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OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Evitar que acontecesse o pior: esse foi o maior feito de Lula em 100 dias

Lula, em café da manhã com jornalistas: "Minha obsessão agora será a retomada do crescimento" - Foto: Rudolfo Lago/Congresso em Foco
Lula, em café da manhã com jornalistas: "Minha obsessão agora será a retomada do crescimento" Imagem: Foto: Rudolfo Lago/Congresso em Foco

Colunista do UOL

06/04/2023 17h41

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No melhor resumo desses 100 dias do terceiro governo Lula, que serão celebrados no Palácio do Planalto na próxima terça-feira, o respeitado jurista Conrado Hübner Mendes escreveu na Folha:

"100 dias de civilidade _ Balanço de erros e acertos do governo Lula não pode perder de vista o essencial".

O essencial, a meu ver, foi ter evitado o pior com a sua vitória em outubro.

A democracia sobrevive, graças à resistência, tendo à frente o presidente Lula, demonstrada pelos três poderes da República ao ataque golpista de 8 de janeiro.

Sobrevivem com saúde os povos indígenas, antes abandonados pelo poder público na Amazônia, sem médicos, remédios, água e comida, encurralados pelos garimpos ilegais que destruíram as matas e os rios enquanto a boiada passava.

Sobrevivem milhões de famílias do Bolsa Família, que corriam o risco de ficar sem o benefício, porque não havia previsão de recursos no orçamento deixado pelo governo anterior.

Sobrevive a soberania nacional, baseada numa política externa ativa e altiva, que recolocou o país nas discussões dos maiores fóruns mundiais.

Sobrevive a cultura brasileira, que começa a renascer das cinzas, com políticas públicas e recursos que vinham sendo sonegados nos últimos anos.

Sobrevive, sobretudo, a esperança de voltarmos a viver em breve num país minimamente normal, em que o governo governa, o Congresso legisla e o Judiciário julga, sem que surja a cada dia uma nova crise entre os poderes.

Nesse breve período de tempo, o governo já apresentou as linhas mestras do seu programa econômico, que vem sendo discutido com toda a sociedade, para conciliar o controle das contas públicas com investimentos na área social e na infraestrutura, para a geração de emprego e renda. Afinal, é para isso que serve um governo.

"O resgate da civilidade e da normalidade possíveis, nesses cem dias, e o esforço de reocupar com competência burocrática um Estado vandalizado pela delinquência autocrática, não podem ficar de fora de qualquer balanço", conclui o artigo de Hübner Mendes, na contramão de uma enxurrada de balanços apressados, que só conseguem ver o copo meio vazio e más intenções no governo.

Ninguém é mais crítico com as ações (ou falta de) do governo, nestes primeiros dias, do que o próprio presidente Lula, porque ele sabe melhor do que nós onde estão as falhas, o que não está funcionando bem e o muito que ainda há por fazer para tirar o país do buraco.

Lula tem pressa, anda muito ansioso para o governo mostrar serviço e fazer as entregas do que prometeu na campanha, mas ele já descobriu que as dificuldades hoje são muito maiores do que as encontradas em 2003, no início do seu primeiro governo.

Uma coisa é receber a faixa presidencial das mãos honradas de um Fernando Henrique Cardoso, após um exemplar período de transição, e outra bem diferente é encontrar os palácios do Planalto e da Alvorada abandonados pelo governo anterior, com a administração pública virada de cabeça para baixo e as contas públicas em frangalhos num terreno minado.

Para corrigir, no entanto, os maiores erros políticos deste período inicial de governo, Lula não pode colocar a culpa em terceiros nem depende de ninguém. Só depende dele mesmo não fazer mais referências ofensivas aos antigos governantes e ao seu algoz de Curitiba, o que só dá palanque para eles.

Alias, todos faríamos bem em seguir esse conselho de falar menos, olhar para a frente e mudar de assunto. Já deu. Tentarei fazer a minha parte, se os fatos assim o permitirem...

Melhor será gastar todo o seu tempo daqui para a frente apenas anunciando os planos de reconstrução do país, apontando caminhos, buscando atalhos e apoios na sociedade, reconhecendo erros e mudando o que for necessário no governo. De nada adianta ficar na beira do campo como um certo técnico do meu tricolor, xingando os jogadores por não cumprirem suas ordens. Tem mais é que trocá-los, com a brevidade possível.

Sabemos que não há grandes craques dando sopa no mercado partidário para melhorar o time de Lula, pois o cenário do Brasil e do mundo é bem diferente daquele dos bons tempos dos seus dois primeiros mandatos. Os problemas são infinitamente maiores e os recursos para superá-los, mais escassos.

Aconteça o que acontecer daqui para a frente, no entanto, só o fato de ter evitado o pior já terá valido a pena a sua eleição.

Vida que segue.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL