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OPINIÃO

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Perdido por um, perdido por dez, Bolsonaro e Ciro se unem para alvejar Lula

Jair Bolsonaro frente a frente com Ciro Gomes: unidos contra Lula . - Renato Pizzutto/Band
Jair Bolsonaro frente a frente com Ciro Gomes: unidos contra Lula . Imagem: Renato Pizzutto/Band

Colunista do UOL

16/09/2022 15h07

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A 15 dias da abertura das urnas, está acontecendo um fenômeno curioso na campanha eleitoral: os dois candidatos que, em tese, disputam a segunda vaga no segundo turno, adotaram o mesmo discurso furibundo contra o inimigo comum, que lidera as pesquisas por larga margem, sem sinais de mudança à vista no cenário congelado das pesquisas.

Parece até que desistiram de disputar a eleição. Ao fazer de tudo para assustar os eleitores, em vez de conquistá-los, Jair Bolsonaro e Ciro Gomes se dedicam agora apenas a atacar Lula e o PT, com um arsenal de denúncias requentadas, como se ainda estivéssemos em 2018.

Normal seria que o terceiro colocado nas pesquisas lutasse para tomar o lugar daquele que está em segundo, mas não é o que acontece. O alvo preferencial de Ciro, assim como o de Bolsonaro, é o ex-presidente. Virou uma questão pessoal: a disputa é para ver quem dará o golpe mais baixo, a bala de prata mais capaz de provocar um fato novo na campanha.

Até aqui, nada deu certo. Só queria entender qual é a estratégia dos dois, já que o tempo conspira contra eles a cada dia que passa.

No caso de Bolsonaro, só pode ser o de sair como vítima, se a sua candidatura for impugnada pela Justiça Eleitoral, tantos são os crimes que ele vem cometendo por abuso do poder político e econômico, colocando toda a estrutura do governo a serviço da sua campanha.

Ou, então, caso se confirme a sua derrota, provocar uma grande confusão, se possível, uma convulsão social, sob o pretexto de que as urnas foram fraudadas pela Justiça Eleitoral, por não ter obedecido às regras estabelecidas pelas Forças Armadas - e, então, voltar ao Planalto com plenos poderes, para restabelecer a ordem.

Fica cada vez mais claro que o presidente não quer apenas um novo mandato, cada vez mais difícil de conseguir, mas assumir de vez o papel de salvador da pátria, da família e da propriedade, ameaçadas pelos "comunistas".

Assim como não quer apenas derrotar Lula, mas extirpá-lo da vida pública, como anunciou no comício cívico-militar de Copacabana, na pajelança do 7 de Setembro, Bolsonaro sonha com o poder absoluto.

Mais difícil é entender aonde Ciro quer chegar. Ao perceber que não tinha como tirar de Lula a hegemonia no campo da esquerda, foi mais para o centro, avançou para a direita e agora disputa espaço com Bolsonaro na extrema-direita, mais uma batalha perdida.

Por que será que Ciro anda cada vez mais sorridente e confiante em suas aparições públicas, cercado de pouca gente e sempre com os braços erguidos em triunfo, se a cada pesquisa ele sobe um ponto, cai um ponto, e nunca chega aos dois dígitos, como em eleições anteriores?

Corre o risco de sair da campanha menor do que entrou e, apesar de já ter prometido várias vezes que esta será a sua última campanha, ninguém acredita muito nisso. Ciro deve estar pensando desde já com que roupa se apresentará em 2026, depois de já ter experimentado tantos partidos e figurinos diferentes.

Tanto ele como Simone Tebet, ou seja, o que restou da terceira via, sabem que eles serão apenas os fiéis da balança para definir se teremos ou não segundo turno.

Se houver, é certo que Bolsonaro e o bolsonarismo sobreviverão, qualquer que seja o resultado, porque já mostraram ao país a força da extrema-direita, algo inimaginável antes da eleição de 2018.

O Brasil das catacumbas da ditadura militar mostrou a sua cara, empoderada que foi nesse governo, que lhe deu voz e voto. Mas, se a eleição for decidida no primeiro turno, esta força certamente será menor, residual.

Neste caso, em 2026, pode ser que ninguém mais fale em Bolsonaro, Tebet ou Ciro porque novas lideranças certamente surgirão.

Por isso, acredito que Lula, até pela sua idade, caso vença a eleição no primeiro turno, o que ainda é possível, fará um governo de transição para reunificar o país num governo suprapartidário em torno de um projeto comum de reconstrução nacional.

É isso que estará em jogo no dia 2 de outubro. Falta pouco. A escolha não será tão difícil, como mostram todas as pesquisas, pois se dará, não entre dois candidatos, mas entre dois projetos de país. Um, voltado para o futuro. Outro, apegado ao passado de triste memória.

Vida que segue.

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