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OPINIÃO

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Triste fim: o síndico Rodrigo Garcia entrega a Bolsonaro o espólio do PSDB

Tarcísio de Freitas e Rodrigo Garcia: de adversários a novos aliados - Reprodução
Tarcísio de Freitas e Rodrigo Garcia: de adversários a novos aliados Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

04/10/2022 14h08

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Dos tempos de glória da social-democracia no poder, com líderes como Fernando Henrique Cardoso e Mário Covas, nada restou.

O velho PSDB já vinha definhando a cada eleição, desde o golpe engendrado por Aécio Neves contra Dilma Rousseff, que abriu as portas do poder para Bolsonaro e acabaria transformando o partido em mais um nanico. Saiu desta eleição com uma bancada federal menor do que a do PSOL.

A pá de cal será jogada hoje à tarde, em São Paulo, onde o partido nasceu, quando Rodrigo Garcia, o último síndico da massa falida tucana, entregar as chaves, de porteira fechada, para o presidente Jair Bolsonaro, com pompa e circunstância. Só falta João Doria também aparecer na cerimônia fúnebre.

Ninguém deve ficar feliz com isso. Fará falta ao Brasil um partido da direita liberal, que foi engolido pela extrema-direita bolsonarista na eleição de 2018, quando teve menos de 5% dos votos. Depois de protagonizar a hegemonia com o PT por um quarto de século, a social-democracia sai de cena.

A decisão de Garcia, um político obscuro, egresso do PFL/DEM, agora União Brasil, de apoiar Tarcísio de Freitas, para governador, e Bolsonaro, para presidente, no segundo turno, veio logo depois da declaração de apoio a Lula dada por Tasso Jereissati, o único cacique tucano da velha guarda ainda em atividade.

O melancólico fim do reinado do "Tucanistão", que ficou fora do segundo turno em São Paulo pela primeira vez em 30 anos, já era esperado desde que João Doria, o padrinho do síndico, abandonou a candidatura presidencial e foi cuidar da vida dele.

Na disputa entre os candidatos de Lula, Fernando Haddad, e Bolsonaro, Tarcísio de Feitas, em São Paulo, Garcia, que era vice de João Doria, ficou solto no espaço, apanhando dos dois lados, sem esboçar qualquer reação.

Ainda na segunda-feira, a campanha de Haddad chegou a procurar interlocutores do PSDB para uma possível aliança, mas o governador não quis nem saber de conversa.

Sem partido e sem futuro, o síndico e os herdeiros do espólio agora só pensam em garantir com os novos donos algumas "boquinhas" que ocuparam durante tanto tempo no Palácio dos Bandeirantes.

Com tantos apoios, depois que o governador Romeu Zema, do Novo, também fechou negócio com o bolsonarismo nesta manhã de terça-feira, o presidente agora só pensa em ganhar mais votos. Não quer mais nem ouvir falar em golpe, urnas eletrônicas, Justiça Eleitoral e Alexandre de Moraes, o ministro do TSE elevado à condição de inimigo número um do projeto de reeleição.

Bolsonaro parece disposto a passar um "tratoraço" no que restou do sistema político-partidário do país, completando o serviço iniciado pela Lava Jato, que o PSDB apoiou no início, e depois também acabou atropelado pela operação quando pegaram Aécio Neves em flagrante.

Mais adiante, a depender do resultado final das urnas, o presidente poderá começar a pensar na formação de um partido único, ou quase isso, que já vem sendo gestado pelo Centrão, com a fusão do Partido Progressista de Arthur Lira e Ciro Nogueira e o União Brasil de Luciano Bivar e ACM Neto para fazer frente ao empoderado Partido Liberal, cevado por Valdemar Costa Neto e Bolsonaro.

Afinal, nada diferencia esses partidos e seus patronos. O novo nome poderá ser simplificado para Unidos do Centrão ou Partido do Poder Bolsonarista, o que vem a dar no mesmo Quem vai querer encarar?

Pelo jeito, neste segundo turno, o capitão resolveu dar adeus às armas e entrar para valer no mercado de votos. Paulo Guedes que prepare o cofre.

Vida que segue.