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Super quarta em Brasília promete: Jair Bolsonaro na PF e CPMI no Congresso

No dia seguinte à invasão e depredação das sedes dos três poderes, ônibus com bolsonaristas presos chegam à sede da Polícia Federal em Brasília - Vinicius Nunes/Colaboração para o UOL
No dia seguinte à invasão e depredação das sedes dos três poderes, ônibus com bolsonaristas presos chegam à sede da Polícia Federal em Brasília Imagem: Vinicius Nunes/Colaboração para o UOL

Colunista do UOL

25/04/2023 18h29Atualizada em 25/04/2023 21h52

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Dois eventos da agenda prometem esquentar o clima político em Brasília nesta quarta-feira. Podem preparar as pipocas e sintonizar desde cedo os canais de notícias.

Pela primeira vez, o ex-presidente Jair Bolsonaro terá que quebrar oficialmente o silêncio sobre os atos golpistas de 8 de janeiro: às 14h30, ele será ouvido pelos delegados da Polícia Federal encarregados do inquérito aberto no Supremo Tribunal Federal.

À tarde, mais ou menos no mesmo horário, se os líderes partidários se entenderem até lá, sessão conjunta do Congresso Nacional deve instalar a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito para apurar as responsabilidades pela invasão e depredação das sedes dos três poderes em Brasília.

Pode ser apenas uma grande coincidência, ou não. O certo é que, nas próximas semanas, e talvez meses, vai ser difícil falar de outro assunto.

Em entrevista no programa Roda Viva de segunda-feira, o senador Ciro Nogueira, ex-ministro da Casa Civil de Jair Bolsonaro, já deu o tom da oposição, ao afirmar que o general Gonçalves Dias, ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), "tinha que estar preso" e a CPMI fará "a máscara cair":

"Não se invade o Palácio do Planalto se não tiver a conivência de quem o protege. Eu acho que o general tinha que estar preso, por aquelas imagens. Um general que está lá, comandando, servir água para invasor? Está envolvido com aquilo ali. O general do GSI que não age, não convoca sua tropa para reprimir..." Quem serviu água não foi o genral, mas um major herdado da tropa de Augusto Heleno, o chefe do GSI no governo anterior.

Desde que foram para o ar pela CNN, na semana passada, as imagens da invasão do terceiro andar do Palácio do Planalto, onde fica o gabinete do presidente, o general GDias, como é chamado, tornou-se o principal alvo dos bolsonaristas, até pela sua proximidade com o presidente Lula, de quem é amigo pessoal há 20 anos.

Até então, o governo Lula tentava evitar a instalação da CPMI para não atrapalhar a pauta parlamentar (questão fiscal, reforma tributária, emprego, economia e projetos para o país). No mesmo tom de Ciro Nogueira, o ministro Flávio Dino, da Justiça e Segurança Pública, resolveu partir para o ataque, em entrevista ao ICL Notícias.

"A oposição fascista fez de tudo, exigia a instalação da CPMI. Tudo bem. Querem a CPMI? Façamos a CPMI nos termos da Constituição e fiel à verdade. A investigação a ser instalada no Congresso é de "enorme importância para que se cumpra aquilo pelo que o governo está lutando: a punição dos responsáveis pelos atos golpistas".

Difícil prever o que Bolsonaro dirá à Polícia Federal, mas pelo que ele tem comentado com seus poucos devotos ainda fiéis, o ex-presidente deverá alegar, em primeiro lugar, que nem se encontrava no Brasil naquele fatídico domingo de janeiro e, portanto, não pode ser culpado de nada.

Desde que Graham Bell inventou o telefone no século 19, a distância não é impedimento para que governantes tomem decisões importantes e estabeleçam planos de combate com seus subordinados. Não há nada que um bom smartphone não possa resolver.

O 8 de janeiro de 2023 começou, na verdade, bem antes, no dia seguinte à eleição de 30 de outubro, quando os bolsonaristas, inconformados com a derrota, não reconheceram o resultado, fecharam as estradas com caminhões e ocuparam as frentes dos quarteis em todo o país, o primeiro ensaio geral da futura tentativa fracassada de golpe.

No dia da diplomação de Lula foi dada mais uma demonstração de força: em 12 de dezembro, tropas de choque bolsonaristas queimaram carros e ônibus, ameaçaram invadir a sede da Polícia Federal, onde Bolsonaro vai depor hoje, e planejaram plantar uma bomba num caminhão tanque próximo ao aeroporto de Brasília.

Os sediciosos nunca esconderam o objetivo de botar fogo no circo para obrigar as Forças Armadas a saírem às ruas para garantir a lei e a ordem. Uma semana após a posse do governo Lula 3, eles partiram para a ofensiva final, que consistia em derrubar o presidente eleito, tomar o poder na marra e devolvê-lo ao capitão, que havia fugido do país dois dias antes da posse para não entregar a faixa ao sucessor, com medo de ser preso.

Como foram para a guerra uniformizados de verde amarelo, carregando bandeiras e faixas pró-Bolsonaro, pelo modus-operandi e pelos gritos de guerra da malta de vândalos, ninguém razoavelmente lúcido tinha a menor dúvida, até a semana passada, de quem eram os responsáveis pelo "putsch" e quem foi seu principal mentor, que voltou ao país sem saber de nada, depois de três meses veraneando na Flórida.

De repente, surgiu uma narrativa alucinada que inundou as redes sociais nos últimos dias, atribuindo o vandalismo a agentes comunistas infiltrados nas manifestações patrióticas, com a conivência dos agentes de segurança do atual governo. Acredite se quiser...

Por incrível que pareça, ainda tem muita gente capaz de acreditar nesta história maluca, contada assim do avesso, em que o réu vira vítima e vice-versa. Provas? Para quê? O que importa é a convicção, como diria aquele juiz.

Preparem seus corações. Vai começar o grande espetáculo de ilusionismo caboclo, algo que nem Gabriel Garcia Márquez poderia imaginar.

Vida que segue.