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OPINIÃO

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O estranho silêncio do mentor do golpe dentro do golpe com a mão do gato

Jair Bolsonaro ao lado de Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Gilson Machado e Tércio Arnaud Thomaz, em Nashville, no Tennessee - Reprodução/Instagram
Jair Bolsonaro ao lado de Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Gilson Machado e Tércio Arnaud Thomaz, em Nashville, no Tennessee Imagem: Reprodução/Instagram

Colunista do UOL

22/04/2023 11h59Atualizada em 22/04/2023 19h12

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Assim como o Ato Institucional Nº 5, em 1968, ficou conhecido como o golpe dentro do golpe militar de 1964, temos agora, com a criação da CPMI, a tentativa de reedição do golpe dentro do golpe fracassado em 8 de janeiro.

Mas o seu mentor, e principal beneficiário, o sumido ex-presidente que fugiu para os Estados Unidos, estranhamente ainda não apareceu em cena para comentar o assunto no qual ele é o maior interessado.

Bolsonaro continua sendo o sujeito oculto da crise brasileira desde que voltou ao país há três semanas, manipulando seus devotos e liderados à distância, com a mão do gato, como sempre fez. Não deu um pio até agora sobre a manobra aloprada da oposição para culpar o atual governo pela intentona golpista contra o próprio governo.

Na inacreditável versão bolsonarista, tratou-se de um autogolpe, uma operação kamikaze para jogar nas costas da oposição a culpa pela invasão terrorista de Brasília, e assim desgastar a excelente imagem deixada pelo Mito.

O primeiro objetivo os sediciosos já alcançaram: criaram um salseiro no Congresso Nacional, tomaram conta do noticiário e emparedaram o governo, voltando a pautar a mídia amiga, que trata o assunto como se fosse algo normal na disputa política, em que situação e oposição acusam-se mutuamente de responsáveis pelo caos institucional que parece não ter mais fim, apesar da recente alternância no poder.

Desde a exibição daquelas imagens na CNN, mostrando o general Gonçalves Dias, ex-chefe do GS|, mais perdido que cachorro em dia de mudança, enquanto os vândalos destruíam o Palácio do Planalto, as milícias digitais do bolsonarismo, que tinham dado uma folga, voltaram a todo vapor para culpar o "velho amigo do Lula" por tudo o que aconteceu.

Achei que eles não chegariam a tanto, mas me enganei. Apesar de incompetentes, eles são capazes de tudo. Para a nova ofensiva golpista, já estão sendo montadas as tropas de choque na Câmara e no Senado com os bolsonaristas-raiz, tendo à frente o filho Eduardo 03 e o pregador Magno Malta, o ex-chefe da Abin Alexandre Ramagem e outros patriotas. o pirralho Nikolas Ferreira (PL-MG), 26 ,deputado federal mais votado do país e uma estrela do elenco, por enquanto ficará na reserva como suplente.

Bolsonaro mesmo só faz breves aparições em eventos de PL em que aparece por videoconferência para manter a chama dos seus seguidores, a exemplo do que aconteceu sexta-feira Como agora só teremos eleição presidencial em 2026, suas palavras soam como uma ameaça de que ele pretende encurtar este caminho, promovendo um "expurgo" dos adversários:

"É muito importante não deixar o que foi plantado nos últimos quatro anos esquecido. Tentam que eu seja esquecido por parte da política brasileira. Temos muita esperança que o Brasil brevemente voltará ao seu eixo normal com o expurgo daquelas pessoas que nunca fizeram nada pela nossa pátria", bradou o ex-presidente numa conversa com a deputada federal Amália Barros e o estadual Gilberto Cattanoi, ambos do PL de Mato Grosso.

Como assim, "brevemente voltará ao seu eixo normal"? Insuflar a CPMI e botar fogo no circo é o seu único plano de voo no momento, para infernizar a vida do governo, impedindo a aprovação no Congresso das reformas e dos programas necessários para a reconstrução nacional.

Do outro lado, o governo Lula também se prepara para uma guerra parlamentar, que deve começar na próxima semana, com seus quadros mais aguerridos para interrogar quem planejou, financiou e comandou os atos nas estradas e nos quarteis que mobilizaram os batalhões bolsonaristas para o "putsch" de 8 de janeiro.

Por isso, segundo a coluna Painel, da Folha, o deputado federal Rogério Correia (PT-MG) já está pensando em convocar logo o ex-presidente, que vai depor à Polícia Federal na próxima quarta-feira sobre os atos golpistas.

"Com certeza, o ex-presidente Bolsonaro terá de depor na CPMI. Afinal, é o principal mandante da tentativa de golpe após a derrota eleitoral da ultradireita no Brasil", justifica Correia.

Vida que segue.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do informado na primeira versão deste texto, a deputada federal Amália Barros e o deputado estadual Gilberto Cattanoi são do PL de Mato Grosso, não de Mato Grosso do Sul.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL