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Pegaram Jair com mão na botija, e Michelle debocha: "Eu tenho tudo isso?"
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O que falta ainda para tirar o ex-presidente de circulação e levá-lo aos tribunais? Dois meses depois de abandonar o país, Bolsonaro não saiu ainda das manchetes do noticiário policial por crimes variados contra o Estado de Direito e a democracia, que vão de genocídio e tentativa de golpe até contrabando de diamantes, no valor de R$ 16,5 milhões, como ficamos sabendo agora em explosiva reportagem do Estadão publicada na noite desta sexta-feira.
"Quer dizer que eu tenho tudo isso e não estava sabendo? Meu Deus! Vocês vão longe mesmo hein?! Estou rindo da falta de cabimento dessa impressa vexatória", assim mesmo (mantida a grafia original), com deboche, reagiu no Instagram a ex-primeira-dama Michelle, destinatária das joias dadas de presente pelo governo da Arábia Saudita ao casal Bolsonaro, apreendidas pela Receita Federal no aeroporto de Guarulhos, em 2021.
O que mais chama a atenção neste escândalo não é nem o envolvimento do casal presidencial e o valor das joias, mas a operação militar montada para, primeiro, trazer o contrabando e, depois, tentar resgatá-lo da alfândega sem pagar impostos e multas previstos em lei.
Foram usados como "mulas" (pessoas que transportam produtos contrabandeados para terceiros) um almirante-de-esquadra da Marinha, Bento Costa Lima de Albuquerque Júnior, então ministro das Minas e Energia, e seu ajudante de ordens, sargento Marcos André Soares, que trouxe os diamantes escondidos numa mochila quando foram descobertos pela alfândega.
Bento Albuquerque ainda tentou dar uma "chave de galão" no inspetor da Receita, na base do "sabe com quem está falando?", para liberar a muamba, sem declarar as joias e pagar o devido, contrariando a legislação, mas não obteve sucesso _ e teve início a novela policial que envolveu outros militares, ministros e até o próprio presidente da República. A cena do ministro na alfândega foi gravada pelas câmeras de segurança do aeroporto.
No dia 29 de dezembro de 2022, na véspera de deixar o país para o autoexílio na Flórida, Bolsonaro mandou de Brasília um jato da FAB para levar a Guarulhos o sargento Jairo Moreira da Silva, chefe da Ajudância de Ordens da Presidência da República, com ordens expressas para resgatar os diamantes e trazer em mãos o tesouro árabe doado a Michelle,
O funcionário da Receita Federal que atendeu o sargento recusou-se a cumprir a ordem presidencial e dispensou o emissário. Este é o único herói dessa história, cujo nome ainda não foi revelado, mas que bem mereceria ser condecorado pelo ato patriótico (esse, sim, de verdade).
Em declaração ao Globo, Bento Albuquerque ainda tentou desmentir a sua versão sobre o episódio dada ao Estadão, confirmando tudo e alegando que não sabia o conteúdo da encomenda que estava trazendo, mas a entrevista foi gravada. Na nova versão, o almirante diz que as joias no valor de 3 milhões de euros (R$ 16,5 milhões) foram "devidamente incorporadas ao acervo oficial brasileiro", o que não é verdade.
A muamba presidencial continua apreendida na alfândega de Guarulhos e não será mais oferecida em leilão de produtos retidos pela Receita por sonegação de impostos, como se planejavas.
Na manhã deste sábado o ministro da Justiça, Flávio Dino, deu-lhe outro destino, para apurar as responsabilidades pelos crimes cometidos:
"Fatos relativos a joias, que podem configurar os crimes de descaminho, peculato e lavagem de dinheiro, entre outros possíveis delitos, serão levados ao conhecimento oficial da Polícia Federal para providências legais. Ofício seguirá na segunda-feira", escreveu o ministro nas redes sociais.
Além de esculhambar com o cargo de presidente da República do Brasil, o capitão Bolsonaro conseguiu arrastar junto com ele militares de variadas patentes, como cumplices de seus diferentes delitos que são alvos de processos na Justiça, culminando agora com o contrabando fracassado do tesouro árabe que Michelle desconhecia até ontem.
Se não eram para ela, para quem seriam as joias, então? Homens, ao que eu saiba, não costumam usar colares de diamantes.
Vida que segue.
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