antes da abertura das urnas, e levou de roldão setores das Forças Armadas. Virou uma caricatura de si mesmo, apequenou-se no delírio de aprendiz de ditador bananeiro.
Nenhuma motociata, por mais monstruosa que seja, será capaz de lhe devolver o respeito da maioria população e do mundo civilizado.
As denúncias das reportagens publicadas no UOL esta semana sobre o império imobiliário dos Bolsonaros, construído à base de "rachadinhas", chocolates e muito dinheiro vivo, tiraram-lhe das mãos a bandeira do combate à corrupção, a última que lhe sobrou na patética campanha reeleitoral.
Se não consegue nem administrar as milícias digitais da família, sobre as quais perdeu o domínio por falta de pagamento, o que o capitão teria a oferecer ao país para permanecer mais quatro anos no Palácio do Planalto, incapaz de apresentar um único plano de governo?
Resta-lhe daqui para a frente apenas espernear, jogar lama nos adversários, nos juízes e nas mulheres, correr de palanque em palanque feito um celerado, bradando aos céus, para manter fiéis os convertidos que ainda não o abandonaram, depois de quase quatro anos de desgoverno. Nem as imprecações de Michelle e dos Malafaias da vida serão capazes de reverter este cenário.
Agora falta apenas um mês para a eleição, mas parece uma eternidade, eu sei, depois de tudo que já passamos.
Ficaram para trás apenas os destroços do que já foi um grande e respeitado país; as árvores derrubadas, os rios poluídos de mercúrio dos garimpos e as matas queimadas da Amazônia para dar lugar aos pastos; o colapso na educação e na saúde; a cultura perseguida e degradada; a destruição das políticas públicas para promover a inclusão e a igualdade social; as massas de miseráveis dormindo nas ruas; a matança de favelados, indígenas e negros; a volta do Brasil ao Mapa da Fome.
Até onde minha vista alcança, no entanto, nada impedirá que em 2 de outubro viveremos uma grande festa da democracia, aconteça o que acontecer no dia 7 de setembro. Vamos virar a página desse capitulo triste da nossa história. Dias melhores virão.
Vida que segue.
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