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OPINIÃO

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Jornalistas 'isentos' querem ensinar Lula sobre o que ele deve ou não fazer

Luiz Inácio Lula da Silva (PT), acompanhado da primeira-dama, Rosângela Lula da Silva, Janja, durante café da manhã para jornalistas, que voltaram a ter portas abertas no Palácio do Planalto: a relação mudou - WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO
Luiz Inácio Lula da Silva (PT), acompanhado da primeira-dama, Rosângela Lula da Silva, Janja, durante café da manhã para jornalistas, que voltaram a ter portas abertas no Palácio do Planalto: a relação mudou Imagem: WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO

Colunista do UOL

15/02/2023 12h16

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Fico impressionado com a quantidade de jornalistas ditos "isentos" e "apartidários" que agora resolveram prestar consultoria voluntária ao presidente Lula, ensinando-o todo dia sobre o que deve ou não fazer no governo, como se ele fosse um aprendiz de presidente da República.

Muitos deles se esquecem ou fingem não se lembrar que Lula já governou o país por 8 anos, saindo do Planalto com 83% de aprovação popular, inflação sob controle e desemprego cadente, o que o coloca sempre em primeiro lugar no ranking do Datafolha dos melhores presidentes da nossa história republicana.

É só dar uma olhada na empáfia de certos colunistas da mídia impressa, dos portais e da TV (alguns acumulam várias plataformas) para ver a sem-cerimônia com que tratam o presidente da República, contestando todos os seus atos passados, presentes e futuros.

Não importa o assunto, Lula para eles está sempre errado, "queimando o capital político" conquistado na eleição de outubro.

É um tal de o governo do petista dar tiro no pé, assustar o mercado, jogar para a torcida, não cumprir promessas da campanha, criar crises e arestas na base aliada, falar o que não deve, ignorar a realidade e as leis da física, como se já estivesse na reta final do mandato, e não no seu início. São os mesmos jargões e deboches já empregados em outros carnavais.

Ao contrário da tradição de preservar o período de lua de mel após a posse, uma trégua de 100 dias para o novo presidente, que até Jair Bolsonaro teve, desta vez viúvos e viúvas da imprensa tucano-lavajatista já aderiram ao "esfola Lula" e caíram matando, com apenas 45 dias do novo governo, que passou a maior parte do tempo até agora só apagando incêndios e desmontando arapucas dos golpistas e/ou genocidas.

Editorialistas furibundos fazem lembrar a época da ofensiva final até a derrubada de Dilma, em 2016, e do auge da Lava Jato até a prisão de Lula, como se nesse meio tempo não tivéssemos sido governados pelo pior presidente da história, que entregou o país em frangalhos, desmoralizado internacionalmente, com 33 milhões passando fome e crianças e velhos indígenas morrendo por inanição ou envenenados por mercúrio.

Vai levar algum tempo até se fazer o completo inventário da destruição do país, em todas as áreas da vida nacional, e podermos iniciar um doloroso processo de reconstrução, com a carência de recursos e a oposição do "independente" presidente do Banco Central, herdado do candidato à reeleição derrotado, que quer manter a mesma política econômica de Paulo Guedes. Se assim tem que ser, para que então existe alternância do poder?

Por pequena margem de diferença de votos, é verdade, mas o povo brasileiro fez uma clara opção no dia 30 de outubro, ao eleger Lula, com um programa social-democrata, o oposto do monstrengo "liberal na economia e conservador nos costumes" do governo findo.

A exemplo dos bolsonaristas mais devotados à seita, os coleguinhas "isentões" simplesmente não se conformam que o poder mudou de cara no Brasil desde o dia 1º de janeiro, quando deixou de ser governado por setores do mercado, das Forças Armadas, da mídia conservadora e das igrejas evangélicas. Só o Congresso Nacional não mudou, ao contrário, ficou ainda mais conservador do que era em 2003, no primeiro governo Lula, com a oposição então liderada pelo antigo PSDB de FHC.

Hoje, a oposição vai de Sergio Moro a Damares Alves, de Ricardo Salles ao general Mourão, patriotas que nem existiam no noticiário em 2003 e subiram ao palco na onda bolsonarista de 2018, que tirou a extrema-direita dos armários.

Claro que Lula e seus ministros não estão isentos de críticas, como qualquer governo, mas há maneiras e maneiras de contestar o poder, com fatos e argumentos. Motivos certamente não faltam. É preciso levar em conta, no entanto, todo o contexto em que Lula assumiu, depois de quatro anos de destruição em massa dos alicerces nacionais, rombos nas contas públicas, tentativas golpistas e o massacre do povo yanomami em Roraima.

Seria bom também reconhecer que, em apenas um mês e meio de governo, Lula já fez mais para elevar a imagem do Brasil no mundo do que o capitão em quatro anos, antes da fuga pela porta dos fundos para os Estados Unidos, onde se encontra até hoje.

Não se trata de ser a favor ou contra o governo, mas apenas de ser justo e informar com honestidade, e não de escrever ou falar somente em busca de cliques e audiência, desafiando a lógica e o bom senso.

Calma, ainda temos muito governo Lula pela frente. Guardem a munição e o pessimismo para dias melhores.

Vida que segue.