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Balaio do Kotscho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Moro volta aos holofotes, agora no papel de vítima de ataque que não houve

O senador Sergio Moro (União Brasil-PR) - Pedro França/Agência Senado
O senador Sergio Moro (União Brasil-PR) Imagem: Pedro França/Agência Senado

Colunista do UOL

22/03/2023 17h59

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É tudo tão surreal na nossa política, que o sumido senador Sergio Moro, o ex-"herói nacional" e ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, aproveitou uma infeliz coincidência de fatos, para voltar aos holofotes, levado nos braços da mídia lavajatista, que até hoje não se conforma com a vitória jurídica e política do presidente Lula sobre o ex-juiz, decretada pelo Supremo Tribunal Federal.

Na véspera, em entrevista ao portal Brasil 247, Lula chorou ao lembrar do seu tempo de prisão e, ao desabafar sua mágoa, num ato de incontinência verbal, xingou Moro de "merda".

Foi o que bastou para que hoje, logo cedo, o seu carrasco fosse ao Twitter para acusar Lula de colocar em risco a vida da sua família, quase no mesmo momento em que o Globo publicava a reportagem sobre os ataques que estavam sendo planejados pelo PCC contra Moro e outras autoridades, misturando tudo num balaio só, no melhor estilo do metaverso bolsonarista em que vale a versão, não o fato.

O fato concreto é que, diante de denúncias sobre a organização criminosa, que vinham desde janeiro, a Polícia Federal, sob o governo Lula e o comando do ministro da Justiça, Flávio Dino, deu toda segurança à vida de Moro e sua família, antes de deflagrar uma operação em cinco estados para prender os envolvidos no planejamento dos atentados.

Uma coisa não tinha nada a ver com a outra, mas foi o que bastou para que os bolsominions, em baixa nas redes sociais, mobilizassem o seu "gabinete do ódio" para acusar Lula de se mancomunar com o PCC para atacar Moro, no que foram acompanhados por parlamentares de oposição, logo dispostos a pedir o impeachment do presidente.

Sergio Moro, como sabemos, é o melhor marqueteiro dele mesmo, apesar da oratória mambembe, um produto midiático que ganhou fama internacional ao fazer uma joint-venture com alguns profissionais da imprensa, em nome do combate à corrupção e, como se soube mais tarde, na defesa de interesses políticos e econômicos particulares e de terceiros.

Declarado incompetente e suspeito para julgar os processos de Lula, que foram todos anulados, Moro cobiçou uma vaga no STF com Bolsonaro; depois, rompeu com o capitão, foi trabalhar como consultor de uma multinacional americana ganhando em dólares e, ao voltar para o Brasil, tentou ele mesmo ser candidato a presidente da República contra o seu antigo líder, mas fracassou.

Acabou se elegendo senador pelo Paraná, depois de trocar de partido em meio a acusações mútuas. Saiu do Podemos e hoje está no União Brasil, partido que faz parte da frente ampla e ganhou três ministérios no governo Lula.

Nesta quarta-feira, aproveitou os novos 15 minutos de fama para dar entrevistas e atacar o governo Lula, posando de vítima e tentando se cacifar como um líder do bloco de oposição bolsonarista, que conta com Damares Alves, o general Mourão, Rogério Marinho e outros patriotas.

Ao fazer um balanço do dia, o ministro da Justiça, Flávio Dino, criticou duramente a politização da operação da Polícia Federal contra a facção que ameaçava autoridades, entre elas, o ex-juiz:

"É vil, leviana e descabida qualquer vinculação a esses eventos com a política brasileira. Eu fico realmente espantado com o nível de mau caratismo de quem tenta politizar uma investigação séria. Investigação essa que foi feita em defesa da vida e da integridade de um senador de oposição ao nosso governo".

E eu me pergunto o que aconteceria se fosse o contrário, se esta investigação ocorresse sob o governo Bolsonaro, com Anderson Torres no Ministério da Justiça, e o alvo dos criminosos fosse Lula. Por sua experiência naquele governo, em que denunciou a interferência do então presidente no trabalho da Polícia Federal, Sergio Moro poderia dar essa resposta.

Vida que segue.